maio/junhode2013|
RevistadaESPM
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“É fundamental a produção de um gás mais barato.
O desafio é o custo Brasil.”
Winston Fritsch,
presidente da Petra Energia do Brasil
“Um país que pretende alcançar 20% do PIB
em investimentos tem de olhar para diferentes
mecanismos para atrair recursos.”
Fernando Garcia,
coordenador da Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe)
Em resumo, apesar do elevado potencial do Brasil
como um fornecedor regional, o preço desse combus-
tível está em US$ 16 por milhão de BTUs (British Ther-
mal Unit, ou Unidade Térmica Britânica), que represen-
ta um valor elevado em comparação aos US$ 2 dos Esta-
dos Unidos. A falta de infraestrutura, tecnologia e mão
de obra qualificada impõe um piso para a queda dos
preços no mercado interno. A diferença de preço entre
o Brasil e os Estados Unidos, por exemplo, vem afetan-
do a competitividade de setores da economia brasilei-
ra, tais como as indústrias petroquímica, de cerâmica
e de vidro, que dependem do gás. Para exemplificar,
o custo do gás natural na produção de composição do
preço na indústria petroquímica corresponde a 70%.
Como afirmou Paulo Pedrosa, presidente da Abrace,
durante o fórum O Futuro do Gás Natural, realizado
pelo grupo Estado, em outubro de 2012, com as limi-
tações para o desenvolvimento do potencial de gás
natural no Brasil, o deficit comercial da indústria que
utiliza intensamente esse combustível pode continuar
a crescer nos próximos anos. Tais indústrias, que re-
gistraram um excedente de US$ 15 bilhões em 2005, ti-
veram um deficit de US$ 15 bilhões em 2011. A compe-
titividade é um dos fatores que podem ajudar a baixar
os preços, trazendo mais transparência e reduzindo a
concentração existente da Petrobras.
Entre 46 países, o preço no Brasil é o oitavo mais alto
no segmento de gás natural. Mantendo-se a diferença
entre o Brasil e os Estados Unidos, parte da indústria pe-
troquímica brasileira pode migrar para o mercado ame-
ricano. Com um preço elevado, o gás nacional também
é menos competitivo do que o gás da China, da Índia,
do México e dos Emirados Árabes Unidos, importantes
concorrentes internacionais. O tipo do gás brasileiro é
outro fator limitante. No pré-sal, a parte do gás está asso-
ciada ao óleo e ao CO
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, que deve ser separado da platafor-
ma e reinjetado, em um processo mais caro. Levar o gás
para a costa até 300 quilômetros de distância também
exige investimentos em infraestrutura. Além disso, os
estoques de gás são difíceis, e transformar essa fonte
de energia em líquido, para exportação, torna o produto
final ainda mais caro.
Em resumo, argumenta-se em favor de uma revisão
para uma política mais estratégica com o objetivo de tor-
nar o Brasil mais competitivo no segmento de gás — não só
em termos de preço, mas também para tratar o potencial
do gás como uma parte mais relevante da matriz energé-
tica, favorecendo assima segurança energética regional.
De acordo com a Abrace, o Brasil deve reconhecer
a importância do gás como um elemento de mudança
geopolítica e, portanto, elaborar uma política mais
voltada para o desenvolvimento dessa energia. Suge-
re-se que o debate não deva ser apenas uma questão
de redução de preço, mas também uma política gover-
namental para promover o fortalecimento do setor
para a oferta local e o engajamento latino-americano.
Com base na experiência europeia, Nataliya Esakova
explica que tal política deve ser baseada em cinco
pilares: ampla oferta; transporte desenvolvido; dis-
tribuição eficiente; marketing competitivo (incluindo
custos); e integração regional.
A segurança energética tem suas bases fincadas na
interdependência. Os mercados de petróleo, por exem-
plo, estão fortemente ligados em diferentes países que
exercem mútua influência. Uma ruptura ou mudanças
na oferta ou demanda em um país têm repercussões em
outros
players
do mercado. No mercado de gás, o estudo
produzido por Nataliya mostra que a interdependência
existe, antes de tudo, entre o fornecedor e o consumidor
envolvido emuma transação específica.
A segurança energética pode ser definida como uma condição na qual uma
nação, seus cidadãos e a indústria têmacesso a recursos de energia a preços
adequados e livres de riscos que fazemparte do arcabouço energético