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J U L H O
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A G O S T O
D E
2 0 0 3 – R E V I S T A D A E S P M
Revista da ESPM
– É comum o
homem de classe social mais baixa
quenão sabecozinhar.
ELAINE
– E aí vem aquela questão
da jornadadupladamulher, porque
aAmérica Latina émuitomachista.
Então, ela vai ser frentista de posto,
masquandochegaemcasa, temque
cozinhar, lavar roupa, pois não tem
empregada. Mas, mesmo no
operacional, amulher tem galgado
posições.Aliás,naExpomanagement
daArgentina,uns trêsouquatroanos
atrás, estavaoTomPetersnumaudi-
tóriocomcincomilexecutivos,eum
deles perguntou: “Se o Sr. pudesse
darumacaracterística importantedo
mercado de trabalho daqui a dez
anos, qual seria?” Ele respondeu:
“Daqui a 10 anos, vou estar nessa
mesma exposição, e nesse mesmo
auditório estarão sentadas 80% de
pessoas do sexo feminino.” É algo
quenão temvolta.Háumacoisa in-
teressante. Na pré-história, o traba-
lhoerabraçal. Entãoohomemevo-
luiuporqueohomem é fisicamente
mais forte. Mas quando o trabalho
migrouda situaçãobraçal paraa in-
telectual, amulher começou a pas-
sar à frente. A mulher tem uma
intelectualidade,umacompetência...
Revista da ESPM
– Essa adminis-
tração do conhecimento é recentís-
sima. Algumas décadas apenas, em
milênios.Adriana, falesobreascom-
petênciasmasculina e feminina.
ADRIANA
–Concordo que aAmé-
rica Latina é aindamuitomachista.
Mas é tambémdamulher a respon-
sabilidade de mudar essa questão,
porque omachismo também é esti-
mulado pelas próprias mulheres. A
mãediferenciao filho... Elenão lava
a louça,masa filha sim, ouelaarru-
ma a casa e ele vai ajudar o papai.
As mulheres são as grandes
perpetuadorasdomachismo.Écom-
plicado falar sobre isso, porque te-
mos dificuldades nas nossas própri-
as casas, por umaquestãocultural.
Revista da ESPM
– Eu tenho aqui
a edição do
Economist
, afirmando
que os cargos de direção ainda são
majoritariamentemasculinos. Enão
sãomais de 50%; são até 90%, em
certasáreas.Queriaquevocês falas-
semumpouco sobre isso.Temos re-
lativamente poucas mulheres em
cargosdedireção,noBrasileno res-
todomundo.
ADRIANA
–Oqueagentevêéque
há algumas competências que são
requeridas, hoje, paraumnovoesti-
lo de relacionamento entre lideran-
çaesubordinado.Umapesquisa feita
pela Right mostra os fatores de re-
tenção de talentos dentro das orga-
nizações.Umdesses fatoresáapró-
pria relaçãocomos líderes. Porque,
às vezes, você está aténumamarca
boa, mas as pessoas não ficam por-
queorelacionamentocoma lideran-
çamaispróximaé,simplesmente, in-
suportável.
Revista da ESPM
– O que você
quer dizer com “marca”?
ADRIANA
– Marca é o
branding
.
Por exemplo, você trabalha na
Volkswagen. Éumorgulho trabalhar
naVolkswagen, na Mercedes Benz
etc. Antigamente, minha mãe, por
exemplo, achavaomáximo ser fun-
cionáriodoBancodoBrasil.Quan-
dovocêescolhiadeterminadasmar-
cas para trabalhar, elas significavam
umdeterminado
status
, uma garan-
tiadedesenvolvimentoprofissional.
Hoje, essamarca, por si só, não re-
témmais,porquea liderança temum
papel fundamental no desenvolvi-
mento desse subordinado. Se você
tiver um líder que é preparado, ele
vai fazer comqueessaempresa seja
mais engajada,mais comprometida
e, conseqüentemente, dê melhores
resultados.Aí,agentevoltanaques-
tão do Perfil Psicológico, diagnosti-
cadopelo instrumentoMBTI–Myers
BriggsType Indicator. Isso tem a ver
com sexo?Acho que não. Hoje em
dia, acho que tem a ver com algu-
mas características que podem ser
mais encontradas por uma estimu-
laçãoculturalnasmulheres. Issonão
quer dizer que pode ser assim pelo
restoda vida. São essas característi-
yw
ADRIANA FELLLIPELLI E ELAINESAAD