Marco_2009 - page 88

Mesa-
redonda
R e v i s t a d a E S P M –
março
/
abril
de
2009
88
}
Ograude responsabilidadedosque
sabiamaumentaproporcionalmente.
~
Alexandre
–Achoque a crise ex-
plicitou issodemaneiraclara:osaltos
bônus, salários dosCEO´s –os bônus
praticamentedobraram...
JRWP
–Mas, agora que caíram, de
certa formao recadoé“ocrimenão
compensa” – ou não?
Alexandre
– Issoéoqueseespera
que fiquemais claro.
Gracioso
– Grandes empresas
foram levadas à ruína enquanto os
principais executivos levavam todo
ano para casa centenas demilhões
de dólares; isso foi um roubo.
Paulo
–É interessantequeaecono-
mia nasce como uma ciênciamoral,
mas em algummomento, no Século
XVII, os iluministas – ingleses mais
do que os franceses – caminharam
em outra direção; no século seguinte
ela perde a ligação com a moral. O
conceito utilitarista era de que o ser
humano fosse um agente econômico
racional–eentende-seessa racionali-
dadenãopuramenteno sentidomais
operacional,dealocaçãode recursos,
mas quase comoum sentido existen-
cial;eperde-sea ligaçãocomamoral.
Mais à frente, perde-sea ligaçãocom
a política, e você passa a ter uma
Ciência Econômica que se torna um
instrumento matemático, desconec-
tadodas relaçõeshumanas.Achoque
esseéumelemento importante.Mais
concretamente,aimpressãoquedá–e
nãoestamosfalandosódossaláriosdos
CEO´s–édequetemosumatendência
mundial de concentração de renda,
que semanifestanos EstadosUnidos,
Suécia,Itália,Alemanha,paísescomos
maisdiferentessistemaspolíticoseor-
ganizações sociaishistóricaseeconô-
micas,naChinaComunista,naChina
Moderna. Então surgeuma tendência
deconcentraçãode renda, talvez liga-
daàevoluçãoda tecnologia...
JRWP
– Mas isto não é efeito do
Princípio de Pareto, que, de certa
forma, está ligado a todas as ativi-
dades humanas?
Paulo
– Talvez esteja ligado à re-
volução e tecnologia. Por mais que
as pessoas se qualifiquem, parece
cadavezmais difícil você semanter
competitivo – não sei se a palavra é
essa –ou semantermesmona fron-
teira. Amesma coisa acontece, não
sónoníveldeconcentraçãode renda
entre salários, mas no aumento da
participação dos lucros das empre-
sas na renda nacional que também
é um fenômenomundial, em todos
os lugares. Por mais que haja uma
evolução ou as pessoas busquem
progredir, às vezes a impressão que
tenho é que muita gente fica de-
sorientada, talvez sem entusiasmo
porque se veem cada vezmais para
trás, nãono sentidode riqueza,mas
no sentidodeprodutividade, de rea-
lizaçãohumana.Éuma impressãodo
mundomoderno – por mais rápido
queevoluamosna tecnologia,parece
quenãoseconsegue traduzir issono
bem-estar humano e na realização
existencial das pessoas.
Mário
– Eu continuo vendo essa
crise como algo razoavelmente
localizado. Concordo com a ideia
de que, graças a Thatcher e Rea-
gan, houve crescimento mundial,
eliminou uma série de barreiras a
comércio, finanças; tudo isso pro-
piciou uma globalização, que foi
muito positiva para todo omundo.
Mas, justamente por isso, o grau
de responsabilidade daqueles que
sabiam,oudeveriamsaber,aumenta
proporcionalmente. Afinal, chega-
se a um sistema econômico que
quase se autossustenta, com seus
ciclos econômicos, política fiscal,
uma política monetária – as coisas
mais ou menos se ajustam – se se
conseguiuessaproeza, comodeixar
esse sistema tão brilhante perder o
controle? Se houve uma nova deci-
são política, em algum momento,
alguém temde ser responsabilizado
pelo que aconteceu.
JRWP
– Mas será que os que sa-
biam foram os mesmos que se
beneficiaram?
Mário
– Sim e não. O Embai-
xador comentou o fato de existir
um problema sociológico. Acho
que houve uma crise de valores
sim, mas não dá para dizer que
essa elite que sabia e que esteve
envolvidaouqueestivesse influen-
ciada por uma crise mundial de
valores. Acho até que foi o con-
trário, elas lideraramumprocesso
de decadência de valores, que se
expandiu, tornando-se depois um
problema político.
Marcos
–Háumaoutradificulda-
de, queéadedarmásnotíciasnum
momento em que predominam as
boas. Elas tornam-se quase inaudí-
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