Artur
DaTavola
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S E T EMB RO
/
OU T UBRO
DE
2005 –REV I STA DA ESPM
normalmente o jornalista escreve
sobreoqueosoutrosnãoviram,eeu
escreviasobreoqueosoutroshaviam
visto. Eaessaaltura também jáesta-
mos lápelosanos80.Eu fiqueino
O
Globo
até 86, quando fui eleito
deputadoconstitucional.
JR
–Sempreescrevendosobreo tema
televisão?
ARTUR
–Sim. E isso leva-meauma
outramáximadoSamuelWainer,que
tem a ver com tudo o que eu estou
dizendo: “A gente pode, em jornal,
dizeroquequiser,dependecomo”.
JR
– Isso foiem86.Estamosem2005.
Em vinte anos mudou a televisão,
mudouoArturdaTávola,quemmu-
doumaisecomo?
ARTUR
– Nesses vinte anos, fiquei
dezesseis no Congresso. Logo no
começo, como constituinte - para
minha surpresa oMárioCovas, que
erao líderepoucomeconhecia,me
convidoupara ser relatordeumdos
capítulos da Constituição. Havia
relatores que enviavam o relatório
para uma comissão de sistematiza-
ção,quesistematizava tudoe,depois,
oplenário votava – essa era a dinâ-
mica.Entreosassuntosquemecoube
relatar, estava o capítulo sobre
comunicação. Nesse dia, mandei
uma carta pedindo demissão do
O
Globo
, porque não podia – traba-
lhandonumaempresa,mesmocom
perda financeira eaperdadedeixar
umveículodegrande força–masnão
seria correto daminha parte, então
fiqueicomorelator.Tenhoorgulhode
quecercade80%domeurelatórioé
o que está no capítulo sobre
comunicação, na Constituição – e
quenãotemsidocontestado,atéhoje,
nas suas linhasprincipais.
JR
– Esse capítulo é o que fala na
liberdadedeexpressão?
ARTUR
– É. Tive tantocuidadocom
isso–vocêestáme lembrandouma
coisa interessante–, que introduzi a
questãodaliberdadedeexpressãono
capítulodecultura,introduzinocapí-
tulodeeducação–paraoprofessor
dentrodaaula–e introduzinocapí-
tulodecomunicação; dos trêseu fui
relator.Quem ler aConstituição vai
deexpressão,éamesmacoisa,cada
caso é um caso. A partir de certo
momento,orádio,a televisão,os jor-
nais, passaram por uma transfor-
mação: ohiper-realismoveioparao
primeiro plano. E também o
expressionismo – o velho expres-
sionismo, lá do princípio do século
20–quepõeênfasenoemotivo, no
dramático.Ohiper-realismoeraum
movimentooriundodaliteratura,que
éofatodevocêtomarcomtodovigor
umacenadealguma situaçãoe,por
estacena, o leitor ter a suposiçãode
queotodoéigualaoqueaquelacena
representa.ORolandBartheschama
a issodemito. Eu, comoantigoestu-
dioso de Jung, não penso quemito
seja isso, acho que mito não é
mentira.
JR
–Trata-sedemexercomarealidade
para que ela se adapte aomeio. Se
vocêdestacaalgumacoisa...
ARTUR
–Não, omeio condiciona.
Porexemplo,sevocê temdecolocar
umanotícia, em vinte segundos, no
telejornal, omeiovai condicionar o
fato aos vinte segundos, inevitavel-
mente. Só os aspectos hiper-reais
estarãopresentes.
JR
–Naopiniãodoeditor...
ARTUR
– Sempre na opinião do
editor.
JR
–O
TheNewYorkTimes
tinhaum
slogan
quedizia “all thenews that´s
fit to print”. Isso refletia a persona-
lidadeda famíliaSulzberger,donado
jornal.Oseditoresmaisjovens“goza-
vam” os donos do jornal e diziam
“issoéparaconsumoexterno,porque
as notícias aqui no
The New York
ver que, em todos, a liberdade de
expressãoestágarantida;doprofessor
nasaladeaula,naatividadecultural
enacomunicaçãodemassas.
JR
– Você então considera que a
Constituição – que você ajudou a
elaborar–protegeadequadamentea
liberdadedeexpressão?
ARTUR
– Ela está completa. Mas,
nessaquestão,háumaproblemática
damesmanaturezadaracial.OBrasil
hámuito tempo temuma legislação
anti-racista,desdealeiAfonsoArinos,
oquenão impedequehajapessoas
que discriminem os negros ou que
tenhamcomportamentoracista.A lei
nãopode tudo.Nocasoda liberdade
“ÉA
CONTEMPLAÇÃO, DO
ASPECTO SÁDICO,
NO INCONSCIENTE
DE CADA PESSOA.”