Revista ESPM - março-abril - Empreendedorismo. O grande sonho brasileiro. - page 93

março/abrilde2013|
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em2005, e o Instituto doEmpreendedorismo Social (Ies),
criado em2008. Oobjetivo dessa iniciativa é promover a
identificação de iniciativas de alto potencial de empre-
endedorismo social em todo o país.
Voltemos nossa atenção para o posicionamento do Ies
paraperceberatramadiscursivaqueenredaopapeldoem-
preendedor social emum tempo e emumespaço precisos.
Em Portugal, bem como em outras nações da União Euro-
peia, comoEspanhaeGrécia, acriseéumtema recorrente,
queatravessaocotidianoearticulaeconomia,política,con-
sumo e trabalho. Os sintomas são percebidos nitidamente
namídia, nas ruas, na divulgaçãodos índices econômicos,
no nível de desemprego, na (des)confiança do consumidor
e no desaquecimento da economia. Em contrapartida, a
crise é o ponto inicial dos projetos de rearticulação social.
Nesse sentido, o empreendedorismo social é posicionado
na função de inovar e encontrar caminhos. Ele assume o
papeldepromoverobemcomumetentaocuparalacunade
umpoder público que não consegue responder à altura aos
desafiosquesãoimpostosapartirdacrisequesegeneraliza
pelasociedade.OsitedoIesbuscamarcaradiferençaentre
o empreendedorismo e o empreendedorismo social:
“Em Portugal, confunde-se, frequentemente, empreende-
dorismo social com caridade. Ainda está por assimilar
este novo conceito: aquele que implementa projetos de
intervenção social de uma forma sustentável. [...] O em-
preendedor social é alguém que reconhece um problema
social e utiliza os princípios de empreendedorismo para
organizar, criar e gerir empreendimentos que promovem
transformação social. [...] É um agente de mudança
social, aproveitando oportunidades para a melhoria dos
sistemas, inventando e disseminando novas abordagens
e soluções sustentáveis que criam valor social”.
Entenda-se como sustentáveis as iniciativas capazes
de levantar recursos a partir das próprias ações, ou cap-
tadoras de investimentos da iniciativa privada, e para as
quais os problemas sociais são vistos como oportunida-
des. O que chama mais atenção é a forma como o termo
“social” é utilizado
a pontuar as frases como um signo
quase vazio, a ancorar um discurso que, sem ele, pode
caracterizar qualquer ação empreendedora.
A lógica motivacional que dá sentido à ação empre-
endedora, calcada na psicologia positiva aplicada à
autoajuda
que pode ser percebida, por exemplo, nos
depoimentos inspiracionais da sessão Day1 do relató-
rio anual
Endeavor Brasil: 10 anos de empreendedorismo
de alto impacto
, que passa a incorporar também a ação
social, comoqualquer outronegócio. Vejamos alguns tre-
chos do texto de apresentação do balanço das atividades
da Endeavor de 2010, quando a organização completou
dez anos no Brasil, intitulado
A revolução percebida
:
“Criar negócios. Inovar. Transformar ideias emoportunida-
des. Realizar. Historicamente, o crescimento de uma nação
tem sido liderado por empreendedores. Eles constroem
países, criamtendências, desafiamas regras e revolucionam
indústrias. [...] Todos os dias, empreendedores transformam
a vida de pessoas, em qualquer região do planeta”.
É nesse ponto que, em forma de (in)conclusão, mais
do que apresentarmos respostas, lançamos perguntas.
Qual é a grande diferença entre empreendedorismo e
empreendedorismo social, se o discurso em essência
é o mesmo e se as práticas se confundem? Estamos a
observar uma revolução, uma transformação essencial
no capitalismo, tensionado pelo espectro da crise
que,
se preservou o Brasil dos últimos anos, está na pauta do
dia das nações identificadas com a alcunha de Primeiro
Mundo? Ou temos uma nova mutação no espírito do
capitalismo, sustentada por uma retórica que generaliza
a lógica do empreendedorismo para incorporar o papel
do Estado, progressivamente deslocado a uma posição
inócua na dinâmica econômica das nações?
Mais do que exemplificar algo de novo no ar, a noção de
empreendedorismo social, com suas contradições e para-
doxos, parece emitir sinais confusos a quem busca captar
as lógicas que regemo nosso tempo.
Vander Casaqui
Professor do curso de pós-graduação em Comunicação e
Práticas de Consumo da ESPM. Bolsista de pós-doutoramento
da Capes (processo nº 10542-12-4)
Qual é a grande diferença entre
empreendedorismoeempreendedorismo
social, se odiscurso emessência é o
mesmo e se as práticas se confundem?
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