Luiz Carlos
Bresser-Pereira
competitiva. Nós, no Brasil, nem
sempre temos. Mas – como você
disse – temos um agronegócio ex-
traordinário, semdúvidaeéoúnico
setor que não precisa tanto de uma
taxa de câmbio mais competitiva
porque ele se beneficia da cha-
mada “doença holandesa”. De
qualquer forma, a crise émundial
e, portanto, atinge fundamental-
mente o comércio mundial. Você
disse que as empresas que estão
sendo mais atingidas são as mais
dinâmicas, que exportammais –o
que é a pura verdade; a China vai
ter problemas nesta crise, ainda
que seu grau de endividamento
interno e externo seja pequeno,
porqueas suas vendas parao resto
domundo vão diminuir...
LuizSales–Ela reduziucercade
30%na comprademinério.
Bresser-Pereira – E vai precisar
cuidar do mercado interno. Hoje
estámuitoclaroparaoschineses–e
achoque tambémestáficandoclaro
paraosbrasileiros–queprecisamos
continuar nos preocupando com o
mercado externo, porque é a nossa
grande estratégia. Acabei de publi-
car um livro na França, que se cha-
ma
Mondialisation
et
compétition
–aindanão foi publicadonoBrasil.
O livromostracomodeveatuar um
paísde rendamédia, comoonosso.
Sua tese fundamentalédequeaglo-
balizaçãoéumagrandecompetição
entrepaíses,eosbem-sucedidossão
aqueles com uma estratégia nacio-
nal de desenvolvimento, que deve
ser, fundamentalmente,umaestraté-
gianacional deexportação; porque
a exportação criamercado interno,
inclusive. Se você está tendo pro-
blemascomaexportação, temde se
preocupar também comomercado
interno,ehá todoum jogoquesevai
fazendoaospoucos.Esse jogoestava
emcurso, quandoacrise irrompeu.
Naminhaopinião, acrisedecorreu
de duas coisas: uma chama-se ne-
oliberalismo, a ideologia; e aoutra
sechama“financeirização”, que foi
oqueaconteceunaeconomia. Essa
palavra émeio feia...
Luiz Sales – É horrível,mas não
conheçooutrapara substituir.
Gracioso–Está tudosobaótica
daalavancagemfinanceira.
Bresser-Pereira – Outro dia
escrevi um pequeno artigo para a
FolhadeS.Paulo
sobreesseassunto
– escrevo toda semana na Folha e,
uma vez por mês, gosto de fazer
uma espécie de “aula”. Então, ex-
pliquei a diferença entre financei-
rização – que foi o que aconteceu
nosúltimos30anos –eopapel real
das finanças. As finanças têm um
papel fundamental, em qualquer
economia, ao transferir os recursos
dospoupadoresparaos investidores,
por meio dos bancos. Têm outras
funções, como facilitar os paga-
mentos etc., mas essa é sua função
principal. O que a financeirização
}
OAlanGreenspan
éumcaso interessante.
~
}
Odólar continua
sendoamoeda reserva.
~
î
março
/
abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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