entrevista | andré cano e glaucimar peticov
Revista da ESPM
| julho/agostode 2013
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Então, você vai sendo colocado
diante de desafios absolutamente
novos, é quase um recomeço de
carreira em cada mudança. Isso é
o antídoto que temos para a entro-
pia dos profissionais do banco.
Arnaldo
— Essa mobilidade vem de
cima para baixo?
André
— Ela está enraizada na cul-
tura do banco. Começa com os dire-
tores. Se, em determinado momen-
to, achamos que ele precisa mudar
de área, vamos fazendo o rodízio.
E isso vai se espalhando dentro da
organização. Depois, passa pelos
superintendentes executivos, os
gerentes de departamentos. O pró-
prio chefe do departamento procura
fazer isso, porque ele sabe que vai
ser importante na formação das
pessoas.
Arnaldo
— Mas há abertura para
quem deseja trocar de área esponta-
neamente?
André
— A abertura é total. É um
processo muito aberto. É algo natu-
ral, da carreira.
Glaucimar
— Outro fato que acre-
dito ter auxiliado nesse
job rota-
tion
são as aquisições. Ao longo
dos anos, elas têm um valor im-
portante. São pessoas do mercado
que vieram com uma visão dife-
rente. O Bradesco abre as portas
para que as pessoas se desenvol-
vam e cheguem até aos cargos de
direção.
André
— Tivemos o caso de um
ex-presidente, o Marcos Cipriano,
que veio de um banco da Bahia.
Arna ldo
— O senhor tocou em
uma palavra forte, que é disciplina.
Como o Bradesco está lidando com
essa nova geração de profissionais,
que é mais resistente à hierarquia,
muda muito de emprego e almeja
trabalhar em estruturas mais hori-
zontais?
André
— Tenho uma visão talvez
um pouco
sui generis
com a relação
a isso. Não sei se as diferenças
são tão grandes assim, de geração
em geração. É lógico que há dife-
renças. Estamos diante de uma
geração que, praticamente, nasceu
dentro da internet, com habilida-
des que a geração anterior não ti-
nha. Agora, há alguns valores que
são perenes. Todo jovem, tanto o
de hoje quanto o de há 30 anos,
tem como objetivo alcançar o su-
cesso naquilo que faz. Então, a cul-
tura do Bradesco, de privilegiar a
prata da casa, cria uma motivação
muito grande. O jovem que entra
no Bradesco hoje, assim como há
40 anos, tem aquela garra, aquela
gana de ter sucesso no que faz e
vencer na vida.
Arna ldo
— Mas essa garra não
pode criar uma ansiedade exces-
siva e motivar o jovem a mudar de
emprego?
André
— Quando a pessoa entra
no banco e entende nossa política
de carreira, começa a se dar conta
de que talvez não seja o melhor
negócio trocar de emprego a cada
dois anos, mas sim investir na
sua carreira no banco. Nas pesqui-
sas de mercado, invariavelmente
estamos entre as melhores em-
presas para se trabalhar no país.
Inclusive numa pesquisa recente
sobre as melhores empresas para
começar a trabalhar, o Bradesco
também se destaca. A oportuni-
dade que o jovem tem dentro do
Bradesco é uma qualidade sempre
muito ressaltada. Muitas vezes,
o jovem que está numa empresa
e quer progredir, precisa mudar
de empresa. Isso não acontece no
banco. Já o aspecto da disciplina
virou um certo tabu. Mas não vejo
isso no dia a dia. É claro que a edu-
cação que o jovem recebe em casa,
hoje, é diferente da maneira como
a geração anterior foi criada. De
alguma forma, as empresas vão se
adaptando a isso. O jovem quer ser
ouvido, dar opinião. E as empresas
precisam disso, precisam ouvir o
que ele tem a dizer. São diferenças
positivas. Por outro lado, o jovem,
quando entra no mercado de tra-
ba l ho, começa a ref let i r sobre
alguns aspectos da vida profissio-
nal. Disciplina é um deles.
É bom lembrar que não existe nenhuma
universidade que forma bancário e, como o
Bradesco tem essa cultura de contratar
recém-formado, é preciso capacitar a pessoa