Maio_2005 - page 57

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R E V I S T A D A E S P M –
M A I O
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J U N H O
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quase que acidental. Na nossa
empresaaética foi importantedesde
oprimeirodia–nãohaviacaixadois;
nos primeiros 20 anos tínhamos um
pró-labore que não era nada espe-
tacular – era o que a legislação
permitia. E tudo que a empresa
produzia de lucro era reinvestido.
Procurávamos ter solidez financeira,
qualidade de produção, recursos
humanos tratados como gente e não
como números. Depois, até la-
mentamosocrescimentoporquenos
primeiros anos conhecíamos todos.
Depoiscresceu,chegamosa ter7.200
funcionários. Mas eu lia desde
pequeno,porqueeramuito ligadoao
meu irmão mais velho, Henrique
Mindlin,que foiumgrandearquiteto.
Descobrimos omundo juntos.Muita
coisaqueele liaaos16eu liaaos12.
Eu corria os sebos de São Paulo,
porquenãoqueriapedirdinheiroaos
meus pais. Os sebos eram todos no
centro da cidade e eu percebi que
viviam isolados uns dos outros eque
os preços variavam muito. Eles
marcavam o preço de venda de
acordocomoque tinhampago, sem
se preocupar com a raridade. Um
vendiapor5oqueooutrovendiapor
30, até 50. E o que vendia por 50
tambémvendiapor5oqueoprimeiro
vendiapor 30. Percebendo isso, pedi
umpoucodedinheiroaomeupai, e
comecei a comprar os livros de 5 e
10, levava para o outro, deixava em
consignação e quando ele vendia,
creditava os 30% de comissão, e
retirava a minha parte em livros.
Depoisde trêsmeses, tinhacréditoem
todosos sebosdacidadeecomprava
meus livros sem desembolso. Isso
durou pelo menos uns três anos.
Depois os sebos começaram a
aprender...Mascompreimuitos livros
pagos pelos livreiros.
FG
– Sobre a tendência dos jovens
em não aproveitar a experiência dos
mais velhos, há livrodeDinoBuzatti
Odesertodos tártaros
–quecomeça
comopersonagemdo jovem tenente,
que acabava de sair da academia
militar,e ia–acavalo–paraa fortaleza
dodeserto.Poucoantesdechegar,ele
cruzou com um velho oficial que
havia passado 30 anos lá dentro. O
jovemnão trocapalavrascomovelho,
fazcontinênciaecontinua–eacaba
cumprindo a sua sina: 30 anos de
frustraçãoedesapontamento. SeoSr.
fosseovelhooficial, teriaditoalguma
coisaao jovem?
MINDLIN
– Eu diria: “Se quiser
experimentar, experimente, mas não
fique; tente outra coisa”. Vocês me
colocam numa posição um pouco
constrangedora por falar de mim
mesmo – mas quando aparecia um
moçoquerendoum lugarnaempresa
– muitas vezes, era o primeiro
emprego – havia freqüentemente a
reação dos outros de “não entregar
essaresponsabilidadeaummoço”.Eu
achava que devia – orientando e
acompanhando, tolerando o erro e
formando as pessoas. Começamos a
receber estagiários das escolas de
engenharia,criamosumprêmioMetal
Leve,erecebíamosmuitosestagiários,
dos quais aproveitávamos poucos.
Mas tivemos, em postos de
responsabilidade, pessoas com vinte
e poucos anos e isto foi um dos
elementos de força da Metal Leve.
Quando recebi, do Conselho de
Administração,o títulodeprofessor–
eprofissional emérito–dissenomeu
discurso: “Vocêsestãoenganados;eu
souumprofissionalempírico”.Agora,
usoacabeçaeacreditona juventude
– até hoje – tenhoum contatomuito
bomcomos jovens,atravésda leitura,
orientaçãodevida...
JR
–Sãoos jovens da sua família?
MINDLIN
– Alguns – e alguns
amigosdenetosquevêmaqui, jovens
estudantes. Brinco, às vezes, que se
fosse do século XIX, seria chamado
deconselheiro–comoospersonagens
deMachadodeAssis.Eeles falamaté
de problemas matrimoniais,
separação etc. Converso com eles,
procurando orientá-los. Vou festejar,
esteano,67anosdecasamento–um
casamentocurtido,umprazerdevida.
Há problemas, mas é preciso querer
resolver. Sempre digo: “Procurem se
compreender; casamentonão éuma
lutadepoder”. Jáconseguiquevários
casais se reconciliassem. Mas há
situaçõesde tanta incompatibilidade,
que eu citavauma frasedo Fausto “É
melhorum fimcomhorrordoqueum
horror sem fim”. Tudo depende da
gravidadedosproblemas.Mas–como
advogado– sempreacrediteimaisno
diálogo. Ao invés da imposição, a
conciliação. Só chegava aoprocesso
quando não havia alternativa. Um
clienteperguntou-me, certavez: “Do
que o Sr. vive, se é contra os
processos?” Respondi: “Vivo do que
ganho na conciliação”. O processo
DEPOIS DE TRÊSMESES, TINHA
CRÉDITO EM TODOS OS SEBOS DA CIDADE.
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