Revista ESPM - março-abril - Empreendedorismo. O grande sonho brasileiro. - page 90

Posicionamento
Revista da ESPM
|março/abril de 2013
90
O
s significados e valores
associados ao trabalho
são fundamentais para
se compreenderem os
hábitos e culturas de cada época e as
transformações históricas em todo
omundo. É com essa crença que me
volto à reflexão sobre o empreende-
dorismo social, emuma perspectiva
comparativa, por meio dos aponta-
mentos iniciais da minha pesquisa
de pós-doutoramento sobre as nar-
rativas de empreendedores sociais
do Brasil e de Portugal. Esse é um
projeto financiado com bolsa de es-
tágio pós-doutoral no exterior pela
Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal deNível Superior (Capes).
Estudos comparativos entre cul-
turas distintas, por mais próximas
que possam parecer, revelam como
estamos imersos em teias de sig-
nificados naturalizados em nosso
cotidiano, que pouco nos diz quanto
estamos tãopróximos. Aformacomo
o empreendedorismo social ganha
sentido, de acordo com o cenário
observado, éumexemploclarodessa
ideia. Eis um ator social que pode
nos ajudar a entender mudanças em curso no sistema
capitalista e sinalizações de um futuro possível. Mas,
dependendo do ponto de vista a ser abordado, esse mes-
mo ator social pode tornar bastante confusa a leitura do
mundo emque vivemos. Expor alguns dos paradoxos que
envolvemesse tema éumdos objetivosdestebreve artigo.
O mundo do trabalho, uma das principais esferas de
mediação humana, atualiza-se conceitualmente ao espí-
rito do tempo pormeio do papel do empreendedor social,
que envolve duas vertentes históricas do capitalismo.
De um lado, o empreendedorismo aparece como uma
das expressões mais evidentes do neoliberalismo, que
está diretamente relacionado com a competitividade,
a busca de soluções individuais para a escassez de pos-
tos de emprego, a iniciativa própria em obter lucro. Do
outro, temos o trabalho social, que ganha força em um
momento emque a crise do capitalismo coloca emxeque
o Estado Social (
Wellfare State
), tendo como epicentro a
União Europeia. Essas duas vertentes apontam para o
empreendedorismo como algo que se refere à capacidade
do sujeito de gerir a si mesmo em busca da alta perfor-
mance, como descreve Alain Ehrenberg no livro
O culto
da performance: da aventura empreendedora à depressão
nervosa
(Ideias &Letras, 2010). Neste caso, é preciso estar
sempre atualizado e competitivo para semanter ativo no
mercado, como forma de sobrevivência em uma espécie
de campo de batalha, onde há lugar privilegiado somente
para os vencedores.
Por outro lado, o espírito comunitário reveste o traba-
lho social inserido à prática no sistema capitalista. As
corporações pegamcarona nessa ideia e alimentamseus
discursos de significados de transformaçãodomundo, de
shutterstock
De umlado, o empreendedorismo aparece comouma
das expressões doneoliberalismo. Do outro, temos o
trabalho social, que ganha força emummomento em
que a crise do capitalismopõe emxeque oEstadoSocial
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