maio/junhode2013|
RevistadaESPM
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E
mjulhodoanopassado, o jornal
TheWashington
Post
começou a divulgar uma série de textos,
filmes, mapas e outras mídias como resultado
de uma pesquisa investigativa cujo objetivo é
tornarmais transparenteparaos americanos uma espécie
de Estado paralelo dentro da instituição pública. Coor-
denado por Dana Priest (ganhadora do prêmio Pulitzer)
e William Arrie (especialista em temas de segurança), o
levantamento relembra o caso de Watergate, quando o
Washington Post
revelou a ilegalidade do então presidente
Richard Nixon, que acelerou o processo de destituição em
1973,anotambémdaprimeiracrisedopetróleo.Pareceque,
novamente, opetróleovoltaa ser a “vedete” provocadapela
crise no mundo árabe (primavera ou despertar?), o risco
associado a preços elevados do ouro negro, por tensões
geopolíticas relacionadas aos programas nucleares do Irã
e à atual Coreia do Norte. Junta-se a isso a forte demanda
dos países emergentes.
Para entender a história das crises, é necessário remon-
tar-seàhistóriadosfatoseconômicosacontecidosdepoisda
PrimeiraGuerraMundial.CitadaporSylviaNasar,nolivro
A
imaginação econômica —Gênios que criarama economiamo-
derna emudarama história
(Companhiadas Letras, 2012), a
perspectivadeuma“erauniversal”edesuasconquistaseco-
nômicaspareciamtão irreal quantoumsonho. Alémdaas-
sustadoraperdadevidasedebens, os canaisdecomércioe
decrédito,anterioresàguerra,estavamemruínas.Emtodos
oslugaressurgiambarreirasàsexportaçõeseimportações.
Aquelesquepossuíamalgoparavenderfrequentementese
mostravam relutantes em se desfazer do bem em troca de
papel-moeda, emitido por governos falidos. Assim, grande
partedosnegócioscomeçouaser feitanabasedoescambo.
Vencedores e perdedores haviam se comprometido até o
pescoço com hipotecas para poder compreender a guerra
maiscustosadetodaahistória,exaurindonãoapenassuas
reservas,mastambémseuslimitadospoderesdecobrança
de impostos. Já em 1916, França, Alemanha e Rússia não
dispunhamdosmeiosresultantesdoimpostoderenda.Não
havia crédito para alimentar a população, pôr as fornalhas
para funcionar, recuperar as fábricas destruídas ou finan-
ciar o comércio que se renovava. A ameaça da bancarrota
tanto quanto a sede de vingança faziamcomque governos
periclitantes determinassemque alguémpagasse a conta.
Entram em cena o Tratado de Versalhes e um persona-
gem que dará muito o que falar: Maynard Keynes, estrela
em ascensão do Tesouro inglês. A cidade que conseguiu
evitar a invasão das tropas do Kaiser, apesar dos pesados
bombardeios, agora se tornara uma zona ocupada. Sedans
negros, transportando diplomatas, e desbotados veículos
militarescongestionavamasruas,enquantohomensemu-
lheres jovens, envergandouniformesdecercade27países,
se acotovelavam nas calçadas. Segundo tudo indicava, o
mundo inteiro estava emParis. Começara, dessamaneira,
o maior conflito em Apolo (razão), e Dionísio (loucura), de
todos os tempos. Confronto entre a racionalidade econô-
mica apolínia e do desejo de vida e de vingança dionisíaca.
Keynes era visto como “umdos homensmais influentes
queagiamnosbastidores”deParisaofimdaPrimeiraGran-
de Guerra. Considerado um gênio na adolescência, ele foi
preparadovirtualmentedesde oberçopara sermembroda
Universidade de Cambridge, onde obteve notas altas. Key-
nes conheceuapublicaçãode
Principia ethica
, dofilósofoG.
E.Moore,quesededicavaadefiniremqueconsistiaumaboa
vida.Seuobjetivodecríticaeraapreocupaçãodasociedade
victorianacomalutapelavida,ganhardinheiroeobedecer
A crisemundial: umconflito entreApolo eDionísio*
*F. Nietzsche:
ONascimentodaTragédia
.
OsCavaleirosdo
Apocalipse
Por Jorge LorenzoValenzuelaMontecinos
“Acrise econômicamundial;
os desequilíbrios no sistema
econômico; a revolução
biogenética; o crescimento
das divisões e rupturas sociais”
Slavoj Žižek identifica os
quatro cavaleiros do apocalipse