94
Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2002
“Regulaçãoéalgo
queseleva
queseleva
décadaspara
aprendera fazer
direito.”
sileiros sejam a favor da democra-
cia. Quanto à intervenção do Esta-
do na economia, o Brasil tem feito
enormes progressos na direção
oposta – tem reduzido a presença
do Estado, tem privatizadomaciça-
mente e está passando para um
modelo de Estado regulador, ao in-
vésdeEstado “fazedor”.Oqueacho
altamente positivo. O problema é
queaindaestamosno iníciodanos-
sa experiência e do nosso aprendi-
zado. Regulaçãoéalgoque se leva
décadas para aprender a fazer di-
reito. Ou se regula demais, ou de
menos, ou se regula mal. Enfim, é
precisoadquirir experiência.Apráti-
ca da regulação exige – como exi-
gem as práticas da democracia, ou
do pugilismo – treino, experiência.
Eestamosno iníciodanossa jorna-
da de regulação, diria que no bom
caminho.Achoqueaté começamos
melhor do que se poderia esperar.
FG–Oneoliberalismo– frutodes-
saorientaçãoparaomercado–está
emxequenoBrasil.Háosquecon-
tinuamadefendê-loeháosquese
arrependem. O que você acha do
futurodoBrasil, em termosdepo-
líticaeconômicadoEstado?
tabelecer certas regras de jogo e
zelar para que sejam observadas e
manteraquiloqueosnorte-america-
noschamamde “level theplan field”
–manter o campodo jogonivelado.
Essa questão é fundamental e ain-
danão foi resolvida. NemnosEsta-
dosUnidosqueéaMecadaecono-
miademercado.Masnãopodeexis-
tirmercadonão regulado. Você tem
que manter as pessoas honestas,
proteger os acionistas minoritários,
protegeroconsumidor,porque, cada
vez mais, o fabricante se distancia
doconsumidor.Você temquegaran-
tir que o que está escrito no rótulo
ounaetiquetaestádentrodaemba-
lagemdoproduto;acabarcoma ten-
dência de cartelização e eliminar a
tendência natural do capitalismo ao
monopólio. Você tem que regular
tudo isso. Então, essa história de
“deixemosomercado funcionareele
resolverá todos os nossos proble-
mas”, paramim, é uma enorme ilu-
são.Nãosei seé issoquevocêcha-
ma de neoliberal, mas eu acredito
quesempredeveráhaver regulação
inteligente,competenteehonestado
tal mercado.
JR–Nãoseria, aqui noBrasil, um
casodesemântica?Vocêcitouos
EstadosUnidos, cuja cultura é li-
beral e neoliberal. NoBrasil não.
Nossahistóriaébastantediferen-
te, e só nos últimos anos é que
temhavidoprivatizações emaior
liberdade ao mercado. O Brasil
sempre foi um país em que a in-
tervenção eramuitomaior. Inclu-
sive está no discurso dos candi-
datos àpróxima eleição.
RC–Talvez vistode longe. Porque,
édifícil –paraqualquer umdenós–
afastar-se suficientemente do mer-
cado do Brasil para ter uma visão
maisobjetiva.Minha sensaçãoéde
que o mercado brasileiro como um
todo está cada vez mais competiti-
vo, mais eficiente, oferecemais es-
RC – Eu acho que toda essa dis-
cussão normalmente é colocada
fora do seu contexto básico, que é
o seguinte – e quero deixar claro
queestaéminhavisão:Nãoexiste,
nomundodehoje, nemnos países
desenvolvidos–aliás,nãoexisteem
lugar nenhum que eu saiba – uma
economiademercadoouum siste-
ma onde o mercado decida tudo
sozinho. Onde se deixe omercado
funcionar livreeeleacerte tudo so-
zinho. Isso é uma fantasia. É óbvio
que os governos e o Estado, no
mundo inteiro, precisam regular o
mercado: regular, não interferir. Es-