Maio_2005 - page 56

HOMERO, SAID, MINDLIN
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M A I O
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J U N H O
D E
2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
exclusivamentepessoal,algumacoisa
que pudesse funcionar indepen-
dentemente de nós. Quando esses
clientes disseramque iamdesistir do
projeto, eudisse; “Achoque consigo
esse capital”. Omeu amigo recebeu
umdosmeusclientes, viuoprojetoe
conseguiu o capital. Assim, formou-
seaMetalLeveeeu fiqueinaposição
de fiador deste meu amigo, perante
osmeusclientes,edosmeusclientes,
perante o amigo que conseguira o
capital.Vireiempresário.Aadvocacia
deu-me flexibilidademental– ficamos
conhecendo a natureza humana. E
isso me ajudou na parte de admi-
nistração que não tinha estudado. O
grupo que se formou estava interes-
sado em fazer coisas bem feitas e
difíceis, que não pudessem ser feitas
por qualquer pessoa.
JR
–Quanto tempo ficou à frenteda
Metal Leve?
MINDLIN
–Duranteosprimeiros20
anos, a administração era colegiada;
depois fiqueimais20epoucos anos.
Comnossogrupo,aMetalLevedurou
46anos.Adesistência foimuitodifícil
de aceitar.A venda da empresa – do
ponto de vista emocional – foi
traumática, porque começamos do
zero e chegamos a ser uma empresa
representativa.
JR
–Háquanto tempooSr. deixoua
Metal Leve, para dedicar-se a outras
atividades?
MINDLIN
– Nunca deixei-me
envolver totalmentepelaMetal Leve;
eu exercia as outras atividades em
paralelo. Procurava – isso sim – não
trazer os problemas para casa.
Chegavadeterminadahora, iaembora
edeixavapararesolveroproblemano
dia seguinte. Sou um otimista
incorrigível. Até hoje, quando
acontece um contratempo, minha
primeira reação é não ficar deses-
perado e achar que podia ser pior.
Tudo pode ser resolvido, com bom-
senso, diálogo e olhando as coisas a
longo prazo. Na empresa, logo senti
a importância do desenvolvimento
tecnológico, independentemente da
assessoria técnicaque recebíamosde
fora.
FG
– Vocês souberam criar uma
imagem corporativa sólida, uma
marca forte. Havia alguém lá dentro
quepensavaem termos demercado.
MINDLIN
– Eu e o Adolfo Buck.
Infelizmente, sou o último sobre-
vivente.
JR
– Namesa-redonda que fizemos
sobre este assunto, uma jovem – de
origem oriental – observou que as
pessoas nãodeviam seater auma só
atividade.OSr. faloudasuaatividade
comoadvogado, comoempresário, e
li comentários seus sobre literatura
absolutamente“profissionais”.Como
vêessa suapluralidade?
MINDLIN
– Issoéumacoisapessoal;
não tem receita. Mas nasci e cresci
num ambiente cultural. Boapartedo
que eu ganhava eradestinadapara a
construção da biblioteca, que está
com 38 mil títulos. Meus pais gos-
tavammuito de artes plásticas. Eu
também gosto, mas acho que herdei
a paixão deles dirigida para livros.
Comecei a formar a biblioteca com
13anos–eelacompleta78esteano.
JR
–Como começouo seu interesse
pela leitura?
MINDLIN
– Pela ficção, mas logo
pela história. Aos 13 anos, recebi de
uma tiaumahistóriadoBrasil escrita
no século XVII por Frei Vicente
Salvador. Foi o que marcou o meu
interesse e resultou na formação da
minha “Brasiliana”, metade da bi-
bliotecaésobreassuntosbrasileiros...
FG
–Umdos primeiros livros que li,
aos 11 anos, do Stefan Zweig, foi
Brasil, país do futuro
. Ganhei como
prêmiodeum trabalhoescolar.
MINDLIN
–Hojepode-se falar que
o Brasil é um país do futuro, mas
tambéméumpaísdopresenteeainda
pode termuitomais.AEuropanão tem
oqueprogredirmuitomais.
JR
– O Sr. é empresário, bem-
sucedido, vem de uma família onde
cresceu com livros e obras de arte –
portanto, um homem culto. Mas
vivemos hojeemummundoemque
temos pessoas bem-sucedidas – Bill
Gates e o nosso presidente Lula, por
exemplo–que sevangloriamdenão
ter tido formaçãoescolareatédenão
terem lidonada.
MINDLIN
– Houve muitos por-
tugueses analfabetos que fizeram
fortuna noBrasil.Mas era uma coisa
UMA IDÉIAVÁLIDAHOJE,
AMANHÃ PODE NÃO SERMAISAPLICÁVEL.
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