julho/agostode2013|
RevistadaESPM
17
dar. Porque, além de já ter um pro-
fessor excelente que você escolheu,
ainda tem a produção. E isso pode
ser oferecido a um custo quase zero.
O Telecurso custa, no primeiro e no
segundo grau, US$ 4 por aluno.
Alexandre
— Isso é o custo marginal
ou de produção?
Claudio
— É o custo da produção. Você
divide oque custouo vídeopelonúme-
ro de graduados. É imbatível. Nunca
mais vamos poder oferecer uma edu-
cação competitiva sem pensar no fato
de que a melhor aula do mundo vai
ser gratuita, daqui a pouco. A questão
é como você combina essa aula, hi-
perproduzida, com o resto. Você pode
ter uma tutoria de um para um. De
um para cinco. De um para 50. De um
para 500. Ou um computador fazendo
a tutoria. Você pode ter um curso
presencial, semipresencial, com per-
guntas on-line... Tudo o que não é o nú-
cleo duro da aula expositiva, nós não
sabemos como vai ser. Isso tem de ser
incorporado na lógica de quem quer
ter futuro na área de educação.
Francisco
— No Telecurso, qual é a
porcentagem de desistência dos alunos?
Claudio
—Vamos pensar no Telecurso
de duas maneiras diferentes. Para
cada aluno do Telecurso que está
assistindo às aulas com o objetivo
de obter um diploma, existem entre
cinco e dez que estão espiando aquele
curso porque acham interessante
ou porque aprendem alguma coisa.
É surpreendente que um curso com
currículo oficial, que é uma das coisas
mais chatas do mundo, consiga se
tornar atrativo. Mas consegue. Seis
milhões de pessoas já se formaram
no Telecurso. Não podemos falar em
uma taxa de evasão, porque grande
parte do Telecurso é recepção organi-
zada. Seja na própria rede pública dos
Estados ou municípios, seja por meio
de ONGs. Varia muito. Na prática, o
Telecurso é um
edutainment
. O sujeito
assiste àquilo porque acha divertido.
Por outro lado, é uma escola na qual a
aula expositiva é dada pela TV.
Alexandre
— O que temos visto acon-
tecer nas concorrências para cursos
em grandes empresas, é a opção por
uma entrega que mistura cursos físicos
e tecnologia por parte do contratante.
Alguns dos melhores contratos que
a gente tem com empresas de maior
porte são assim. Essa é uma tendência
para a educação executiva.
Claudio
— Vamos pensar em três
modelos — a educação presencial, a
educação a distância e a educação
misturada — e fazer um exercício de
futurologia. O que vai desaparecer
antes? É a aula puramente presencial.
Onde estará amaioria dos programas?
Na tecnologia mista, um pedaço pre-
sencial e um pedaço a distância. O
[
modelo de ensino
] a distância não vai
desaparecer. Basta olhar para o mapa
do Brasil. Uma coisa é universidade
aberta em Londres, onde você toma
umtrememeiahoradepois estánuma
cidade onde vai participar de um se-
minário. No Brasil, isso é inviável. En-
tão, a educação a distância vai sobre-
viver. Mas o que, provavelmente, vai
dominar é o modelo misto. Quando
se trata de leitura, não há razão para o
professor repetir o que está escrito no
livro. O aluno vai à aula para discutir,
ter um intercâmbio com o professor e
socializar comos colegas.
Francisco
— Logo estaremos enfrentan-
do a concorrência das escolas de fora.
Claudio
— O que nos salva é aquilo
que [
o romancista português
] Eça de
Queirós chamou de “O túmulo da lite-
ratura”. Ou seja, a língua portuguesa.
A nossa proteção contra essa invasão
é que somente 5% da população têm
conhecimentos adequados do inglês.
Francisco
— Com isso, torna-se ainda
mais importante a figura do professor
como facilitador.
Claudio
— São dois: o professor que é o
grande conferencista, o grande prega-
dor, umAntônio Vieira da educação; e
o professor que convive com o aluno,
estimula e resolve o problema, aplica
o conhecimento dele no cotidiano.
O Ricardo Semler [c
ontrolador da
Semco
], na escola que ele tem em São
Paulo e na que está abrindo em São
José dos Campos [
interior paulista
],
separa, desde o primário, o professor
de conteúdo daquele que é babá do
aluno. Para o conteúdo de história,
você chama o velhinho que émembro
do Instituto Histórico. Ele vai falar
com paixão do que está estudando e
vai embora para casa. Depois, entra
o professor que vai trabalhar com o
aluno, para ver se ele entendeu, para
fazê-lo ler e escrever.
Nunca mais vamos poder oferecer
uma educação competitiva sempensar
no fato de que a melhor aula do mundo
vai ser gratuita daqui a pouco