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REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T U B RO
D E
2005
JR
–VocêtemouvidoaVozdoBrasil?
ARTUR
–Euouço.
JR
– Você acha que eles fazem um
bom trabalho?
ARTUR
–Acho.
JR
–OK.Vocêéoentrevistadoe tem
direitoà suaopinião.
ARTUR
– Sou absolutamente con-
trárioaesteGoverno,nãovoteinele,
nunca concordei com ele e sempre
achei que não ia dar certo. Como
funcionário,porexemplo,quesouda
CERP, nunca vi na RádioMEC uma
combinação para defender o
Governo. Claroque se tratadeuma
rádiocultural. Fizeramuma reforma
completanaRádioNacional,doRio,
com uma programação brasileira
muito interessante.ARádioMECga-
nhouelementosquenão tinha,poder
das antenas, mudança de equipa-
mentos, compra de discos. Nesse
particular, esteGoverno fezmaisdo
que os demais. O único presidente
que deu importância ao rádio foi o
Sarneye–graçasa isso–atéhojeele
é bem visto por vários setores da
população. EoLula, agora, queestá
apertado, aumentou o número de
falasdelenorádio.Orádioéoveículo
mais abandonadode todos,mas éo
mais importante.
JR
– Você considera o rádio assim
importante?
ARTUR
–Omais importante,porque
não opera em quantidade, mas em
qualidadedecomunicação.O rádio
permite uma qualidade de comuni-
caçãoque,quandovocê sedirigeàs
massas,nãoconsegue.Éclaroque–
comodiziaoprofessorAnísioTeixeira
–“épreciso saber tocar rádio, como
se tocapiano,nãobasta ligarorádio,
tem de saber tocar rádio”. Ele até
brincavacomigoedizia “você sabe
tocar rádio”, porque eu achava o
noticiárionahoracerta, sabiaquem
eoqueouvir.Mas issoopúblicoem
geral não faz. E o rádio, principal-
menteorádiopopulista,temsidouma
misturade informaçãocompopulis-
mo,complexaepouco formadora. Já
as rádios de
all news
sãodemelhor
qualidadeemaisparticipantesdavida
brasileira, coisa que não havia há
anos.
precisa de resposta, porque é
perfeita.Nósvivemossobo império
doentretenimento, enãohádúvida
de que os modelos de
entretenimento se infiltraram nos
modelos de informação; a
informação é comandada pelo
entretenimento, que tem todos os
ingredientes do entretenimento,
desde uma certa exploração do
sadismo até a exploração do
sentimentopúblicodaspessoas.Por
isso, todo telejornal semprecomeça
com um crime ou um drama, uma
mãe chorando. É inevitável. É a
contemplação, do aspecto sádico,
guardado inconscientementedentro
decadapessoa–aspessoas têmuma
forma de prazer em ver aquiloque
as choca. Isso em psicologia é
comum, na psicologia individual,
mas na sociedade também é. Há
também uma identificação muito
forte, no casodos grupos de
rock
e
dosespetáculos, tambémdadoença
do ator com a doença do público
está em estado latente. Conheci
diretoresdegravaçãoquedefendiam
a tesedequeoartistaprecisadeuma
“cotadedoença”–comoopolítico
–, porque essa cota de doença se
comunica. Tudo isso gera o grande
elementodoentretenimento.
JR
–Qual adefiniçãode “doença”,
nessecaso, seriaumdesvio?
ARTUR
–Não. O que chamo “do-
ença”,vamosdizerassim,éamente
não analisada, os fantasmas, que
dominam o comportamento sem a
consciênciadoportador. Issoseriaa
doença, o que não é para existir.
Todos nós a temos, emmenor ou
maior quantidade –
pathos
– da
patologia,quegeraa tragédia.
JR
–Amídia, hoje – no Brasil e no
mundo–,estápredominantementenas
mãos da empresa privada. Uma
empresa comercial tem a sua receita
quasequeexclusivamente–principal-
mente a mídia eletrônica – na
publicidade. O que faz as pessoas
buscarem a mídia é geralmente a
diversão, o entretenimento. Essa
transformação da informação em
entretenimentonãotemavercomuma
distorçãoda liberdadedeexpressão?
ARTUR
–Essasuaperguntaquasenão
NÃO SE PODE
IMAGINAR UM
TELEJORNAL QUE
NÃO COMECE COM A
IMAGEM DE UMA
MULHER
CHORANDO.”