Entrevista
poucomaisperigoso, que foi oCré-
ditoConsignado.Com isso,houveo
aumento da demanda interna, que
sustentouespecialmentea indústria
brasileira, quandoa taxadecâmbio
começounovamentea sevalorizar.
De repente o país estava em plena
expansãoquando foi surpreendido
por esta crise, como todo o resto
do mundo. Então, para responder
à sua pergunta, se está reagindo
bem; oBancoCentral não.O resto
do Governo, mais ou menos. Ini-
cialmente, erraram também,porque
inventaramahistóriada
marolinha
,
que a crise era problema “deles” e
não nosso, que “eles” iriam resol-
ver. Sabemos que a crise é global e
que todos estão nela.
LuizSales–Hoje, o Lula sabe.
Bresser-Pereira–Agrandecoisa
équeoBrasil não está entreos paí
ses que serão mais atingidos pela
crise.Osmaisatigindosserãoosque
se endividaram mais, não apenas
externamente– issoé típicodepaís
subdesenvolvido –mas também os
países que se endividaram interna-
mente, quedáacrisebancária, que
é a criseque explodiunos Estados
Unidos. Não se percebe, mas há
dois tipos de crise financeira: uma
é abancária, que éprópriadepaí
ses desenvolvidos, e aoutra é ade
balança de pagamentos. A crise
bancáriaacontecequandoos ban-
cos acabam emprestando demais
ou, emoutras palavras, quando as
famílias, as empresas, acabam se
endividando demais.
Luiz Sales – E não têm como
pagar...
Bresser-Pereira–Écomoumcas-
telodecartas,quesedesmancha.Os
preços das ações dos bancos caem
verticalmente. Essa crise pegou
os Estados Unidos violentamente,
porque eles nos recomendavam
políticasmacroeconômicasqueeles
próprios não seguiam. Eles foram
mais ortodoxos em desregular a
economia do que nós, e também
mais radicais, nesse ponto, do que
os europeus. Fiquei impressionado
ao perceber que a regulamentação
domercadodeaçõesbrasileiro–ao
que tudo indica – é substancial-
mente melhor do que nos Estados
Unidos. De repente, descobrimos
queasnossas instituições estãome-
lhores doque as deles.NossaCVM
temproblemas,mas parecemelhor
do que a Security Comission nos
EstadosUnidos.
Gracioso –Voltando a como a
crise nos atingiu – se realmente
atingiu menos do que a outros
países–a impressãoédeque,no
Brasil, foi atingida, justamente a
parte mais moderna da econo-
mia – as empresas globalizadas,
exportadoras de manufaturados
e,curiosamente,pareceque tam-
bémoagronegócio–que,hoje,é
umadas áreasmais dinâmicas da
nossaeconomia.
Bresser-Pereira–Nessesúltimos
anos tenhopromovidouma discus-
são sobrea taxadecâmbio, porque
estoupreocupado fundamentalmen-
te com as exportações brasileiras...
Gracioso – Curiosamente os
brasileiros dizem que não deve-
mosnospreocuparcomasexpor-
tações. Écerto isso?
Bresser-Pereira– Issoéexatamen-
te errado. É a grande oportunidade
para um país em desenvolvimento,
comooBrasil, noquadroda globa-
lização–emque todososmercados
seabrirame interagem.Quando to-
dososmercados seabrem,ospaíses
que têmmão-de-obra relativamente
barata têm uma enorme vantagem.
AChina,ospaísesasiáticosmenores
e,mais recentemente, a Índia, estão
exportando bens e serviços usando
suamão-de-obra e, com isso, estão
crescendo rapidamente. Mas eles
precisam ter uma taxa de câmbio
}
O liberalismoéuma
ideologiamaravilhosa.
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