maio/junhode2013|
RevistadaESPM
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uma Odebrecht, é importante. Elas
constroem usinas. Quando estive no
BNDES, o banco apoiou a construção
da usina de Três Gargantas na China,
porque essas empresas tinham parti-
cipação no projeto. O Estado tem um
papel importante para jogar, desde
que respeite o setor privado.
Arnaldo –
Como o Brasil pode se
reintegrar numa cadeia de valor glo-
bal de forma mais benéfica para o
nosso desenvolvimento?
Mendonça de Barros –
Essa é uma
questão complexa. Eu sempre fujo
dessa pergunta dizendo que a minha
geração já deu a contribuição que
poderia dar, que foram a estabilidade,
as privatizações. Agora temos outra
agenda, que é comooBrasil pode se in-
tegrar competitivamente neste novo
mundo global. E o fato é que estamos
muito atrasados. Só que não temos
ainda um diagnóstico comum. Veja,
a estabilidade econômica foi obtida
porque durante 15ou20 anos se discu-
tiu isso a fundo. Não temos o mesmo
amadurecimento ainda sobre este
assunto. Ele está muito verde ainda.
E eu, commeus 70 anos, não me sinto
muito animado a participar.
Arnaldo –
O senhor comentou sobre
o Mercosul. Como podemos alcançar
uma agenda comercial mais atraente?
Mendonça de Barros –
O Mercosul
foi uma tentativa brasileira de criar
um espaço econômico comum. Vis-
to agora, foi um erro. Foi ambicioso
demais criar uma união aduaneira
com países tão diferentes. Caímos no
mesmo conto do vigário da Europa,
que é integrar países tão distintos. E
esse problema piorou quando o Lula
quis fazer do Mercosul um projeto po-
lítico. Como é que se pode incluir um
país como a Venezuela? O liberalismo
exagerado temas sementes tão graves
quanto o intervencionismo. E foi o
liberalismo que originou o Mercosul.
Unir todo mundo foi um fracasso, por
isso estamos amarrados. Não temos
como fazer acordo com ninguém e
ficamos presos com um monte de
países de vagabundos. É a verdade! O
único país que tinha um certo dina-
mismo, a Argentina, também caiu na
armadilha política. Estamos num am-
biente comumque não funciona e não
podemos fazer acordos com outros
países. Esta agenda microeconômica
doBrasil vai darmuito trabalho ainda.
Arnaldo –
A revista
The Economist
sustentou uma capa dizendo que o mun-
do precisa de mais (Margaret) Thatcher.
OBrasil também?
Mendonça de Barros –
De maneira
nenhuma. A Thatcher deu na crise
que estamos vivendo. O que o Brasil
precisa é de umprojeto, umpartido de
centro-direita. Precisamos criar uma
direita no Brasil. Mas não uma direita
histérica. O Estado de São Paulo traz
um pensamento de direita que para
mim faz sentido. Mas com certeza
não o da Thatcher. Ela foi eficiente
para romper aquela armadilha do
trabalhismo inglês. Mas não estamos
nessa situação. Precisamos de um
espaço à direita no espectro político
para que se tenha um debate mais
organizado e se possa oferecer ao
eleitor opções. Hoje, nós só temos um
espectro de centro-esquerda, e isso
não é positivo do ponto de vista do
debate político.
Arnaldo –
O senhor continua otimista.
Quanto o Brasil vai crescer?
Mendonça de Barros –
Do jeito que
estamos hoje, de 2,5% a 3% ao ano nos
próximos anos. Mais do que isso, só
com uma grande mudança na agenda
que faça essas reformas todas, princi-
palmente asmicroeconômicas.
Arnaldo –
Como está o seu projeto dos
caminhões chineses na Bahia? O Brasil
ainda é um lugar bompara se investir?
Mendonça de Barros –
Claro que dá
para investir em indústria. O projeto
está andando bem, principalmente
porque é um parceiro vencedor. É
o maior fabricante de caminhões
da China. Tem sido um processo
interessante, porque já estamos tra-
balhando juntos há três anos e, evi-
dentemente, hoje já temos um grau
de confiança mútua muito grande.
Hoje, eles entendem melhor o que
é o Brasil. Deu muito trabalho para
explicar, mas eles estão aprendendo
(
risos
). A experiência é muito boa, há
uma troca grande entre nós. Aqui,
por exemplo, há umpesomuito gran-
de do pós-venda, que lá na China não
existe. Essa diferença de visão é mui-
to rica. E realmente a China é umdos
grandes polos econômicos do futuro.
Não tenha dúvida de que é uma apro-
ximação importante.
Entre o Aécio Neves e a Dilma há claramente
uma diferença [
ideológica
]. O neto doMiguel
Arraes, o Eduardo Campos, ainda precisa
dizer a que veio. Está em cima do muro