e) a economia observada no varejo americano,
em decorrência da liberação de mão-de-obra
devido à natureza de auto-serviço dos super-
mercados, não foi observada no Brasil, onde
existe uma ampla oferta de mão de obra
disposta a trabalhar por baixos salários.
A tímida performance dos supermercados nos
seus primeiros anos no Brasil também pode ser
explicada pelo fato de que até 1968 os varejistas
tinham que pagar o IVC (imposto sobre vendas e
consignações) e os constantes aumentos do IVC
e s t imu l avam a sonegação de impostos. Os
supermercados, no entanto, não podiam aderir à
prática da sonegação porque os pagamentos eram
registrados mecanicamente pelas caixas regis-
tradoras no ato da compra e na presença do con-
sumidor. A economia desfrutada pelas pequenas
lojas independentes devido à sonegação de impostos
não era usufruída pelos supermercados.
Como resultado dos fatores apresentados
acima, os supermercados não eram capazes de'
vender seus produtos a preços mais baixos que a
concorrência e, conseqüentemente, não obtinham
grandes volumes de vendas nem um alto giro de
seus estoques. Portanto, os supermercados não
possuíam as condições necessárias para a compra
de grandes lotes de mercadorias e para barganhar
melhores preços junto aos seus fornecedores.
Com o 'milagre brasileiro' entre 1968-1973
a economia expandiu-se assombrosamente. A
estrutura da distribuição de renda favoreceu certos
segmentos da classe média, o que contribuiu para
estimular o crescimento do setor varejista. Foi
durante o período do milagre que os supermercados
começaram a oferecer serviços mais sofisticados
e produtos personalizados para servir os segmentos
da classe média-alta e da classe alta.
Os supermercados foram favorecidos pela
mudança na legislação tributária que substituiu o
IVC pelo ICM (imposto sobre a circulação de
mercadorias), o qual era taxado apenas sobre o valor
ag r egado a cada e t apa do p r oce s so de
comercialização. Com o ICM as operações de
transferência de produtos dentro de uma mesma
empresa não estavam mais sujeitas à tributação, o
que diminuiu o custo dos supermercados e aumentou
a sua competitividade.
A c r i ação de linhas de c r éd i to para
supermercados em 1971 também incentivou o
crescimento da indústria supermercadista.
No
entanto, o acesso a crédito era restrito e apenas
grandes supermercados eram capazes de preen-
cher os requisitos necessários à obtenção de crédito.
De acordo com Cyrillo (1987) esta estratégia fazia
parte de uma política deliberada por parte do
governo de estimular a concentração do setor
varejista numa tentativa de aumentar sua eficiência.
De fato, o crescimento das cadeias super-
mercadistas, estimulado pelo governo, facilitou a
compra de grandes lotes de produtos, o que, por
sua vez, teve efeitos positivos na eficiência da in-
dústria como um todo: por um lado, contribuiu para
a amortização dos custos fixos em grandes volumes
de operações e, por outro, aumentou o poder de
barganha dos supermercados frente aos fornece-
dores. Só então os supermercados foram capazes
de começar a oferecer produtos a preços compe-
titivos.
O grau de concentração econômica do setor
varejista de alimentos nos anos setenta está ilustrado
na Tabela 2.