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J U L H O
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A G O S T O
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2 0 0 3 – R E V I S T A D A E S P M
é o resultado de um longo investi-
mento na capacidade de se desen-
volver. Num país desenvolvido,
comoosEstadosUnidos,ascrianças
pobres ou ricas têmmais oumenos
asmesmaspossibilidadesdeestudo.
Então, elas chegambempreparadas
à universidade.Alémdisso, há uma
questãocultural.Onorte-americano
temcaracterísticasdepersonalidade
diferentes dobrasileiro. Eles sãoum
povo realizador. Eles fazem aconte-
cer.Obrasileiroémaiscriativo,mais
inovativo, adaptativo–mas também
dispersivo.Quando se temuma ca-
racterística realizadora, o trabalho
aparecemais.Masnós temospesso-
as, em nível bem operacional, que
têm uma criatividade, uma adapta-
ção, que você não vê lá fora. Lá, o
esquema é:Qual éomeu trabalho?
Então, entroàs9e saioàs5, epron-
to. Nós vimos em uma reunião, na
Filadélfia,disseram-nos: “Nuncavi-
mosexecutivos tãocriativose inova-
dores quanto os brasileiros”. É essa
históriade terque“sevirar”. Jáopovo
norte-americano, desde pequeno,
tem tudomuito estruturado: a esco-
la, acasa, ocarro...
Revista da ESPM
– Uma expec-
tativadequeas coisasocorramde
certa forma e é assim que elas
acontecem.
ELAINE
– E o governo garante. O
ser humano é produto da natureza
maisambiente.Comoelevemdeum
ambiente estruturado, quando for
adulto, vai ser uma pessoa
estruturada. Acho que é a isso que
seuamigo se refere.Vocêvêaques-
tão da realização num escalãome-
nor. Isso fazumadiferença enorme.
Agora, sevocêprecisadeumacoisa
foradopadrão,écomplicado.Agen-
te vê isso aqui no dia-a-dia. Às ve-
zes, você liga e diz que precisa de
uma coisa diferente e as pessoas se
assustam porque precisam de um
tempo para entender como vão fa-
zer, porque saiu da rotina. Não es-
tou criticando, dizendo que é bom
ou mau, só dizendo a constatação
deumacaracterística.
Revistada ESPM
–Quando a gen-
te contrapõe empreendedorismo X
empregabilidade, será que não
estamos propondo uma falsa
dicotomia?
ELAINE
–Acho esseumdos pontos
mais importantesdasuapauta.Auni-
versidadenãoestá fazendooseupa-
pel. Acho que amaioria delas vê o
seu trabalho como começar no pri-
meiroanoe terminarnoquinto. Eaí
joga no mercado profissionais não
preparadosparaumaconstruçãode
carreira. Tem um autor chamado
Charles Handy que escreveu sobre
mercadode trabalho futuro.Háuma
teoria dele que ele chama de “Aor-
ganizaçãoem trevo” (videFig.1).Ele
temaseguinte teoria:Aorganização
do futuro será composta por quatro
quadrantesquese inter-relacionarão.
Num primeiro quadrante vão estar
aspessoasque fazempartedo
core-
business
da empresa. O que é isso?
Sãopessoas que trabalham
full time
paraaorganizaçãoequedefendem
a estratégia dela. Eu não posso, por
exemplo, trabalharparaaRightSaad
Fellipelli e trabalhar para o concor-
rente direto dela porque detenho a
estratégia da organização. Só que
esse quadrante está e será reduzido
a30,40%doqueele já foi.Ouseja,
seeu trabalhavacom100pessoasno
meu
core-business
,voupoder traba-
lharcom30ou40,porqueeu tenho
os outros quadrantes. No segundo
quadrante estão os meus clientes e
osmeus fornecedores; no terceiro, as
empresasterceirizadasequarteirizadas;
e, noquartoquadrante, eu tenho fun-
cionários temporáriosou interinosaté
em nível executivo. Essas empresas
se inter-relacionam,ouseja,existem
fornecedores, que servemadois tre-
vos, ou executivos temporários que
trabalham emmais de uma organi-
zação.Apenasoprimeiroquadrante
A
ORGANIZAÇÃO
EM TREVO – CHARLES
HANDY
“
CORE BUSINESS
DA EMPRESA”
CLIENTES
E FORNECEDORES
PROFISSIONAIS
TEMPORÁRIOS
OU INTERINOS
EMPRESAS
TERCEIRIZADASE/OU
QUARTEIRIZADAS
B)
A)
C)
D)
Será 30%do que é hoje
Profissionais
trabalham full time
pois detêm a estratégia empresarial
Prestam serviços
para diversas empresas
yw
ADRIANA FELLLIPELLI E ELAINESAAD
FIGURA1