Empreendedorismo Social
Revista da ESPM
|março/abril de 2013
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um negócio que melhora o mundo,
McGraw-Hill, 2011). Se-
gundo o autor, existe sempre uma causa que se encaixa
exatamente para cada um de nós. O que precisamos é
buscar a nossa causa, encontrar aquela que se molda, se
ajusta às características pessoais e sociais que carrega-
mos. É fatoque amaioria das pessoas temumsenso inato
por justiça social, ficandoofendidas e indignadas quando
presenciam os menos afortunados sendo explorados ou
postos para trás por algumoportunista. Mas Scofield crê
na existência de umcenário que favoreça cada indivíduo
a se identificar com uma causa e fazer dela um sentido
para sua existência.
Nessavertente, oempreendedor socialGeraldoTollens
Linck escolheu o seu foco e selecionou 15 jovens de baixa
renda para treiná-los em mecânica geral automotiva. A
primeira célula do projeto foi montada dentro da sua
empresa em duas salas: uma para aulas práticas e outra
para os ensinamentos teóricos. Os alunos mostraram
disposição para continuar e foram contratados. Assim
nasceu a Escola Técnica Linck. O programa chamou a
atenção de outras empresas, inclusive concorrentes, que
passaram a utilizar os mesmos métodos criados pelo
empresário. Oque esse empreendedor social sempre quis
foi diminuir a lista dos brasileiros quenão encontramum
direcionamento para suas vidas e, consequentemente,
uma oportunidade profissional. A estratégia deu certo, e
Link acabou criando a FundaçãoProjetoPescar. Em2011,
ao completar 35 anos, sua tecnologia social (metodologia
de trabalho para a multiplicação em outros locais) já
havia sido implementada em 79 municípios brasileiros,
num total de 146 unidades do Projeto Pescar no Brasil e
mais 22 unidades no exterior, empaíses comoArgentina
e Paraguai. Em três décadas e meia, 20 mil jovens foram
formados coma ajuda de 3.630 voluntários e a doação de,
aproximadamente, R$2,2milhões por ano. Linckmorreu
em 1998, porém sua obra perdura até hoje com sucesso.
Esse exemplo permite observar a existência de três
passos essenciais para que o empreendedorismo social
aconteça, conforme explica o artigo
Social entrepreneur-
ship: the case for definition
(
Empreendedorismo social: o
processo de definição
), escrito por Roger L. Martin e Sally
Osberg na revista
Stanford Social Innovation Review
, em
abril de 2007. Segundo os autores, primeiro é preciso que
se encontre uma característica na sociedade, que, mes-
mo sendo estável, não pode ser identificada como justa
para com toda uma população. O próximo passo para o
empreendedorismo social é identificar uma oportuni-
dade de mudança e transformação nessa característica
“injusta” e desenvolver uma proposta clara de valor. O
desenvolvimento dessa iniciativa envolve cinco etapas
fundamentais:momentode inspiração; criatividade; ação
direta; coragem; e firmeza. Finalmente, coma ideia já em
prática, o empreendedor social dá o terceiro passo, que é
buscar, por meio da imitação, desenvolver um ambiente
estável para que a prática seja adotada em longo prazo e,
potencialmente, por outras sociedades.
Em
80 homens para mudar o mundo
(Clio Editora,
2009), Sylvain Darnil e Mathiel Le Roux detalham os
encontros que tiveram com pessoas “portadoras de bom
senso e soluções para o amanhã”, como eles mesmos
definem os empreendedores sociais. Uma das conclu-
sões do livro é que nenhuma das inovações retratadas
apresenta uma solução miraculosa capaz de resolver,
pela magia, todos os males do mundo. Mas os autores
encontraram algo “milagroso” em todos os perfis, que
é o estado de espírito pesquisador, obstinado, criativo
Conhecidocomo”banqueirodospobres”,MuhammadYunus
ganhouoPrêmioNobel daPazem2006aocriar obanco
Grameen, primeira instituição financeiraespecializadaem
oferecermicrocréditoàpopulaçãocarentedeBangladesh
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