Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
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Edwards,muitaspessoasadultas ficaram
agradavelmente surpresas ao terminar
seus desenhos e girá-los em 180 graus.
Há vários estágios no método de
Edwards e não podemos fazer sua apre-
ciação aqui. Brevemente, porém, ele en-
volve a criação de condições para
minimizar a possibilidade de
envolvimento do hemisfério esquerdo.
Como parte desse processo, ela sugeriu
queoestudanteassegureverbalmenteque
o hemisfério esquerdo não está sendo
abandonado e que se está tentando ape-
nas temporariamente uma nova técnica.
O método de Edwards funciona?
Nãoconhecemosnenhumapesquisaque
focalizeessaquestão,mas seu livroestá
repleto de desenhos produzidos antes e
depois, por seus alunos adultos. As di-
ferençassão impressionantes.Seelassão
verdadeiramente representativas, então
o método de Edwards funciona e não
queremos desafiar o sucesso. Observa-
mos, entretanto, que até esse ponto não
há como saber se os seusmétodos fun-
cionam pelas razões que ela indica.
Como regra geral, não existe a evi-
dênciadequeapenasumhemisférioes-
tejaenvolvidonumadeterminada tarefa
cognitiva, incluindoa linguagem,quese
considera bem lateralizada. Durante as
tarefasde linguagem,porexemplo,o flu-
xo sangüíneo émaior no hemisfério di-
reito.Nãohá razãopara seacreditarque
este também não seja o caso do dese-
nho, ou seja, queohemisfério esquerdo
interfiranohemisfériodireitoquandoele
se ocupa com o desenho.
Embora a pesquisa com a comissu-
rotomia tenhamostrado que o hemisfé-
rioesquerdoé inferior aodireitoquanto
à habilidade para desenhar certas figu-
ras, outrosdadosmostramqueambosos
hemisférioscontribuemparaodesenho,
mas demaneiras diferentes. Os pacien-
tes com lesão no lobo parietal apresen-
tam deficiências ao desenhar, indepen-
dentementedo ladoda lesão; anatureza
doprejuízo, porém, varia em funçãodo
lado. O hemisfério esquerdo parece es-
tar mais envolvido na identificação de
detalhes e de elementos internos, en-
quanto o hemisfério direito está mais
envolvido na orientação, posição e
dimensionalidade.
Essaanálisedacontribuiçãodosdois
hemisférios sugere, de fato, uma inter-
pretaçãoalternativaparaadescobertade
Edwards.Ainversãodapintura,maisdo
queproduzir o envolvimentodohemis-
fério direito no desenho, pode resultar
numa maior confiança nas habilidades
do hemisfério esquerdo, ao encorajar a
pessoaadividirodesenhoempartesme-
nores para copiar característica por ca-
racterística, linha por linha. Como su-
porte suplementar para essa interpreta-
ção, o psicólogo Lauren Harris notou
que os rostos na posição normal têm
mais probabilidadede ser reconhecidos
quando apresentados ao campo visual
esquerdo (portanto ao hemisfério direi-
to), enquanto os rostos invertidos são
maisbem reconhecidosquandoapresen-
tados ao campovisual direito (hemisfé-
rioesquerdo).Essadescobertaéconsis-
tente com a idéia de que o hemisfério
esquerdo émelhor na abordagem analí-
tica,deaspectoporaspecto,queéaquela
exigida quando não émais possível re-
conhecer um rosto como tal.
Ficaráparapesquisa futurademons-
trar por que ométodo de Edwards fun-
ciona. Agora, a validade do método
independedomecanismo tomadocomo
hipótese. A validade não é aumentada
por causa do fundamento neuropsi-
cológico racionalpropostoparaexplicar
ométodo, nem a razão lógica recebe al-
guma sustentação por causa do sucesso
dométodo. Fim da transcrição.
• • •
Alémde todaa informação factual –
não é engraçadíssimo?
BettyEdwards “achou”modode ta-
par ometódico, racionalista e “quadra-
do” hemisfério esquerdo (aí está: um
hemisfério quadrado) em benefício do
“espontâneo”e“criativo”hemisfériodi-
reito–quando está fazendo, talvez, jus-
tamente o contrário!
E a coisa parece que funciona, mas
não pelas idéias dicotômicas de Betty, e
sim por que – justiça lhe seja feita – ela
teve um
insight
criativo, sem dúvida
especulativoepromissor,deapresentara
seus alunosmodelos de cabeçaparabai-
xo, paraumavisãoalocêntrica, eabsolu-
tamente inédita! Mas nemBetty – nem
aliásabsolutamenteninguém,nosdiasde
hoje–sabe, comcerteza, comoambosos
hemisfériosdeseusalunosestarão, apar-
tir daí, dando conta do recado...
• • •
JáRobertOrnstein, em
Amenteocul-
ta
(cujo segundo subtítuloé“o ladodirei-
to do cérebro”), após informar de saída
(pág. 3) que “parei de trabalhar com os
dois ladosdocérebroporqueparecia-me
quemeus estudos estavam apenas con-
tribuindo para aumentar a confusão”,
mostra-se bem categórico, pelo menos
no ponto que mais nos interessa: “Da
mesma formaquenão andamos comum
ououtropé, nenhumdos dois hemisféri-
os funciona sozinho, assim como a área
deum triângulonãodepende isoladamen-
te de sua altura ou largura.” (pág. 65)
E, continua (grifos do autor): “
Não
existe nada que seja regulado apenas
pelo lado direito ou esquerdo
. Tarefas
muitosimplespodem ficar soba respon-
sabilidade de um ou de outro, mas as-
sim que a situação torna-se um pouco
mais complexa os dois se envolvem.”
“Um ladonão
pode fazero
trabalhosemo
outro.”