Maio_2005 - page 9

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REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T U B RO
D E
2005
Times
são
all the news that fit the
print
”: enquanto houver lugar para
pôr as notícias, eles usam; acabou,
não temmais.
ARTUR
– Issohoje emdianão teria
nenhum cabimento, em vista dos
satélites, da comunicaçãomundial,
a quantidade de informação que
chega.
JR
– Pois é, mas a informação que
chegaépertinenteao indivíduoque
está ouvindo ou assistindo a essa
informação?
ARTUR
–Não sei. Cada caso é um
caso.Eu,porexemplo,nomomento,
leio muito pouco jornal, ou os
articulistasoucomentaristasdeTVde
natureza autoritária. O Diogo
Mainardi é autoritário; tenho um
amigo querido, de um talento
enorme,queéautoritário–éoúnico
autoritárioque eu vejo –, oArnaldo
Jabor;oBorisCasoyéautoritário,são
modos de ser. O Paulo Francis era
autoritário...
JR
–MasninguémdiráqueoDiogo
Mainardi ou o Jabor não estão
dizendooquepensam.
ARTUR
– O modo autoritário
engloba de tal forma a opinião e a
realidade, que transforma o
comunicador numa espécie de
“estrela” da informação, enãonum
agentedopensamento,da reflexão.
JR
–Omeiose tornamais importante
doqueamensagem.
ARTUR
–Naminhageração,formou-
sea idéiado jornalismo interpretativo
como sendo em síntese o seguinte:
imparcialninguémé,nemconsegue
ser,masdáparaserobjetivo.Segundo,
cabia aos articulistas lidar com a
realidade,a fimdequeo leitor tirasse
as próprias conclusões. Por isso
chamo de autoritário o editor cujo
pensamento predomina. Acontece
que esse jornalismo autoritário, em
geral, é feitopor gentede talento, os
jornais sabemque, justamente, pelo
graudeadjetivaçãocorresponderão
àadjetivaçãoqueopúblico faz, sem
conseguir traduzir empalavras. Eles
traduzem em palavras o que as
pessoassentem,e,com isso,operam,
digamos,deumaformafechada.Não
negoo talento–nocasodo Jaborpor
exemplo. Eu concordo com quase
tudooqueelediz,mas éumavisão
autoritária do jornalismo. O velho
jornalismode interpretaçãohoje tem
poucos representantes, talvez um
pouco oClovis Rossi. OCastelinho
foi um exemplo maravilhoso do
jornalismo de interpretação que
atravessouaditadura.ADoraKramer
sedestaca, pela análiseque faz, e a
Eliane Cantanhede, da
Folha de S.
Paulo
.AMiriamLeitãoéumexemplo
de jornalismo interpretativo e de
capacidade de jogar com vários
conceitose,aomesmo tempo,passar
a sua idéia. Mas são poucos, esses
jornalistas, porque também há a
competiçãoentreos jornais,entreos
canaisde televisão. Por exemplo, os
noticiáriosda faixadassetehoras,nos
outros canais, para competir com a
novela da Globo. Ali é tudo jorna-
lismodeumautoritarismoespantoso.
O jornalismopassoupor essa trans-
formação,ficouhiper-realista,expres-
sionista na busca das matérias, e
autoritário,porquepassoudequarto
paraprimeiropoder. Pudeassistir,no
Congresso,oquantooCongresso,ao
invés de pautar o jornalismo, era
pautadopelo jornalismo.
JR
–Dizemquepolítico levanta, lêo
jornal,eaídecideoquevai fazer.Eu
ouvi issoemBrasília.
ARTUR
– E é verdade. As revistas,
principalmente, têmuma forçamuito
grande. É uma perda de autoridade
para o Congresso e – ao mesmo
tempo–éanecessidadedesesperada
docorpopolítico terumespaçoonde
possasedimensionar,aparecer;oque
tem um lado justo, mas leva a dis-
torçõesbastantegrandes.Outro fato
a assinalar é o “denuncismo”. Em
vinteequatrohorastransforma-seum
indícioem sintoma, um sintomaem
fato, um fato em julgamento, um
julgamentoemcondenação, acon-
denaçãoem linchamento.Equalquer
apuração – pois a própria justiça é
milenarnoseuprocessopenal– leva
tempoparadirimirasdúvidas.
JR
– Isso já pós-Revolução, com a
liberdadeasseguradaaosveículos.
ARTUR
–Háum ladopositivo.Masa
informaçãoé,muitasvezes, apurada
apressadamente ou “opinada” na
manchete,ouno título.Para aminha
geração,opinarnotítuloeraumcrime.
“SOU CONTRÁRIO A
ESSE GOVERNO,
NÃOVOTEI NELE,
SEMPRE ACHEI
QUE NÃO IA DAR
CERTO.”
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