Entrevista
outras ciências, também de pós-
graduação, ecompararam.O resul-
tado foi que os padrõesmorais dos
economistas estavammuitoabaixo
dos demais. Alguns anos depois,
reaplicaram o mesmo teste e deu,
outra vez, o mesmo resultado. Foi
essa distorção que resultou na “fi-
nanceirização.”Aconcentraçãode
renda também em todo o mundo,
nos 2%mais ricos, nestes últimos
30 anos, foi impressionante.
Gracioso – Nesse contexto,
qual foi o papel do Alan Gre-
enspan, por que ele tolerou isso
durante tanto tempo?
Bresser-Pereira – O Alan Gre-
enspan é um caso interessante.
Como professor de economia, sou
um crítico dessa teoria econômica
neoclássica – ela era ensinada nas
universidades,masnãoerautilizada
naprática.Ou seja, os bons econo-
mistas, quando chegam ao poder,
nosEstadosUnidos,principalmente
no Banco Central ou no Tesouro
americano, usam uma política
econômicamaisprática, fundamen-
talmentedebase keynesiana – e foi
o que Greenspan fez, com grande
competência. Existemvários
papers
mostrandoqueoGreenspan foi um
grande gestor da macroeconomia,
agindocomoageummédicoclínico
–examinandoopaciente, emgeral,
e usando a sua intuição. Afinal, to-
mava decisões que foram – de um
modo geral – boas. Entretanto, ele
acabou sendovítimadovírus dessa
mesma teoria econômica, quando
propunha a desregulação geral da
economia. Ele então, insistente-
mente, promoveu a desregulação
– e foi um desastre. Aliás, ele não
reconheceu seus erros de política
macroeconômica, mas reconheceu
seus erros de política regulatória.
Luiz Sales –Ministro, deixe-me
fazer uma pergunta um pouco
mais pé no chão, em função da
crise: por que tanta corrida para
odólarnomundo inteiro?Porque
todomundo correpara odólar e
seafastadoeuro?
Bresser-Pereira – Eu costumo
dizer que a Ciência Econômica é
uma ciência modesta; quer dizer,
é uma ciência histórica. Há de
se examinar os fatos econômicos
dentro de um plano histórico mais
geral e só assimpode compreender
as coisas. Acho que foi um grande
erro dos economistas ter mudado
o nome da sua ciência, porque o
nomeoriginal era EconomiaPolítica.
Esse era o nome que Adam Smith,
Ricardo, Marx, Stuart Mills e outros
usaram; depois passou a haver uma
economia“pura”quevirou
Economics
ou Economia só, emportuguês – em
inglêsé
Economics
queédiferentede
Economy
. Isto tornaaeconomiauma
ciênciamodesta, imperfeita emuitas
vezes contraditória. Respondendo à
suapergunta, odólar continua sendo
amoeda reserva, porque, por trás do
dólar, estão a economia e o Estado
americanos.Ninguém temdúvidasde
que o Estado americanonãoquebra.
O Estado brasileiro pode quebrar, o
Estadochinêspodequebrar,mas todo
mundo sabequeoEstadoamericano
não quebra, porque eles têm amoe-
da reserva e a capacidade de emitir
moeda a qualquer momento. Uma
perda total de confiançanodólar, de
umdiapara ooutro, é simplesmente
impossível. O euro tem por trás de
si uma economia mais sólida que a
economia americana, mas não tem
um Estado mais sólido. O Estado
americano é muito mais sólido do
queaUniãoEuropeia, quenãoéum
estado,mas umconjuntodeEstados,
que estão tentando transformar num
Estado. Éumaexplicação fundamen-
talmentedeeconomiapolítica,nãodá
paraexplicar sócommercado,masé
razoavelmenteclara.
LuizSales–Todomundoseper-
guntasedeveaplicaremdólarou
emeuro.
Bresser-Pereira – Acho que, a
longo prazo, serámelhor aplicar em
euros, porque a economia europeia
émais sólidaeestámais equilibrada.
Estava lendono
Economist
, sobreum
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ACiênciaEconômicaé
umaciênciamodesta.
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Os
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anos gloriosos
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docapitalismo
foramentre1945e1975.
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