julho/agostode2012|
RevistadaESPM
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Forade
foco
Em janeiro de 2012, aKodak pediu concordata, nos Estados Unidos.
Aparentemente, a empresa não pôde ser reinventada no rumo sinalizado há 124 anos
pelo seu fundador. Será esse o fimdo slogan “Você aperta o botão, nós fazemos o resto”?
Por Valeria Ravier
E
ra 1888, quando George Eastman pronunciou
as oito palavrasmágicas que ficariammarcadas
parasemprenahistóriadafotografiaedomarke-
ting: “Você aperta o botão, nós fazemos o resto”.
A frase representou um dos pontos altos no desenvol-
vimento de uma técnica capaz de concretizar, para um
número crescente de pessoas, o antigo desejo de capturar
a realidade. A invenção de Eastman inaugurou também
uma ideia que iria ser amplamente
discutida no futuro da fotografia: há
um sujeito por trás da câmera.
Eis aí o paradoxo de uma técnica
que nasceu com a intenção de se
constituir em um retrato fiel e obje-
tivo da realidade, mas que depende
de um operador cujo ponto de vista,
subjetivo, define um recorte para a
realidade a ser representada.
O fundador da Kodak, nome que
Eastman,aparentemente,criousem
nenhuma outra referência, a não ser
pelo fato de gostar da letra K, tinha
desenvolvido uma câmera pequena
e portátil, com um negativo seco e
descartável que não precisava ser
revelado imediatamente após a
exposição. Em termos de produto,
isso representou a superação de to-
dos os limites que a fotografia tinha
enfrentadodesdeque JosephNiépce
obtivera, em 1826, após oito horas
de exposição, a imagem que ficaria
conhecidacomo
Ponto deVista desde
a Janela de Gras
.
Da perspectiva do marketing, o
slogan foi uma fórmula de sucesso
que iriamanter a Kodak como líder absoluta nomercado
de material fotográfico durante muitos anos.
A frase demonstrou ainda ter umcaráter praticamente
mágico, pois, ao permitir que cada consumidor se identi-
ficasse comum lugar emque jamais tinha sido colocado,
criou do nada um número inédito de fotógrafos amado-
res que iriam se tornar os principais consumidores dos
produtos Kodak.
Milhõesdeamericanospassaram
adocumentaroseudiaadiafamiliar,
iniciando um detalhado arquivo de
informações visuais sobre o cotidia-
no nunca antes visto na história da
humanidade.
O que Eastman fez naquele mo-
mento foimultiplicar demodoexpo-
nencial a possibilidade de captar e
registrarinstantes,depararotempo
e chamar a atenção para cenas que,
sem a sensibilidade do fotógrafo
aliada à técnica, teriam se perdido
para sempre. Cenas que por meio da
fotografia passaram a ser, também
para sempre, ficcionais.
É importante lembrar, no entan-
to, que, por trás de toda e qualquer
fotografia, existeumarealidadehis-
tórica.Quecadaimagemfotográfica
nascedeumaépoca, seus costumes
e tradições.
As imagens mais interessantes,
porém, como aponta Roland Bar-
thes no livro
Camera Lucida
(Hill
and Wang, 1981), são aquelas que
conseguem transcender o momen-
to a que visualmente se referem,
Comoito palavras, o empreendedor
George Eastman criouumdos slogans
mais famosos da história da fotografia