janeiro/fevereirode2013|
RevistadaESPM
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Daqui a 20 anos, você terá equipamen-
tos, no seu bolso, mais espertos que
seu cérebro. Você também será capaz
de ligar computadores a seu sistema
nervoso periférico usando uma pele
microelétrica. Você poderá imprimir
telas eletrônicas na superfície da pele.
Essa pele eletrônica se ligará aos ner-
vos na palma da sua mão. Os sinais
elétricos digitados na pele viajarão por
esses nervos acionando comandos ou
sendo armazenados em um computa-
dor. E vice-versa. Em algum ponto do
futuro, ao experimentar um jogo de
computador ou assistir a um anúncio,
você poderá, literalmente, sentir algo
em seu corpo, graças a um estímulo
dessas terminações nervosas.
Alexandre
—
Não estou tão certo de
que iria gostar de que um anúncio me
tocasse desse modo. O que mais seria
possível?
Pearson
— Muito do processo de
pensamento vai ser capturado nessa
mesma geração de tecnologias. Se
você criar um link e transferir todo
o seu processo de pensamento para
um computador, poderá gravar a sua
mente toda. Estamos falando de 2045,
2050, o que é um futuromais distante.
Mas capturar apenas sensações é
uma coisa razoavelmente superficial.
Poderemos fazer isso dentro de 20
anos ou antes disso.
Alexandre
—
Se pensarmos em termos
de sociedades, e não apenas do desen-
volvimento tecnológico puro, conside-
rando também economia e política, o
senhor acha que essa evolução será pre-
dominantemente positiva ou negativa?
Pearson
— É inteiramente possível ter
avanços positivos e, aomesmo tempo,
um aumento da opressão, da vigilân-
cia e da invasão de privacidade. Pode-
mos ter as duas coisas: equipamentos
fantásticos que fazem a nossa vida
muito melhor e também um governo
opressivo. A tecnologia se presta a
ambos os propósitos. Nomomento, in-
felizmente, estamos vendo evidências
de que vamos ter ambos ao mesmo
tempo. Na Europa, por exemplo, te-
mos governos que querem monitorar
cada coisa que fazemos, com a ins-
talação de câmeras para controle de
velocidade nas ruas, omonitoramento
do que você faz no seu telefone celular
e dos seus e-mails.
Alexandre
—
A tecnologia pode tor-
nar real a figura do Grande Irmão
orwelliano.
Pearson
— Há muitas invasões de
privacidade para as quais os governos
querem usar as novas tecnologias. Ve-
mos forças policiais pedindopara usar
veículos teleguiados que os militares
utilizam no Afeganistão para nos mo-
nitorar. Temos grandes empresas de
TI, como a Apple, tentando ajudá-las
ao inventar novas tecnologias que per-
mitam inabilitar todos os
smartphones
em uma área, apenas enviando um
sinal especial.
Alexandre
—
Não sei qual é a expressão
certa para isso, mas o senhor vem escre-
vendo sobre algo que poderíamos cha-
mar de imortalidade eletrônica. Quanto
tempo teremos de esperar até esse tipo de
imortalidade se tornar realidade?
Pearson
— Há um projeto que as pes-
soas do Google chamam de Projeto
2045, porque é exatamente quando
elas deverão estar atingindo essa
imortalidade eletrônica. A essa al-
tura, você terá um arquivo tão bom
da sua mente no mundo das máqui-
nas que seu corpo morrerá e você
poderá seguir em frente como uma
entidade-máquina. Acho que estão
sendo otimistas quanto ao período
de tempo. Se você quer um link tão
transparente entre seu cérebro e as
máquinas para que amaioria dos seus
pensamentos e das suas memórias
esteja acontecendo dentro do mundo
da TI, provavelmente terá de esperar
até os anos 2050. E então, 10, 15 ou 20
anos depois, vai virar rotina. Em2070,
será normal para as pessoas usar a TI
como extensão de seus cérebros. Até
certo ponto, muito de seu processo de
pensamento e muitas de suas memó-
rias estarão duplicadas ou totalmente
armazenadas no mundo da TI. Então,
seus corpos morrerão, seus cérebros
morrerão, elas perderão uma porcen-
tagem de sua mente e parte de sua
personalidade desaparecerá com ela,
mas muita coisa vai ficar no mundo
da TI. Então, será de fato uma imorta-
lidade eletrônica.
Alexandre
—
Nesse mundo que o se-
nhor vislumbra, androides terão mentes
humanas quase reais e coexistirão com
seres humanos. Isso soa como ficção
científica, algo como o filme Blade Run-
ner, com androides se confundindo com
humanos. Quão real é essa imagem?
Pearson
— Estou certo de que você
viu o filme
Eu Robô
[uma produção de
2004, inspirada numa coletânea de
contos de Isaac Asimov e ambientada
em 2035, na qual um policial tecno-
Em2070, seránormal
para as pessoas usar
aTI como extensão
de seus cérebros