Revista ESPM - maio-jun - Brasil Assombrado. Que caminho seguir. - page 17

maio/junhode2013|
RevistadaESPM
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Arnaldo –
Quais são os gargalos de
competitividade mais graves do Brasil?
Mendonça de Barros –
O primeiro
problema mais sério é que estamos
no 11º ano de governo petista. E os
princípios do PT estão sempre volta-
dos para a economia fechada. Ainda
temos uma economia extremamente
protegida em alguns setores. Na in-
dústria, percebemos que essa prote-
ção leva a um quadro de apatia das
empresas, da falta de criatividade
combinada com a pressão de gastos.
O poder dos sindicatos é grande.
O modelo desses 11 anos cria uma
pressão de custos insuportável para
os setores de comércio, que são os
que competem com os produtos im-
portados. O setor de serviços não tem
problema. O sujeito pode pagar uma
fortuna para cortar o cabelo, mas não
vai pegar um avião e buscar serviço
fora por causa disso. A indústria está
diminuindo de tamanho e, o que é
pior, perdendo qualidade e competi-
tividade
um pouco pela ineficiência
dos empresários muito protegidos e
bastante pela estrutura equivocada
de custos. Hoje, a indústria repre-
senta apenas 10% do PIB, diminuiu
muito. E também tem a questão da
forma como o Mercosul está estrutu-
rado. Em vez de ser uma proteção, é
uma amarra. Um novo debate terá de
surgir. O próprio Edmar Bacha, que é
umeconomista do Plano Real, propôs
um Plano Real da indústria, que no
fundo é um grande debate nacional
para ver como a gente sai dessa situ-
ação. Agora, essa é uma discussão
que deve ser levada pelo governo, que
concentra um poder muito grande no
Congresso. Mas eles não conseguem,
têm uma leitura oposta. Eles têm
uma saudade mal contida do regime
militar, que fechou a economia como
um todo e agora querem esquecer os
resultados terríveis que essa política
teve no passado.
Arnaldo –
Desde a abertura de merca-
do, do Collor até agora, nenhum presi-
dente conduziu uma reforma tributária.
Vamos sair dessa armadilha umdia?
Mendonça de Barros –
Acabamos
saindo, mas é muito difícil. Primeiro,
porque temos um sistema tributário
muito centralizado, em que os Esta-
dos só têm praticamente o ICMS [
Im-
posto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços
] para arrecadar, e aí se criou
um mecanismo em que as coisas só
mudam por unanimidade. Como di-
zia o nosso filósofoNélsonRodrigues,
toda unanimidade é burra. Depois,
tem os gastos do governo federal, que
são elevados. Para se ter uma certa
responsabilidade fiscal, é preciso
um nível de arrecadação altíssimo,
o mais alto do mundo emergente. A
nossa carga tributária é de 35%do PIB.
Até 25%, você consegue arrecadar
com impostos normais. Os outros
10% são impostos antieconômicos,
antimercados. Então, temos de redu-
zir os gastos do governo. Mas não será
no governo Dilma e com esse pessoal
do PT que isso vai acontecer.
Arnaldo –
De todo modo, nenhum pre-
sidente entrou no Congresso com uma
pauta ampla de reforma tributária. O
nosso modelo institucional, da maneira
como opera o Congresso, permite que
isso ocorra emalgummomento?
Mendonça de Barros –
Omodelo per-
mite, sem dúvida. O problema é que
isso nunca foi prioridade. O Fernando
Henrique tinha lá uma agenda muito
carregada e introduziu um pedaço da
coisa, que é a Lei de Responsabilidade
Fiscal. Agora, para mudar isso, preci-
samos de umgoverno que trate o tema
como prioridade. Não é o governo do
PT, que acredita que governar é gastar.
Então, será preciso uma alternância
de poder. Até lá, vamos com uns re-
mendinhos vagabundos.
Arnaldo –
Entrando nas eleições, o se-
nhor vê diferenças claras de plataforma
econômica entre os três candidatos mais
fortes até o momento, Dilma, Aécio Ne-
ves e Eduardo Campos? Há diferenças
ideológicas palpáveis?
Mendonça de Barros –
Entre o Aé-
cio e a Dilma há claramente uma
diferença. O neto do Miguel Arraes,
o Eduardo Campos, ainda precisa
dizer a que veio, está em cima do
muro. O slogan “Posso fazer mais”
quer dizer o seguinte: “Eu acho que
a Dilma está certa, mas eu posso ser
melhor”. Não há uma mudança de
visão ideológica. Então, temos um
debate de novo entre os tucanos, que
têm uma diferença de visão da eco-
nomia, e o PT.
Arnaldo –
E como o PSDB deve traba-
lhar sua imagem para as eleições? As
privatizações, que foram uma caracte-
rística marcante da era FHC, ficaram
escondidas nas últimas campanhas.
No fundo, o governo não consegue sair
de um labirinto ideológico e, como eles
bateram tanto tempo na privatização,
como agora vão defender?
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