Revista daESPM – Setembro/Outubro de 2002
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pensador dageraçãopassada, quedisse:
“O homem, quando cria, encontra a si,
encontraomundo,encontraaDeus”.Evi-
dentemente, ele se referia ao atode criar
em todosossentidos, inclusiveoquevem
motivado pela aventura do novo. Somos
criativos, assim, primeiroporqueexerce-
mos essanossa capacidadepara sobrevi-
ver, resolvendo problemas. Depois para
ganhar mais lucros e/ou poder, aprovei-
tandooportunidades. E, finalmente, para
nos sentirmos realizados, acrescentando
algodenósaomundo,quepodeseraobra
artística, inédita, ouonovo conhecimen-
tocientífico/tecnológico,ouainda,onovo
produtodeconsumo. É issoquenos leva
aviver a aventuradonovo.
Sob esse ângulo, não seria apenas a
imensidãode informações que constitui
aorigemdoestressequeatacahojequem
quer manter-se atualizado. Deve existir
também, oque talvez sejao fatormaior,
aquele impulsopeculiar aohomem, que
carregamosquasecomomaldição,aatra-
ção pelo que não se conhecia antes, o
novo. Mas é hora de questionar, e
perguntamo-nos: até onde esse fenôme-
no é geral?
Hátambémo
sofrimentodo
novo
Quandoseanalisao impulsoeocom-
portamento compreendidos pela aqui
chamada aventura donovo, cria-se uma
tendênciade elaborar um juízodevalor,
considerando “errada” ou, pior, “anor-
mal”, a pessoa que parece fugir àquela
atração tãomodernamente cultivada em
nossasociedade,bastantededicadaà ino-
vação. Éum ramoda psicologia, desen-
volvido nesta geração, a “Human
Dynamics”, que nos chamará à realida-
de vinda da diversidade humana. Ela
defende existir uma porcentagem de in-
divíduosabsolutamentenormais,nooci-
dente, que não tem facilidades com as
coisas novas.
Apósumaextensapesquisadequase
duas décadas, os profissionais envolvi-
dos nesse estudo atitudinal e
comportamental chegaram à conclusão
dequecercade20%éogrupodepesso-
as na condição das que sofrem, em
grausdiversos,paraaceitarouseacos-
tumarcomasmudanças.Mesmopon-
derando que o medo de mudanças
não deverá eliminar a curiosidade
humana, aconclusãodapesquisanão
invalidaa importânciade seestudar
achamadaaventuradonovo, váli-
daparaos80%. Paraquem se in-
teressa particularmente por esse
aspecto do fenômeno, antes de
procurar a literatura específica,
reproduzonoQuadro1 trechoex-
traídodeumabreveexplicaçãoda
HumanDynamics, incluídano li-
vro
Criatividade Abrindo o Lado
InovadordaMente
, deminha
autoria.
Comoaaventura
atrai
O fascínio que o novo exerce está
dentrodamotivaçãoaparentementeeco-
nômicadegrandesempreendimentoshu-
manos, comona épocadas explorações.
O lucro seria o motivo da iniciativa só
na superfície, pois, no fundo, o homem
quernovasexperiências.Nasexpedições
marítimas do século quinze, os
financiadores assumiam seu risco pelo
lucro,mas eles eram só alguns, enquan-
toosnavegadoreserammilhares, eapos-
tavam sua pele fascinados pela vida in-
certamas excitante domar.
Os fatosnos levamaafirmarquenas-
cemos assim, curiosos e aventureiros,
mas divididos, já que, por outro lado,
somos também organizadores e fãs do
confortoeda tranqüilidadeda rotina.Os
povos antigos viajaram pelo desconhe-
cido, voltaram e o incorporaram.Assim
foramosWikings, fenícios,portugueses,
foraospovosprimitivosqueemigraram,
daÁfricaparaomundo, edepoisdaÁsia
para asAméricas. Depois ainda vieram
os alargadores de fronteiras, como con-
quistadores, bandeirantes e pioneiros.
Contudo, a sagadodesbravar nãoera só
vocação antiga, mas de todos nós hoje,
quecontinuamosviajando, e fazemosdo
turismoumdosnegóciosmais importan-
tes da terra.
Mas não é só amultiplicação atual
das viagens que se pode trazer para
exemplo de como a aventura do novo
emoldura a vidamoderna. Há também
a fome de novidades e notícias. Basta
parar hoje em frente a uma banca de
jornais e observar centenas de publica-
ções disponíveis, com a esmagadora
maioria focalizando o novo, na forma
denotícias enovidades nosmais diver-
sos campos, para saciar a curiosidade
que vem impressa em nossos genes.
Como ilustração, noQuadro2vemos a
relação de 261 títulos levantados em
uma banca pequena, no bairro de
Santana, em São Paulo.