Eduardo Fischer
julho/agostode2012|
RevistadaESPM
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Gabi
– Entretenimento com conceito.
Fischer
–
E para chegar a isso é
necessária muita consultoria estra-
tégica, que obtemos através da TEN
(Tecnologia, Estratégica e Negócios)
– que funciona dentro do grupo.
Gracioso
– Nesse novo mundo que
começa a surgir, qual será o papel da
propaganda?
Fischer
– Não sou daqueles que
acham que o comercial ou a te-
levisão vai morrer. O Brasil é um
mercado completamente diferente
dos outros que vemos por aí. Temos
um modelo publicitário único, no
qual a televisão tem mais de 50%
de audiência e é poderosíssima nas
classes C, D e E. Hoje, essas classes
são as que estão alavancando o
país. Então, dizer que o comercial
de 30” vai morrer é, no mínimo,
não entender de economia, socio-
logia, mercado e marketing ou não
querer ver. Agora, dizer que vai ser
tão poderoso quanto foi nas déca-
das de 1970, 1980, 1990 ou 2000 é
um exagero, porque já tem muita
gente, principalmente os jovens
das classes A e B, que não assiste
televisão, não lê jornal porque suja
a mão e acham que ler a revista
Veja
é passado, porque traz notí-
cias da semana anterior.
Gracioso
– Em outras palavras, no-
vos estilos de vida, novos valores serão
transmitidos de outra maneira.
Fischer
– No entanto, o comercial
vai “varejar” cada vez mais, vai servir
para informar as novidades e lançar
produtos. Mas não será o carro-chefe,
a locomotiva da propaganda.
Gracioso
– Na verdade, não há nada
que crie impacto a preço tão baixo
como a propaganda. E isso continuará
assim por muitos anos. Agora, é pos-
sível levar esse ambiente de emoção e
persuasão para o mundo digital?
Fischer
– Estou escrevendo um
livro há cinco anos, chamado Trin-
ta segundos de emoção – estamos
todos integrados, que não consigo
terminar. Quando consigo identifi-
car um processo, fecho o livro e vou
ler as notícias, e aí vejo que aquilo
que estou retratando precisa ser
aprimorado.
Gracioso
– Porque é algo contraditório.
Fischer
– Ou já evolutivo. É uma
coisa extraordinária... Comecei
a escrever este livro na época do
iPod, que já acabou. Estamos vi-
vendo a revolução da construção
do futuro, algo que nunca se pas-
sou antes. São várias revoluções
acontecendo ao mesmo tempo. O
celular, por exemplo, é outra grande
revolução.
Gabi
– Com tantas revoluções em curso,
ficoumais difícil construir umamarca?
Fischer
– A marca deve ser perti-
nente na distribuição da mensagem
em todas as plataformas utilizadas.
Então, voltamos àquela máxima em
que acreditei lá em 1990...
Gracioso
– Este ano, em Cannes,
Joseph Tripodi, diretor internacional
de marketing da Coca-Cola, disse que
o desafio nº 1 da Coca-Cola é tornar a
marca relevante para este novo mun-
do que está surgindo.
Fischer
– É a minha resposta, con-
cordo plenamente. E a proposta da
comunicação integrada do passado
era sair de um comercial informati-
vo para o cotidiano da pertinência
no seu dia a dia. Então, a base está
aí. Vamos imaginar que a mídia seja
um canal de distribuição, a base que
você vai atingir, precisa ser testada.
É fácil para a GM falar que o Face-
book não funcionou, assim como
é fácil para o Facebook tentar se
defender dizendo que com os outros
funciona. A dificuldade é avaliar
qual é amensageme como a GMestá
usando o Facebook. Essa rede social
gerou a descoberta de um novo com-
portamento que ninguém sabia que
existia: a vontade de você contar o
seu dia a dia, essa necessidade era
tangente. Agora, o objetivo de tornar
pertinente a sua marca é que terá de
ser buscado o tempo todo. E aí vem
um ponto importante: será que esta
descoberta vai ser feita por umpubli-
citário? Essa é a minha provocação.
Gracioso
– Eduardo, muito obrigado.
Em duas horas de conversa, consegui-
mos montar um curso completo.
“Oobjetivo de
tornar pertinente
a suamarca
é que terá de ser
buscado o tempo
todo. E aí vemum
ponto importante:
será que essa
descoberta vai
ser feita por um
publicitário?”