Revista da ESPM
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Maio/Junho de 1998
O
objetivodaminha apresenLação
não é o de esgotar um tema tão
abrangente nem aprofundá-lo de
fonna acadêmica. Minha intençãoé trazer
o
tc~tcmunho
de um grupo de empresa de
comunicação que vem acompanhando a
evoluçãodocenário
bra~ileiro
nos últimos
72ano~.
Pmnc:omeçar,é impo1tanteexplorarwn
poucomai1>a idéiade identidadenacional no
mundodehoje.Nosúltimosanos.temossido
bombardeados dimiamente com a palavra
"globali;ação", de maneira Lal que fica a
impn:ssãodeque,
as~im
como os produtos,
todos os humanos tomar-se-ão em pouco
tempo muito parecidos em pensamentos e
atitude..'>.Aglobali;..ação
traz
a idéia
de
univer–
..,alidade. de um mundo cada vez mais
interdependente. Como conseqüência.
alguns imaginaram que a integração
econômica seria naturalmente seguida de
uma unifonni;ação cultuml. a partir dos
padrões ocidentais.
Mas não
é
exatamente isso o que
vem ocorrendo. A maior parte dos
connitos ocorridos nos anos 90 não
é
ideológico nem político, mas sim fruto da
fricção entre diferentes culturas ou
civili;ações. Nas palavras do professor
Samuel Huntington, da Universidade de
Harvard, em seu excelente livro
"The
C/ash Of
Civili~ation
and The Remak–
ing ofWorld Order",
publicado no ano
passado: "nomundo pós-GueJTa Fria. as
distinções mais importantes entre os
povos não são ideológicas. políticas ou
econômicas. Elas sãoculturais. Ospovos
e as nações estão tentando responder à
pergunta mais elementar que os seres
humanos podem encarar: quem somos
nós? E estão respondendo a essa
pergunta da mane ira que tradicio–
nalmente semprea responderam - fazendo
referência às coisas que mais lhes
importam. As pessoas se definem em
termos de seus antepassados, religião.
CULTURA,
,
MIDIA
E IDENTIDADE
NACIONAL
JoÃo RoBERTO MARINHO
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idioma, história. valores, costumes e
instituições. Elas se identi ficam com
grupos culturais: tribos, grupos étnicos.
comunidades religiosas, nações e. em
nívelmaisamplo, civilizações.Utilizam a
política não só para servir aos seus
interesses, mas também paradefinir suas
identidades. Nós só sabemos quem
somos quando sabemos quem não
somos c, muitas
VCí'CS,
quando sabemos
contra quem estamos.''
Um exemplo interessante pode ser
dado pela atitude popular renetida na
cobertura da mídia brasileira à visita do
Presidente Bill Clinton ao Brasil em
outubro último. Duas questões impor–
tantes pairavam namente dosbrasileiros
nos momentos anteriores à visita. A
primeira estava relacionada à discussão
da implantação acelerada da Alca.
permitindo que as empresas americanas
mais rapidamente tenham acesso sem
barreiras aos mercados dos países do
Mercosul , antes que este possa estar
consolidado. Será que os países latino–
americanosmanteriam sua unidade e seus
compromissos. quando confrontados
com o enorme poder de sedução dos
Estados Unidos c de seu presidente? A
segunda era a percepção da imagem do
Bra'ii l pela nação mais poderosa do
mundo e sua capacidade de se afirmar
diante de críticas diversas emitidas por
autoridades americanas. Deque maneira
o Brasil , como nação, lidaria com essas
críticas? Como se comportaria nosso
presidente diante de seu colega
americano?
Ambas as indagações refletiam
umaquestãode identidade nacional num
momento em que, apesar de todos os
problemas que ainda enfrentamos, a
autopercepção dos brasileiros está em
alta. Como nos vêem? Como queremos
ser vistos?
A-, respostas a e!>sas questões
foram claramente favoráveis ao forta–
lecimento da identidade brasileira e
latino-americana. chegando mesmo a
representar um des!>cs fugazes
momentos em que todas as forças
divergentes se unem em torno de uma