Maio_2005 - page 13

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REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T U B RO
D E
2005
computador, uma quantidade... Por
causadisso,euabriumaCasadeCul-
tura,na Internet.
JR
– Jáestivevisitandoo seu site, em
ARTUR
– Jáestácomseismeses,com
vintemiletantasvisitas.Alémdeexpôr
lá a minha produção, exponho a
produção de muitos outros
sites
importantes.Tiveaidéiadefazeruma
CasadeCulturaemvezde fazer um
site
e coloco lá programas de rádio
também.
JR
– Sobre sua carreira política, ela
começoucomaturmada(rua)Miguel
Lemos?
ARTUR
–A turma daMiguel Lemos
foi ummomento muito bonito da
minhavidapela solidariedadedeles,
pela juventude, pelaalegriaqueeles
levavam.Tenhoboasmemóriasdesse
tempo.OpessoaldaTurmadaMiguel
Lemos era ativíssimo e muito
engraçado–paravocê teruma idéia,
o Macaé, que era dono do Biriba,
aquelecachorrinhoqueeramascote
do Botafogo; o Ronaldo Xavier de
Lima, que depois se casou com a
MarthaRocha;oJoãoSaldanha,enfim,
umaturmaenormequesereunia,para
baterpapo.Elesjátinhameleito,alguns
anos antes, o Cristiano Lacorte, um
rapazparaplégico,quemorreranesse
período,eerameuamigotambém,por
outras razões. Tudo se juntou de
repente, e fizeram uma campanha
bacana,oônibusparavanosinal,eles
entravam,“PauloAlberto,candidato”,
e eu, um estudante, que estava se
formandonaqueleano–inclusivesem
opreparonecessário –, me vi eleito
umdos trintaconstituintes doEstado
daGuanabara. Eu era omaismoço
do Brasil, naquela época. Me elegi
comvinteequatroanos.Eles fizeram
uma campanha espetacular e eu fui
eleito.
JR
–Vocêentrounapolíticacommuito
idealismo.
ARTUR
– O que – vou dizer sem
nenhumavaidade–meacompanhou
a vida inteira. Saí agora da política
inteiramente limpo, sem nenhuma
marca,cumpriomeudeverdireitinho,
ajudei a formar um partido, fui
presidentenacionaldessepartido, fui
umsenador trabalhador, trabalheinas
leisquemepareceramcorretas.Estou
falandonãoporvaidade,masporque
realmente é uma alegria da minha
velhice.
JR
– Isso é possível, apesar das
senador,nãofuieleitoem82,fuieleito
em 86 a deputado constituinte, de
novo, nahorade redemocratização.
Vivi tudo isso demodomuito rico e
mudei,digamos,odiscurso,masnão
mudei aminhavisãodomundo.Na
minhavisãodomundo,sou,atéhoje,
umhomemdeesquerdaquedetesta
o totalitarismoeasditaduras.
JR
–Sevocêpudessefazerumaopção,
em vez de aprofundar-se como
intelectualepensador reflexivo,você
se tornouatuante– talvezpagandoo
preçodessaescolha–,oquevocêteria
feitohoje?
ARTUR
–Talvez isso façapartedeum
traço esquizóide da personalidade;
sempre fuiumapessoadivididaentre
oapelodavidapúblicaeoapeloda
atividade literária,artística,produtiva,
cultural. A vida inteira senti-me
divididopor essascoisas.Hoje, acho
quecumpriomeudevernessafaseda
redemocratização
brasileira.
Realmente ajudei, botei minha
pedrinha e sinto uma calma muito
grande por dentro. Sei que isso
prejudicouaminha literatura, omeu
trabalho,porqueeucriei,naspessoas,
“signos” muito díspares; as pessoas
passaram a me olhar por diversos
signos. Normalmente as pessoas
precisam de facilidade na
decodificaçãodos signosdeoutrem.
Algumas pessoas me viam como
cronista,outraspessoasmeviamcomo
pessoado
OGlobo
, como um cara
de esquerda, algumas como
comunista,–coisaquenuncafui.Mas,
se fosse, tambémnãoachoque seria
defeito,todaaminhageraçãoeraeeu
não, por uma questão filosófica. Eu
aceitoomaterialismohistóricomasnão
aceitoomaterialismodialético,poruma
circunstâncias?
ARTUR
– Lógico, não precisa se
corromper. Édifícil,masdáparanão
secorromper.Aquelesideaiseununca
abandonei.Nesseperíodo,fuicassado
em 64, asilei-me na embaixada da
Bolívia; da Bolívia fui para o Chile;
morei no Chile, dois dos meus três
filhosnasceram lá,vimemboraantes
doAI-5–orestoeu jácontei–,em68
veiooGolpe,depoiscandidatei-mea
“AO INVÉS DE PAUTAR
O JORNALISMO, O
CONGRESSO ERA
PAUTADO PELO
JORNALISMO.”
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