Julho_2003 - page 104

109
J U L H O
/
A G O S T O
D E
2 0 0 3 – R E V I S T A D A E S P M
cresce? É o de prestação de servi-
ço. Amulher é boa nisso, porque
ela acolhe.
Revista da ESPM
– Tenho, ainda,
uma pergunta na pauta. Vivemos,
hoje, numa cultura que aplaude
quem demite para tornar a empre-
sa mais rentável. Da minha parte,
isso me deixa meio indignado.
Como vocês vêem essa questão?
ADRIANA
– Acho que o próprio
mercado responde. Quando você
vêoescândalodaArthurAndersen,
outrosescândalosetc., comoéque
você vê isso? Se você só olha nú-
meros,vocêestimuladeterminados
comportamentos dentro das orga-
nizações que, por vezes, fazem
com que as pessoas priorizem so-
mente os resultados e deixem de
lado a ética e seus valores; passa a
valer tudopara seobterbons resul-
tados. Tudo que é extremo não é
bom, já dizia o ditado popular,
como também só se pautar em re-
lações e acomodações sempensar
em resultados, não funciona. De-
vemos buscar atender o equilíbrio
e bom-senso.
Revista da ESPM
– Mas esses es-
cândalos não ocorreram porque
mandaramaspessoasembora;mas
por terem sido desonestos e foram
descobertos.
ADRIANA
–Uma coisa está ligada
a outra, porque, namedida emque
sou aplaudido quando demito pes-
soaspara ter lucro... Eu tenhovárias
maneiras deconseguir esse lucro.A
questãoéoqueestápor trás.Porque
uma ação sobe se estou abrindo
empresas naAméricaLatina inteira?
Mesmo que o mercado não esteja
legal,nãovaidar lucro.Não fazmal.
Se eu colocar umas estrelinhas na
AméricaLatina, as ações vãovalori-
zar. Então, eu dirijo a empresa para
quem? Para o mercado de ações?
Ondeestãoaqueles “statements”de
missão bonitos tipo da Johnson &
Johnson, ou outras empresas, que
vemos e são fantásticos porque fa-
zemcomqueasempresascresçam?
A gente tem de perguntar quais são
osvaloresquenosvãonortear.Fazer
tudo pelo ídolo do dinheiro e vale
tudo, ou a gente vai ter outros valo-
res?Aí entra, de novo, a questãoda
marca, pois voudizer: “Eu, profissi-
onalAdriana,me identificocomqual
marca? Uma marca que luta pelo
dinheiro e faz qualquer coisa para
subir a ação na Bolsa ou por uma
marcaque temoutrasvisõesdemer-
cado?” Hoje é uma tendência dos
jovens escolhermarcas que tenham
maisavercomseusvalores,sua iden-
tidadepessoal,comasquaiselessen-
tem orgulho de associar o próprio
nomeeacarreira.
ELAINE
– Esse assunto émeio com-
plicado. A organização não precisa
deixar de ter valores. Mas qual é a
missãodeumaempresa, deumem-
presário?Paraqueoempresáriopos-
sa defender valores, ele precisa que
sua empresa seja financeiramente
saudável.Então,elesevênumasitu-
açãode: “Nãoestouvendendo”.
Revista da ESPM
– Quer dizer, se
eu não mandar pessoal embora, a
empresa fecha.
ELAINE
– Pois é. Tem gente que
manda embora por mandar? Acho
queaté tem, paraaumentar o lucro.
Aí, concordo com aAdriana. Quer
dizer, ao invésdeeugerarmais em-
prego, fico só preocupado com o
meubolso. Éahistóriadoempresá-
rio rico, empresa pobre. Com isso
não concordo. Mas também não
podemos deixar de lembrar que
muitosdospapéisqueogovernobra-
sileirodeveriaestar fazendonãoestá,
e isso não pode onerar o empre-
sariado. “Amigos, tenhammenosdi-
nheiro, dêemmenos lucro,masnão
demitam. PorqueoBrasil precisade
empregos.” Isso não está certo. Há
empresários, como políticos – bem
intencionados,mal intencionados –
comoemqualquergrupo.Masaem-
presa temquesobreviver.Muitasve-
zes, você vê empresários que têm
quedemitiresentem-semalpor isso.
Mas éumadecisãoqueele temque
tomar, casocontrário, todas as pes-
soas que lá estão vão ficar sem
yw
ADRIANA FELLLIPELLI E ELAINESAAD
1...,94,95,96,97,98,99,100,101,102,103 105,106,107,108,109,110,111,112,113,114,...123
Powered by FlippingBook