Maio_2002 - page 28

Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
32
págs.), bem mais coloquial e
especulativo, interessanteparaqualquer
leitor leigo, aindaqueversequase total-
mente sobre observações de pacientes,
seja por lesões cerebrais, seja por dis-
túrbios psiquiátricos.
Vejamos, primeiro, oquenos ensina
Cérebroesquerdo,cérebrodireito
.Asdi-
ferenças entre um e outrohemisfério (o
esquerdomaisverbal, odireitomais es-
pacial) não se devem apenas, como dei
a entender emmeu livro, a observação
de pacientes
epilépticos
comissuro-
tomizados (que tiveram o corpo caloso
seccionado), aliás os
único
s indivíduos
até hoje submetidos a tal operação – e
os autores atestam, na pág. 68, para “a
necessidade de cautela ao estender as
descobertas de pesquisa com pessoas
comissurotomizadasparaaspessoasnor-
mais”, pois “umaepilepsiade longadu-
raçãopodeprovocar importantesaltera-
ções na organização do cérebro”.
Ao contrário – aprendi –, dispõe-se
hoje de massa imensa de outras infor-
mações,muitascruzadasentre si, possi-
bilitadas pela observação controlada de
pacientes com lesões orgânicas ou
traumatismo em um ou outro hemisfé-
rio, oupelopós-operatórionoscasos ra-
ros de hemisferectomia (remoção de
umametadedocérebro),bemcomopelo
uso da tomografia computadorizada
(TC);doeletroencefalograma (EEG),da
angiografia cerebral; da tomografia por
emissão de pósitrons (PET); da resso-
nância magnética; da injeção de sódio
amorbarbital em determinada artéria,
que “anestesia” um ou outro hemisfé-
rio; e mesmo as advindas de testes
laboratoriais, extremamente engenho-
sos, com pessoas normais.
Agora:aquenos leva todaessamassa
fantástica de experimentos e observa-
çõessobreosdoishemisférios? Prati-
camente
a nada
que contrarie o que
escrevi sobre o assunto, em
Criatividadeno trabalhoenavida.
Logona aberturade
Cérebro es-
querdo, cérebro direito
, pág. 23, os
autores alertam – e irão repetir isso
ao longo da obra – justamente para
a
desvantagem
de todaessa
pesquisa: “Pelo lado
negativo, há a tendên-
cia de se interpretar
cada dicotomia cere-
bral, tal como cérebro
racional
versus
intuiti-
vo, e dedutivo
versus
imaginativo, em ter-
mos de cérebro es-
querdo e direito”. Fica de
cara soterrada, por quem
tem autoridade para falar, a tal tese
simplista que rola em tanto texto sobre
Criatividade.Enapág.35:“Agora jáestá
claro que ambos os hemisférios contri-
buemparaaatividadementalcomplexa.”
Vamosaoquemaisnos interessa.Sa-
bemos que uma das expressões que an-
tecedem a grandes rasgos de
Criatividade – e citei alguns casos em
meu livro – é a ocorrência de imagens
visuais mentais difusas e sempre não-
semânticas. Um prato feito para o he-
misfério direito, pelo que se lê por aí.
Contudo, aprendemos napág. 73: “Em-
bora a natureza visual e não-verbal das
imagens inicialmente tenham sugerido
ummaior envolvimento do hemisfério
direito, alguns pesquisadores têm rela-
tado a evidência de um papel especial
no hemisfério esquerdo.” Emais: “Até
onde se pode deduzir da evidência exis-
tente,nenhumhemisfério temcompetên-
cia exclusiva para gerar imagens visuais
e, nomomento, uma interpretação con-
servadora das descobertas indica
envolvimentosimultâneodeambososhe-
misférios nesse processo.”
Na pág. 88: “Quase todo comporta-
mento humano ou função mental mais
elevada envolve, evidentemente, mais
doque as efetivas especialidades deum
hemisférioeutilizaoqueécomumaam-
bos os hemisférios.”
Na pág. 148: “Existem assimetrias
entreoshemisférios,certamente,maselas
podem sermuito sutis, um fatoquedeve
nos afastar da idéia de especialização
hemisféricaem termosmuitosimplistas.”
Entre esses “termos muito
simplistas” os autores identificam, na
pág. 319, os argumentos do psicólogo
Robert Ornstein (autor do outro livro
recém-lançado,
A mente oculta
) que
“identificouohemisférioesquerdocom
o pensamento oriental, intuitivo e mís-
tico. Muitas reivindicações estranhas e
interpretações errôneas seguiram-se à
posição deOrnstein.” Tais idéias “evo-
luíram das distinções verbais/não-ver-
baisparanoçõesaindamaisabstratasda
relação entre as funções mentais e os
hemisférios. Nesse processo, as idéias
“MasnemBety
sabe,comcerteza,
comoambosos
hemisfériosde
seusalunos
estarão,apartir
daí,dandoconta
dorecado...”
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