Revista ESPM - maio-jun - Brasil Assombrado. Que caminho seguir. - page 26

Revista da ESPM
|maio/junhode 2013
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mercado nacional
OgovernoDilma temse destacado pelo desespero emresgatar
a economia dos “pibinhos” sucessivos e da inflação resistente.
A crescente desordemmacroeconômica e a dificuldade de dar
andamento à agenda de infraestrutura assombramo Brasil,
ameaçando-nos como estigma do retrocesso. Até quando?
OBrasil, assombrado
PorMonica Baumgarten de Bolle
A
paciente telefona para o médico, apavorada.
Repentinamente, ela passara a ver pessoas
por toda parte, luzes, cores e objetos. O pavor
tinha fundamento. Afinal, ela estava comple-
tamente cega havia muitos anos. É com esse relato que o
psiquiatra e escritor anglo-americano Oliver Sacks inicia
o seu mais recente livro, intitulado
A mente assombrada
(Companhia das Letras, 2013).
A síndrome, relativamente rara que acometera a velha
senhora, sechama “doençadeCharlesBonnet”, emhome-
nagem ao botânico e naturalista suíço que a identificou
em 1769. Assim como a paciente do Dr. Sacks, Charles
Bonnet perdera a visão ao envelhecer e passara a sofrer
comas alucinações visuais que iame vinham. As vítimas
da síndrome geralmente reconhecem que seus sintomas
são irreais, frutodeumdistúrbiodamente. Aoqueparece,
esse não é o caso das autoridades brasileiras.
A crise de 2008 e seus desdobramentos — as ações
inusitadas de política econômica, as turbulências po-
líticas nos países centrais, a desordem que impera no
debate macroeconômico — enturveceram a visão dos
líderesmundiais. Fomos todos arremessados à cegueira.
Contudo, embora as autoridades brasileiras não tenham
escapado da densa névoa que encobriu a visão de todos,
impedindo a capacidade de enxergar e planejar à frente,
até 2011 o país fora beneficiado pelas ações inéditas dos
países centrais. Os estímulos monetários e fiscais ado-
tados por Estados Unidos, Europa e China perpetuaram
um quadro externo favorável que tivera início em 2004,
quando o Brasil começou a colher os frutos da estabi-
lização macroeconômica continuada pelo presidente
Lula, da alta dos preços das exportações brasileiras nos
mercados internacionais e da farta disponibilidade de
recursos estrangeiros para o país.
Apesar da cegueira, fomos ainda capazes de tatear no
escuro comalguma destreza entre 2008 e 2010 — a econo-
mia se recuperou rapidamente da recessão que sobreveio
da crise internacional e a inflação subiu relativamente
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