entrevista | Luiz Carlos Mendonça de Barros
Revista da ESPM
|maio/junhode 2013
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Mendonça de Barros –
É preciso di-
zer isso: o modelo [
do PT
] se esgotou.
Houve mérito, mas o modelo já deu.
A inflação e o baixo crescimento são
exemplos disso. O problema é que o
grosso do eleitorado ainda está numa
boa. A renda ainda vai bem, há em-
prego, então fica difícil associar uma
coisa com outra. Mas isso é o que ele
[
Aécio
] temde fazer.
Arnaldo –
Que diferença o senhor vê do
BNDES do seu tempo para agora?
Mendonça de Barros –
O BNDES
daquele tempo era visto como um
elemento auxiliar do mercado para
o crescimento. O banco se colocava
como uma alavanca do setor privado
para que ele andasse. Agora é ooposto:
o governo é a alavanca e o setor priva-
do é chamado a participar, dependen-
doda visãodoEstado. Éumamudança
de 180 graus. O setor privado é coloca-
do como uma questão secundária.
Arnaldo –
Os bancos também não es-
tão investindo pouco no setor produtivo?
Mendonça de Barros –
Mas hoje há
acesso aomercado. OBNDESnãodeve
ser usado como salvação da lavoura.
Hoje, estamos nummomento baixo de
investimento de capital porque o setor
privado olha outras coisas alémda dis-
ponibilidade de dinheiro. E tem mais:
o BNDES é finito, a economia brasilei-
ra é muito maior do que a capacidade
financeira dele. É umerro de postura a
forma como estãoutilizandoobanco.
Arnaldo –
Mas é fato que o governo está
tentando criar novas concessões de ro-
dovias, ferrovias, portos e outros setores
da infraestrutura. Os empresários recla-
mam que o problema não é captação de
dinheiro, mas a modelagem desses pro-
jetos. Quem está errado nessa história?
Mendonça de Barros –
É a ideologia.
Porque a Dilma e boa parte do gover-
no são contra. Então, ficam regulan-
do a taxa de retorno do empresário
e não veem que o melhor benefício
é a taxa de retorno que a sociedade
tem com esses investimentos. Nas
estradas, você fica brigando para
dar um retorno de 5% [
o governo já
subiu para 7,5%
]. Mas pode ser 9% ou
10%, desde que a estrada funcione.
Eu dou sempre o exemplo da rodovia
Castelo Branco, de São Paulo. Em Al-
phaville, até queimaram pneu, mas
hoje ninguém fala mais nisso. Por-
que o ganho é evidente. Antes havia
quatro pistas de cada lado, agora são
oito faixas. O usuário prefere pagar
R$ 3 ou R$ 4 e ter uma estrada que
funciona. Então, a única explicação
que tenho é a ideologia. Vai se crian-
do empecilhos para o setor privado.
Uma taxa de 5% de retorno por 30
anos, qualquer tipo de título público
paga isso. Deixa livre! Você fixa um
preço mínimo, um preço máximo, e
deixa a concorrência agir. É uma má
vontade terrível, várias pessoas im-
portantes do governo são contra isso.
Agora mesmo, o governador do Rio
Grande do Sul [
Tarso Genro
], que é pe-
tista, retomou todas as concessões.
É claro que há concessões que foram
malfeitas, mas não é bem assim. Em
São Paulo, eles estão querendo criar
uma terceira pista na Anhanguera,
porque isso ajuda a aumentar o fluxo
da rodovia e dá mais retorno.
Arnaldo –
O senhor gostou da nova
modelagempara os portos?
Mendonça de Barros –
Eu nementrei
em detalhes, mas melhor do que es-
tava com certeza vai ficar, o desenho
vai no sentido correto. Até porque
hoje é um escândalo essas filas nos
portos. Qualquer país decente derru-
baria o governo. Você tem uma eco-
nomia agrícola como a nossa, uma su-
persafra e perde produção por falta de
estradas e portos. Isso é umabsurdo.
Arnaldo –
Onde há espaço para mais
privatizações no Brasil?
Mendonça de Barros –
No setor elé-
trico. As distribuidoras estão indo
para a mão de empresas espanholas.
Isso acontece em todo o mundo. É
possível, desde que você dê uma taxa
de retorno adequada. Mas aqueles
espaços clássicos, como a Telebras e a
CSN, não existemmais. Isso jápassou.
Arnaldo –
Tanto no governo FHC quan-
to agora, houve sempre a preocupação
em fortalecer grandes empresas. Até que
ponto isso é bompara o Brasil?
Mendonça de Barros –
É importante,
sem dúvida, ter empresas maiores
com mais capacidade de absorção
de tecnologia. Agora, isso precisa ser
uma coisa natural e certamente não é
comfrigoríficos. Qual é a vantagemde
termos o maior frigorífico do mundo?
Zero! Agora, uma grande empreiteira
é diferente. Ter uma Camargo Corrêa,
A nossa carga tributária é de 35%do PIB.
Até 25%, você consegue arrecadar com
mecanismos de impostos normais. Os outros 10%
são impostos antieconômicos, antimercados