Julho_2006 - page 21

Lívia
Barbosa
e Letícia
Veloso
23
julho
/
agosto
d e
2 0 0 6 – Revista da ESPM
do“eu”éomodelo“normal”contra
oqual todosdevemsercomparados,
no caso alemão, se enxerga uma
preocupaçãoemvalorizaro“outro”
em sua especificidade.
Quando incorporamos preo-
cupações contemporâneas sobre a
dimensão política do contato mul-
ticultural, ou seja, quando todos os
povos e culturas são incorporados
em um todo, uma vez que a dife-
rençaépercebidacomoconstitutiva
davida social,omodeloalemãoen-
fatiza, sempre,o fatodeque sedeve
reconhecerovalorde todosos seres
humanos, independentemente de
suas especificidades culturais.Mais
ainda, faz parte deste reconheci-
mentoadesconstruçãodospróprios
preconceitos, mas em um sentido
muitodiferentedonorte-americano
analisado acima. Neste contexto, o
que importa é a superação do pre-
conceitodevidoànecessidadedese
valorizar o outro em sua diferença.
O pressuposto é uma sociedade
onde todos se percebem como di-
ferentes, mas igualmente valoriza-
dos em termosmorais.Afinal, todos
compartilhamde uma humanidade
básica. O preconceito, assim, é
desconstruído não porque seria
prejudicial aos negócios –comono
casonorte-americano–,masporque
todos devem aprender a viver em
paz dentro de uma sociedademul-
ticultural por definição.
A implicação desta visão para o
treinamento intercultural oferecido
éoconhecimentomaisaprofundado
sobreo “outro”, nabuscade seme-
lhançasepreferênciascomuns, que
podem ser trabalhadasemconjunto
para enriquecer a comunicação
intercultural.
Como contraponto aos exemplos
norte-americano e alemão, cons-
tatamos que não existe ainda um
“modelobrasileiro” de treinamento
intercultural – o que, por si só, já
justifica este estudo, pois clara-
menteexisteaqui ummercadoa ser
explorado, tanto academicamente
quanto pelos negócios. A maior
parte dos materiais voltados para
a questão do gerenciamento inter-
cultural são traduções demateriais
norte-americanos, o que por si só
cria um “bias”, na medida em que
todo omodelo norte-americano se
funda na naturalização da cultura
norte-americana, aomesmo tempo
que não traduz a visão que muitas
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