História
Revista da ESPM
|maio/junhode 2013
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Acreditou-se que a modernidade política e os princípios
republicanos difundidos pelo planeta após a Revolução
Francesahaviaminstaladodemaneiradurável o laicismo
navida internacional enas relações entreosEstados.Mas
não énada disso. Assiste-se à ascensãodas pretensões de
alguns Estados em se fazerem porta-vozes de religiões
transnacionais, em particular no que diz respeito a três
religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamis-
mo. Como exemplos, temos os últimos conflitos aconte-
cidos: guerranosBálcãs, Israel-mundoÁrabe, Chechênia,
Mali e atual Síria. Os Estados justificam sua política de
poder em detrimento dos grandes princípios universais
dos direitos humanos, definidos pelas Nações Unidas e
endossados pelo Ocidente, como afirma Georges Corm
em
Pour une lecture profane des conflits
(La Découverte,
Paris, 2012), publicado na
Le Monde Diplomatique Brasil
,
em fevereiro de 2013.
As duas faces da globalização
Ouso ideológicodoEstadoparaproteger apropriedadepri-
vada,comoumfatorpositivodacivilizaçãohumana,naver-
dadenãofoitãobem-sucedido,sendoaessênciadoEstadoa
proteçãodos “privilegiados” contraos “desvalidos”ou “bar-
barizados”, impedindo que governos “internacionalmente
respeitáveis” possamse aliar aos pobres. Édifícil deixar de
ver o estado de direito como o componentemais poderoso
da retórica dominante, como aquela gerada pelo bloqueio
contra Cuba. Dá a impressão de que só os Estados Unidos
não compreenderamo fimda Guerra Fria. Só se provocam
reformas estruturais estabelecendo relações econômicas,
políticas,culturaisediplomáticas,estabelecendo“relações
de novo tipo”, baseadas na igualdade, respeito à soberania
e livre determinação dos povos. A discussão exposta nos
dias de hoje é a pilhagemhistórica da ilha; primeiramente
pelos espanhóis e, emseguida, pelos americanos. APaz de
Paris de 1898não garantiu a independência, por isso veio a
Emenda Platt, que autorizava os Estados Unidos a intervir
a qualquer momento, quando os interesses econômicos e
políticosfossemameaçados,alémdaocupaçãodoterritório
de Guantánamo como base militar à perpetuidade como
forma de “proteção” ao território cubano.
As retóricas imperiais legitimamataques violentos con-
traqualquerexperiênciapolítico-econômica,comoaqueles
contra Jacobo Arbenz na Guatemala (1954) ou contra Sal-
vador Allende no Chile (1973). Na história da humanidade,
jamais se viveu um período de tão radical metamorfose,
especialmente no campo das concretudesmaterializadas,
sobretudo no cenário das máquinas, robótica e nanotec-
nologias. Emvelocidade vertiginosa, omundo se organiza
a partir da revolução científico-tecnológica permanente,
cuja influência se estende da biologia à engenharia da co-
municação.“Trata-sedeummomentodedeslumbramento,
mas tambémde dura incerteza”, observaDanilo Santos de
Miranda, diretor regional do Sesc-SP, em
Mutações: ensaios
sobreasnovas configurações domundo
(Organizador:Adauto
Novaes, Edições Sesc-SP, 2008).
Pode-se dizer, simplificandomuito, que a globalização
tem duas faces. Em uma delas o império dissemina, em
dimensão global, sua rede de hierarquias e divisões,
que mantém a ordempor meio de novos mecanismos de
controle e permanente conflito. Aglobalização, contudo,
tambémé criação de novos circuitos de cooperação e co-
laboração, que se alargampelas nações e os continentes,
Aglobalização temduas faces. Emuma
delas, o império dissemina sua rede
de hierarquias e divisões, quemantém
a ordemcomnovosmecanismos de
controle e permanente conflito