Maio_1998 - page 12

!O
causa comum.
O
Presidente Fernando
Henrique soube expressar o pensamento
de cada brasi leiro. deixando claro quem
somos e o que queremos.
O
Presidente
Menem, da Argentina, reafirmou os
compromissos com o Mercosul e com
seus vizinhos latino-americanos. A visita
de Clinton encenou-se com a sensação
de que nossa identidade brasiIeira ficou
melhorevidenciada. Não sóparaele. mas
também para nós.
Querer uma identi-
Rel'ista da ESPM
-
Maio/Junho de 1998
distinção social. seu impacto foi enorme
na população como um todo. A comuni–
caçãodemassacolocou o Brasil de freme
para o espelho e possibilitou que o
brasileiro se visse e pudesse dizer: esse
sou eu.
Esse sentimento de identidade tem
sido construído através da emoção e da
inf01mação. E. namídia brasileira,emoção
e informação transitam juntas principal-
embrenhar no restrito e fechado círculo
da intelectualidade".
É.
po11anto. uma arte
inovadora sem ser revolucionária.
A telenovela brasileira temorigem
nos chamados radioteatros: as novelas
de rádio que preenchiam o imaginário
popular nas décadas de 40 e 50. Ao
contrário dos Estados Unidos. onde a
televisão é filha do cinema. no Brasil ela
veio do rádio. Por isso não temos a
dade nacional forte não é.
como pregam alguns. um
ranço fascista, ou uma volta
à
ideologia nacionalista típica
do Estado Novo gctulista;
ou mesmo buscar a criação
de um ··caráter brasileiro.. de
Para nós, a telenovela teve nos últimos 35anos opapel crucial de
tornarasgrandesmudanças sociaispercebidas epalatáveis para a
população. Ela tem a capacidade singular de perceber um tema
importante que começa a surgir numa franja da sociedade e dar-lhe
dimensão nacional.
cima parabaixo.Aocontrário,
é criar espaços e painéis múltiplos para
que neles a sociedade
bra~ileira
discuta
os temas que considera importantcs.
faça suas escolhas e. através delas.
construa seu próprio retrato. Sabero que
temos em comum
é
essencial para lidar
com as divergências e conflitos naturais
de uma sociedade plural, e assim
conceber e construir democraticamente
nosso presente e futuro.
Identidade e mídia
A comunicaçãode massa no Brasil
é um fenômeno recente. mas muito
intenso.
Estima-se que, em
1965.
apenas
15CJc-
das famílias brasileiras possuíam
televisão. A partir do final dos anos 60 e
duramc toda década de 70. houve uma
grande expansão na cobertura das redes
e nadisponibilidadede aparelhos deTV.
Atualmente. praticamente todo o
território nacional é atendido pelo !-.inal
da televisão e 82'k dos domicílios
brasi leiros tem pelomenos um aparelho
de televisão. No ca!-.O brasileiro. em que
a comunicação de massa chegou de
repente e encontrou um sistema
educacional formal ainda clitizado.
academicista e condi cionado pela
mente por dois caminhos: a dramaturgia
e o jornalismo televisivo.
Para nós, a telenovela teve nos
últimos
35
anos o papel crucial de tornar
as grandes mudanças sociais percebidas
c
palatávci~
para a população. Ela tem a
capacidade singularde perceber um tema
importante que começa a surgir numa
franja da sociedade c dar-lhe dimensão
nacional. Surge então um sentimento de
idcmidade de mão dupla - daqueles que
diretamente vivenciamo temae se sentem
gratificados, porque finalmente a nação
o reconhece como seu; e da nação como
um todoque, ao dar àquela questão uma
dimensão nacional. amplia genero–
samente a percepção de quem é. e diz
para si mesmo: isso também é Brasil. A
telenovela tem sido. dessemodo. um fone
instrumento de redescoberta do Brasil
através da emoção.
Diariamente. cerca de 50 milhões
de brasileiros assistem a telenovelas. Ela
é, indiscutivelmente, hoje, uma
instituição nacional. No di ter de Ismael
Fernandes. estudiosodo tema... uma arte
popular. brasileira. com vida própria.
de!-.enraizada dos conceitos filosóficos e
acadêmicos com que tentam interpretá–
la. Não há erudição em seus efeitos.
Tampouco existe a pretensão de trans–
por a barreira da arte popular para se
tradição dos filmes e seriados de TV.
calcados na ação espetacular e violenta.
A telenovela brasileira segue a tradição
do folhetim, dos relatos sentimentais e
vínculos entre diferentes núcleos fami–
lim·es.
A telenoveladiária noBrasil surgiu
em
1963.
na trilhade iniciativas similares
argentinas c cubanas. De um lado.
representava um novo entretenimento:
deoutro. u·aziauma linguagem u·adicional
de temática
e~capista.
sob a forma de
dramalhões latinos que passavam ao
largoda realidade nacional. Nossas telas
viviam cheias de condes. castelos, vilões
asquerosos ou mocinhas ingênuas.
A partir de
1968,
as primeiras
novelas- com inovações de linguagem.
subtramas e personagens mais reais,
substituindo a linguagem barroca pela
linguagem coloquial e foco prepon–
derante na realidade brasileira - caíram
no gosto popular.
O
marco dessa época
foi Beto Rockefeller, novela criada pela
TVTupi que permaneceu noarentre
68
e
69.
contando a história de um anti-herói
charmoso que ascende socialmente
através de pequenos golpes e
subterfúgios. Umahistória típicadeuma
sociedade já urbana. passadaem umaSão
Paulo industrializada. com as promessas
domilagre econômicoque se anunciava.
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