Revista ESPM - jul-ago - Revolução Silenciosa - educação executiva como vantagem estratégica das empresas - page 16

entrevista | Claudio de Moura Castro
Revista da ESPM
| julho/agostode 2013
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Francisco
— Como você vê todas essas
mudanças na educação executiva?
Claudio
— Se nós tomarmos a Popu-
lação Economicamente Ativa (PEA),
da Suécia, veremos que um terço
dessa população está estudando.
Porque mudam as tecnologias, os
processos, as organizações e as pes-
soas têm de se atualizar. O ritmo de
mudança é tal que não é mais possí-
vel aprender tudo na faculdade. No
Brasil, 20% dos graduados na área
social — administração, economia
etc. —, estão exercendo a profis-
são escrita no diploma. Nos outros
países, é assim também e mostra
que é impossível antecipar o que o
camarada vai precisar quando entra
no primeiro emprego. A ideia de que
você se forma e vai fazer aquilo para
o que foi treinado não dá mais certo.
Francisco
— O que dá certo?
Claudio
— Você se forma, arruma um
emprego e depois vai descobrir o que
deve aprender para desempenhar
corretamente a função. Daí esse
mundo de treinamento. Dez anos
atrás, 40 milhões de brasileiros fa-
ziam anualmente algum tipo de cur-
so que não constava das estatísticas
oficiais. Ou seja, temos uma educa-
ção invisível, e parte dela é represen-
tada pela universidade corporativa.
Francisco
— Universidade corporati-
va, evidentemente, não é universidade.
Claudio
—Na verdade, a universidade
corporativa é o centro de treinamento
que funcionou durante muitos anos.
Na hora em que a empresa precisa
recrutar os seus executivos para
transmitir valores e ideias, botá-los
de volta ao banco da escola, o nome
centro de treinamento não é mais
atraente. Então, elesmudamde nome.
Chamam de universidade corporati-
va. Você consegue levar o diretor para
a universidade corporativa, mas não
para o centro de treinamento. É uma
dessasmudanças semânticas.
Francisco
— Por que as universidades
federais ficam limitadas a mestrados e
doutorados?
Claudio
— Em primeiro lugar, alguém
tem de fazer essa formação de base,
que é muito malfeita na graduação. É
bom que as federais façam isso com
subsídio público. Agora, a demanda
por cursos específicos surge depois
que o aluno se forma, entra num em-
prego e vê que aquilo que aprendeu na
escola não é bem do que ele precisa
para trabalhar. Os cursos mais espe-
cializados e curtos são feitos para per-
mitir a adequação do funcionário às
necessidades específicas da empresa.
Acontece que, pela legislação horren-
da do serviço público, a universidade
federal está totalmente peada [
com os
pés amarrados
] em sua possibilidade
de oferecer esses cursos. Para come-
çar, não deve cobrar. Cobra, não cobra,
entra o Tribunal de Contas, é aquela
confusão toda. Esse é o filé mignon
das escolas privadas.
Francisco
— A USP já descobriu isso.
Claudio
— Tem de ter sempre uma
fundação para financiar. É assim com
esses cursos de pós-graduação
lato
sensu
. O setor público, com os seus
pesados subsídios, se especializa na
formação de base, que é omestrado, o
doutorado etc. E o setor privado — que
temmais flexibilidade e faro para per-
ceber onde estão as necessidades, as
falhas e os buracos na formação — ofe-
rece cursos de curta duração, que po-
demser de três horas ou de dois anos.
Alexandre
— A USP estabeleceu a Fun-
dação Instituto de Administração (FIA),
que se tornou concorrente das escolas
particulares. Pessoalmente, vejo como
um retrocesso essa legislação que proi-
biu a FIA de operar dentro da USP. Isso
permitia, por exemplo, que a Faculdade
de Economia e Administração (FEA) con-
seguisse mais recursos. Além disso, essas
fundações, que só utilizam professores
que vêm das universidades, têm uma
certa dificuldade em desenvolver cursos
que estejam de acordo com as atuais
necessidades do mercado. A impressão
que tenho, no caso da FIA, é que os exe-
cutivos que procuravam seus cursos iam
muitomais pelos professores do que pelos
aspectos inovadores dos programas.
Hoje, vejo que os executivos começam a
se fiar em cursos curtos, e me parece que
as certificações on-line ocuparão espaço
importante na educação executiva.
Claudio
— Esse tema é muito interes-
sante. A primeira coisa é que, com as
tecnologias de imagem, você pode
oferecer um curso muito melhor do
que o melhor curso presencial, uma
aula muito melhor do que a aula que
o melhor professor do mundo pode
Você consegue levar o diretor para
a universidade corporativa, mas não
para o centro de treinamento.
É uma dessas mudanças semânticas
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