Revista ESPM - maio-jun - Brasil Assombrado. Que caminho seguir. - page 16

entrevista | Luiz Carlos Mendonça de Barros
Revista da ESPM
|maio/junhode 2013
16
Arnaldo –
Isso é suficiente?
Mendonça de Barros –
Para a Euro-
pa, menos, mas é muito importante
para países emergentes, como o
Brasil. A partir de 2014, vamos en-
trar em um desses momentos de
crescimento acelerado, e aí tudo dá
certo. Quando você tem o cresci-
mento ajustado em vários países, a
economia mundial consegue ir bem
pela inércia.
Arnaldo –
Como o Brasil está inserido
nesse contexto? O modelo de crescimen-
to dos últimos dez anos está dando sinais
evidentes de estafa.
Mendonça de Barros –
O primeiro
problema é um certo esgotamento
do modelo do Lula. Ele aproveitou a
grande capacidade ociosa que havia
na economia. Sempre lembro que,
quando o Lula tomou posse, em
2002, o desemprego era de 12%. O
crédito na economia era pequeno,
o uso das estradas e portos não era
como hoje. Ele navegou muito bem,
só que não houve investimento pú-
blico no país e o investimento pri-
vado ficou restrito por questões na-
cionalistas, a serviço da Petrobras,
ou por intervenções do governo. Na
prática, o Lula passou uma batata
quente para a Dilma, porque toda
aquela capacidade ociosa já tinha
desaparecido, com o desemprego
em 5,5%. O crédito bateu o teto do
endividamento das famílias e a eco-
nomia acabou perdendo a capaci-
dade de crescimento. Num cenário
internacional ruim, imagine então
o tamanho do problema. Mas, num
quadro diferente a partir de 2014, é
evidente que a economia brasileira
tende a ter certa recuperação.
Arnaldo –
Só o cenário internacional é
suficiente para a nossa recuperação?
Mendonça de Barros –
O governo
precisa mudar o foco, entender que
o problema está nos investimentos e
que eles devem ser comandados pelo
setor privado. E como estamos com
um gargalo na infraestrutura, onde
o governo domina, ele terá de apro-
fundar esse processo, chame ou não
de privatização, concessões etc. A
medida dos portos vai nesse sentido.
A Eletrobras vai finalmente privati-
zar uma série de distribuidoras nas
regiões Norte e Nordeste. No fundo,
o governo não consegue sair de um
labirinto ideológico e, como eles ba-
teram tanto tempo na privatização,
como agora vão defender? Mas o
governo faz isso ou a economia não
consegue deslanchar. O próximo
presidente da República vai ter um
bônus, de todo modo. Vai tomar pos-
se com uma economia mundial mui-
to mais favorável. Só que, se a Dilma
for de fato reeleita, precisa mudar o
entendimento dela.
Arnaldo –
A presidente insistiu num
modelo estatizante na primeira metade
do mandato e agora faz um esforço para
abrir concessões em praticamente todas
as frentes da infraestrutura. Essa virada
demorou demais?
Mendonça de Barros –
Sim. Mas,
mesmo tentando, ela não consegue.
Porque ideologicamente há pedaços
do governo que jogam contra. Ela
mesma é contrária do ponto de vis-
ta ideológico, só que hoje está com
uma percepção do que deve fazer.
O problema é a armadilha política
com que ela terá de lidar em 2014.
Por esse motivo, eu não vejo uma
expansão muito grande de conces-
sões até o ano que vem. ADilma sabe
que será cobrada lá na frente. É um
governo neurótico nesse aspecto.
Sustenta uma leitura ideológica que
já percebeu que está levando a lugar
nenhum. Mas não tem capacidade
de fazer uma autocrítica efetiva e co-
locar a bola do outro lado do campo.
Arnaldo –
As privatizações serão nova-
mente a grande discussão nacional das
eleições, como ocorreu na era FHC?
Mendonça de Barros –
Esse tema
voltará, sim. Essa é a discussão.
Há coisas interessantes, como o
relatório da Pnad [
Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílio, do IBGE
],
mostrando que onde mais cresce o
uso da internet é nas faixas de ren-
da mais baixa. Então, toda aquela
crítica da privatização de que a
telefonia era uma coisa antissocial
é bobagem. Se há um setor em que
as coisas andaram, foi esse. E se há
essa crítica de problema nas linhas,
é porque há muito telefone. Só que o
governo não consegue fazer essa lei-
tura e terá dificuldade em acelerar o
crescimento.
O Lula navegou muito bem, só que não houve investimento
público no país e o investimento privado ficou restrito por questões
nacionalistas, a serviço da Petrobras, ou por intervenções do
governo. Na prática, ele passou uma batata quente para a Dilma
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