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R E V I S T A D A E S P M –
M A I O
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J U N H O
D E
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que–naapreciaçãodePedroCorrea
do Lago, livreiro e colecionador – é
de tal qualidade, “que não seria
possível recriá-lanempor1bilhãode
dólares”...
FG
– Apesar de a nossa população
estar envelhecendo – como em todo
omundo – uma pesquisa da revista
Exame
mostrouquea idademédiados
presidentes e diretores das grandes
empresasbrasileirasestáentre45e50
anos. Será que – nas empresas pelo
menos –essa tendênciaaindanão se
está fazendo sentir?
MINDLIN
– Pelas empresas, não
saberia responder – apenas pela
experiênciapessoal.Creioqueháuma
tendência de utilizar mais jovens na
alta administração porque, demodo
geral, as pessoas idosas não acom-
panham o cada vezmais acelerado,
desenvolvimento tecnológico; e as
novas técnicasdeadministraçãoena
comunicação também influem nas
empresas e osmais idosos, demodo
geral, não acompanharam. E não é
fácil,mesmo, porqueo ritmoémuito
acelerado – a inovação e a obso-
lescência estão cada vez mais
próximas. Emboraprocureestar bem
informado, vejo-me, muitas vezes,
perplexo diante das mudanças que
estão ocorrendo. Há 20, 30 anos, a
duração de vida média estava perto
dos 60 anos. Então, 50 anos era o
coroamento de uma vida. Falei 30
anos,mas talvezsejaumpoucomais,
pois foinasegundametadedoséculo
XX–depoisdaguerra–querealmente
começaramasmudanças.Aspessoas
que dirigiam as empresas se
aposentavam mais cedo e isso
permitiuaosmais jovensascenderaos
cargos de responsabilidade. É uma
situação complexa e não creio que
hajaumasósoluçãocorreta.Costumo
dizer que os problemas realmente
difíceisderesolvernãosãoentrecerto
e errado; mas entre o certo e omais
certo–eosdoisladostêmumaparcela
de razão. Nos anos 50 – em que a
média de vida era da ordemde 60 –
osdiretoresde50anoseramexceção;
a empresa familiar predominava. O
patriarca era o diretor, e se vivesse
muito mais, continuaria a ser o
presidente–comauxiliares–mascom
uma estrutura completamente
diferente – o mundo era mais
tranqüilo,com idéiase invençõesque
duravam 10, 20 anos; não havia a
efervescência tecnológicadosúltimos
50 anos. O desenvolvimento
tecnológico segue um ritmo tão
aceleradoqueuma idéiaválidahoje,
amanhãpodenão sermaisaplicável.
FG
– O Sr. fala das mudanças
tecnológicas–maseasmudançasdos
valores, não lhechamamaatenção?
MINDLIN
– A questão de valores
mudoupor outros fatores também.A
inflação, por exemplo, fez
desapareceroconceitodoquesãoos
valoresmateriais estáveis. Então, por
forçada inflação,haviaaqueleanseio
de ganhar mais depressa e poder
guardar e manter uma fortuna, e o
dinheiro passou a ser um objetivo
quando devia ser um mero
instrumento. Eassimosvaloreséticos
vão desaparecendo – o fim justifica
os meios. Vê-se muito isso na
administração empresarial. Mas,
alguns,daquelaépoca, com50anos,
continuaram e procuraram acom-
panhar e se informar, ter outras
atividades. Muitos se viram comple-
tamente frustrados, eram compulso-
riamente aposentados, e se não
tivessemum interesse forado trabalho,
decaiam rapidamente. Sua pergunta,
se esses administradoresmais velhos
não sãoumproblemaparaageração
maisnova, tenhoa impressãodeque
isso aindanão é a regra: umapessoa
de 80 anos em plena atividade
profissional...
FG
– O Sr. era um exemplo para
jovens executivos, como eu era.
Entretanto,derepente,resolveupassar
suaempresa–aMetalLeve–aosseus
sucessores e dedicar-se a uma
atividade talvez mais nobre, mas
completamente diferente. Como
aconteceu isso?
MINDLIN
–Naminhavida,oacaso
teve um papel muito importante.
Nunca tinha pensado em ser
empresário.Formei-meemdireito,em
1936, e advoguei até 1950. Foi um
grupodeclientesqueplanejoucriara
MetalLeve–contavamcomuma fonte
de financiamentoque,naúltimahora,
falhou. Eu tinha redigido, para eles,
uma opção para a compra de um
equipamentocomassistência técnica
de um fabricante alemão. Mas não
conseguiram o capital. Vieram
comunicar-meadesistência.Perguntei
seeraporqueachavamqueonegócio
nãoera tãobomquanto imaginavam,
ou se era pelo capital. Disseramque
por causa do capital. Eu tinha um
amigodiretordeumbancomineiroe
– tanto ele quanto eu – queríamos
construir algumacoisaquenão fosse
NUNCA TINHA PENSADO EM SER EMPRESÁRIO.