Artur
DaTavola
15
S E T EMB RO
/
OU T UBRO
DE
2005 –REV I STA DA ESPM
JR
– Jánem se lêanotícia.
ARTUR
–Nissoaliberdadedeexpres-
são, ameu juízo, estáescamoteada,
está sendo distorcida. O jornalista
torna-se mais importante do que a
notícia.
JR
–Queria retomar aperguntaque
fiz,sobrea televisãohávinteanosea
televisãoagora.
ARTUR
–Tomando-acomoumtodo,
a televisão melhorou, nos últimos
vinte anos, porque o jornalismo se
expandiudemaneiraprimorosa, do
ponto de vista da informação. O
esporte mundial passou a ser um
espetáculo de bairro, o número de
correspondentes estrangeiros quali-
ficados é muito grande, principal-
mente na Rede Globo, surgiram os
canais a cabo, que permitem a
segmentaçãodopúblico.Asnovelas
perderam um pouco em relação às
novelasdosanos80–marketingpor
marketing, eupreferiaodoHomero
Sanchez.
JR
–Perderamemque sentido?
ARTUR
–Perderamporquepassaram
arepetir,numaquantidadeexcessiva,
osmesmos
gimmicks
, asmesmas si-
tuações,compersonagensdiferentes.
JR
–Vocêconsideraqueessas“situa-
ções”atraemaudiência?
ARTUR
–Necessariamente, dãoau-
diência. Mas a novela perdeuDias
Gomes, Bráulio Pedroso, Jorge
Andrade, o próprio Lauro Cesar
Muniz se recolheu, CassianoGabus
Mendes morreu. Por outro lado,
cresceu a qualidade das séries – as
SériesBrasileiras sãoumprodutode
primeiromundo, naminhaopinião.
Houve um retrocesso na progra-
mação infantil,e também,ahegemo-
nia da Rede Globo começou a
desaparecer, com a proliferação de
outroscanais.ApartirdoPlanoCru-
zado,muitomaisgentedasclassesC
eDpuderamadquirira televisão, isso
deu prestígio a um certo tipo de
programa de baixo extrato, que
chegouaameaçaraaudiênciahege-
mônica da Globo e obrigou-a a
esforços para se manter por baixo.
Maisrecentemente,achoqueaGlobo
retomou seu nível de qualidade de
produção.Ela fazassuasconcessões,
masdeboaqualidade.Porexemplo,
um programa como o Fantástico
chegaa terumquadrode iniciaçãoà
filosofia. Issoéumanovidade.
JR
– Mas você pode imaginar um
Fantásticoquenão faledeum remé-
diomilagroso,queestácurandouma
doençaquenão tinhacura...
ARTUR
–Comonãosepodeimaginar
um telejornal quenãocomececom
a imagemdeumamulher chorando
– ou de alguém chorando – se
possívelmãequeperdeuo filho,para
agarrar a audiência logo de início.
Masessaproliferação resultounuma
certa variação, que vai desde a
sordidezdoprogramado JoãoKleber,
até uma qualificação maior na TV
Bandeirantes,nosprópriosprogramas
deauditóriodaTVBandeirantes, no
noticiário que teve uma melhora
muitograndee,atéemalgunspontos,
poucos,noSilvioSantos,na linhade
jornalismo. Houve uma melhora
significativa nas TVs públicas – TV
Cultura, TVE do Rio de Janeiro, TV
Senado, principalmente, e, agora, a
TV Câmara está avançando. A TV
públicaabreumcaminhonovo,mais
livre do ponto de vista ideológico
doutrinário, pois é obrigada a apre-
sentar todos os partidos e a discutir
problemas nacionais, com pouca
audiência e com canal fechado,
embora a TVCultura em São Paulo
tenhaumcanalaberto.
JR
– Com esses canais todos que o
governo utiliza, como você vê a
continuaçãodaVozdoBrasil?
ARTUR
–Sou inteiramentea favorda
Voz do Brasil, para desespero dos
meus amigos, especialmente os
publicitários.OEstadobrasileiro tem,
no seu trabalho diário, inúmeras
informações adar àpopulação, que
nãosãoselecionadaspelos jornais,e
aí entra uma questão muito séria:
muita gente ataca o Governo,
querendoobter as verbas depropa-
ganda do Governo, obrigando-o a
fazer a suapropaganda, foradaVoz
doBrasil.
JR
– Issonãoénovo.
ARTUR
–Évelhíssimo.Sempreexistiu
– atacar para receber. Mas isso é
gerador de corrupção e um dos
momentos centrais queoBrasil está
vivendoagoraprovémdaí.
“A LEI NÃO PODE
TUDO. NO CASO DA
LIBERDADE DE
EXPRESSÃO, É A
MESMA COISA.”