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Nasci e fui criado em Copenhague, na Dinamarca.

Aos 7 anos meu bairro era o meu mundo. Casa,

escola, parques, amigos, avós, tudo ali dentro dos

meus domínios. Aquele meu império tinha seus

marcos e monumentos. As vitrines da loja Magasin

du Nord, a confeitaria Irma, o bonde D.S.B., o

cinema Palads, o posto Esso junto à estação

rodoviária.

Havia também as riquezas únicas do meu

reino: Coca-Cola, meu refrigerante oficial; meu

sorvete Frisko; as revistas infantis Anders And, que

só eu e minha turma liamos. Eu sabia de cor e

salteado as formas, as cores, as posições de cada

coisa, eu conhecia todos os cheiros, eu dominava

os movimentos de tudo ali.

Até que um dia eu viajei para Virum, cidade

vizinha, a 58 km do meu bairro. Foi aí que tudo

começou a mudar para mim. Lá também havia uma

confeitaria Irma, um cinema Palads, uma loja

Magasin du Nord com vitrines iguais à minha loja

Magasin du Nord. Encontrei até um posto Esso,

só que não era junto à rodoviária, como o meu. Vi

outros meninos tomando a minha Coca-Cola, o meu

sorvete Frisko. E lendo as minhas revistinhas

Anders And!

Primeiro entrei em estado de choque, depois

chorei com um sentimento de perda e traição, uma

sensação de desamparo, de falta de referências.

Perdi meu reino, pensei. Aumentei o meu mundo,

como mais tarde aprendi.

Hoje, vejo o Mundo como se ele fosse o meu

bairro. Para mim e para um número inevitavelmente

cada vez maior de pessoas, o Mundo é o nosso

bairro. Nele existem marcos e monumentos, existem

riquezas únicas, partilhadas de forma

razoavelmente uniforme por muita gente. São as

marcas neo-globais, que transitam com

naturalidade entre as pessoas, não entre os países.

Ainda e sempre a Coca-Cola, também Marlboro,

Nike, Martini, McDonald's, Nescafé, Heineken,

Apple, Calvin Klein, Motorola, Kodak, Esso, CNN,

MTV, Sony e tantas outras. Até marcas de varejo,

como Carrefour, Wal-Mart (quem se lembra da

Sear's, que um dia, assim de repente, deixou de ser

importante e sumiu do meu quadro de referências?),

hoje são tão nossas quanto um dia foram minhas a

confeitaria Irma e as lojas Magasin du Nord.

O que há de comum entre todas as marcas,

estas de hoje e aquelas do meu passado? Todas

elas são marcas

locais.

Sim, elas são locais, porque

conseguem ter uma

relevância local

para um

gigantesco número de consumidores, não importa

em que canto do mundo eles estejam. Para cada

um de nós, elas são marcas nossas, porque são

marcas próximas, familiares, que nos dizem

respeito, significam algo importante e têm valor.

Não importa sua origem, onde elas nasceram e de

onde elas vieram. Importa é que elas fazem parte

do nosso mundo.

Este, portanto, é o futuro do Marketing e da

Comunicação. Trabalhar com

marcas locais.

O

que não é nenhuma novidade, já que sempre foi

assim: as marcas têm sucesso quando estão física

e consistentemente próximas, disponíveis aos

consumidores; quando elas têm um significado

relevante, são importantes para os consumidores.