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que um critério válido de auto-regulamentação é o

mercado. E isso vale não apenas para as peças

publicitárias, como para os próprios produtos.

Se uma emp r e sa não entrega a seus

consumidores potenciais o produto ou serviço que

promete e que é esperado, eles se vingam, deixando

de comprar.

Se uma mensagem publicitária não é de

alguma forma relevante para uma audiência visada,

ela é simplesmente ignorada.

Mais ainda, se uma mensagem agride os

hábitos, valores ou crenças de um público-alvo,

pode despe r t ar mov imen t os de protesto

extremamente intensos.

mensagens publicitárias é contribuir de maneira

e f e t i va para o con j un to dos ob j e t i vos

mercadológicos de nossos amáveis Clientes. Mas

isso também não é motivo para julgamentos de

ordem estética, nem de ordem moral.

Quadros hoje em museus, respeitadíssimos,

foram pintados sobre encomenda e o objetivo era

'satisfazer a vaidade do retratado. Toda obra sacra

tinha como objetivo a exaltação do Senhor, embora

uma catedral possa ser admirada por seu valor

estético, histórico ou social pelo maior incréu.

Ou seja, nem toda arte é

ars gratia artis.

E

se fizermos, talvez por deformação profissional,

uma "análise mercadológica da arte", já que

"artistas" freqüentemente se arrogam o direito de

f azer " a n á l i s es e s t é t i cas da p r o p a g a n d a ",

poderemos dizer que toda arte atende a uma

necessidade humana, seja ela de se expressar ou de

se extasiar. Não é, por acaso, exatamente por isso

que pode se tornar uma mercadoria? E, deste

prisma, nenhuma arte seria

ars gratia artis.

Da mesma forma, qualquer peça publicitária

comporta diversos níveis de análise, entre eles os

do valor estético, da efetividade e o da representação

social.

Uma análise dos" "reclames" dos anos

quarenta pode nos dizer muito sobre a sociedade

de então. Como os folhetins, as músicas, os filmes,

as pinturas e outras manifestações do expressar

humano também o fariam.

2

O critério da efetividade tem claramente

como parâmetro o objetivo visado.

No caso da imagem sacra, por exemplo, sua

capacidade de despertar ou reforçar a fé e a

adoração ao Senhor. Se possível, sua prece. No

caso da publicidade, atrair a atenção e a simpatia

do potencial consumidor para o produto. Se

possível, sua intenção de compra.

E, finalmente, o critério estético que tem

como um dos parâmetros o despertar de uma

emoção estética.

Aqui, à semelhança de outras formas de

comunicação, do simples diálogo entre namorados

à mais importante das obras literárias, seja ela qual

for, é preciso fazer-se a distinção entre a intenção

de quem emite a mensagem e a forma pela qual ela

é recebida.

Assim como uma pessoa faz parte da obra,

recriando-a, um telespectador também recria um

comercial. E as pesquisas estão aí para comprovar

o fato de que muitas vezes as pessoas "entendem"

de forma diferente uma mesma peça publicitária.

O que também não é diferente da apreciação,

como exemplificamos, de uma obra sacra que, para

um muçulmano ou protestante pode ser uma

heresia, com este julgamento suplantando qualquer

senso estético.

Isso quer dizer que, para alguns, o simples

fato de se tratar de uma peça de publicidade também

pode suplantar qualquer senso estético.

Nos dois casos, contudo, um exame mais

cuidadoso pode nos revelar os porquês destes

julgamentos. Mas há um outro tipo de julgamento, a

que estão sujeitas todas as formas de expressão humana,

principalmente a "arte", o tribunal do tempo.

3

É esse (e somente esse) que nos dirá, no

futuro, se peças publicitárias contemporâneas

ganharão (ou não) o

status dos posters

publicitários

de Mucha ou de Lautrec.

Ouso até ir mais longe nessas apreciações.

Se a arte da Idade Média, voltada para o Céu e

para a perenidade, tomou a forma sacra e das

catedrais, por que não a arte de uma sociedade

mercantilista, voltada para os bens materiais

descartáveis não tomaria a forma do artista pop

descartável ou do comercial de 30 segundos idem?

Mas aí a crítica não seria mais em relação à

manifestação artística e sim à sociedade que a produz

e que ela retrata, reproduz...ou até mesmo critica.

Ou, levando a afirmação de Doc Comparato

ao extremo e raciocinando por absurdo: será que

não é exatamente a alma humana de nosso tempo

que é revelada pela publicidade veiculada?