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Foi o que aconteceu em 1975, quando chegou

ao Brasil o Carrefour, de origem francesa,

provocando um rebuliço no mercado de proporções

semelhantes ao que está ocorrendo agora com a

chegada do Wal-Mart . Também na época o

Carrefour foi acusado de praticar

dumping

e foi

pressionado por fornecedores. Em 20 de setembro

de 1984, a revista Veja, numa reportagem,

afirmava que o Carrefour recusava-se a participar

de acordo firmado pelos grandes supermercadistas,

no qual nenhum deles poderia cobrar muito mais

barato que os outros participantes do acordo. Os

preços do Carrefour eram tão baixos que muitos

comerciantes preferiam comprar da rede, ao invés

do fabricante. Nesse mesmo período a C&A

revolucionava o comércio de vestuário como, anos

antes, o Makro havia revolucionado o comércio

atacadista.

A roda do varejo, no Brasil

Mais do que em qualquer outro setor da

economia, é no varejo que essas reviravoltas

parecem ocorrer mais dramaticamente.

Talvez pelo contato próximo com o mercado

do consumidor final, destino último de todo bem

ou serviço produzido, o varejo continuadamente

está se adaptando às mudanças na cultura,

tecnologia e economia. Para atender e satisfazer

as expectativas mutáveis dos consumidores, as

instituições de varejo devem ser muito dinâmicas.

Com o decorrer do tempo algumas formas de varejo

tornam-se obsoletas. O Prof. Marcos Cobra, em

recente debate

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, oportunamente advertiu que o

sistema de auto-serviço outrora considerado um

sistema

hich-tech

e muita prático, facilitando e

incentivando o consumidor, ao lhe dar maior

liberdade de opções e de movimento, hoje pode ser

considerado um processo de compra não mais

apropriado. Ele comenta que nada poderia ser mais

desajeitado; se não vejamos: o consumidor, precisa

sair de carro, ter a sorte e a paciência de encontrar

um lugar no estacionamento do supermercado,

entrar, pegar um "carrinho", percorrer longas

fileiras de góndolas, muitas vezes tão mal dispostas

que o coitado do consumidor deve passar várias

vezes pelo mesmo local, para completar sua lista

de compras. Aí vai ao

check-out,

tira tudo do

"carrinho", passa por uma esteira, recoloca tudo de

volta no "carrinho", volta ao estacionamento, tira do

"carrinho", põe no "carrão", vai para casa, esvazia o

"carrão"; carregado de sacolas vai ao elevador ou, se

mora em casa, deve ter algumas escadas para subir,

por fim entra e começa a guardar tudo! De fato, o Prof.

Cobra tem razão. Talvez a compra eletrônica,

comentada mais à frente e a entrega a domicílio

representem alternativas mais humanas!

Várias teorias de evolução do varejo já foram

desenvolvidas, as quais procuram dar um melhor

entendimento dessa natureza dinâmica do varejo,

defendendo explicações e prevendo mudanças nas

instituições do varejo. Uma das mais importantes

contribuições nesse sentido foi apresentada pelo Prof.

MalcolmMcNair

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da Harvard University que formula

a teoria da "roda do varejo", uma analogia que explica

a evolução cíclica do varejo à semelhança do

movimento de uma roda. Essa analogia sugere que

novos concorrentes varejistas estão sempre entrando

no mercado, oferecendo preços mais baixos, em função

dos baixos custos operacionais. Esses baixos custos

operacionais são resultado das instalações físicas mais

simples e menos serviços (alguma semelhança com os

ambulantes das grandes cidades brasileiras?)

Por causa do apelo do preço, esses varejistas

ganham aceitação do público consumidor. Na medida

em que prosperam, outros varejistas entram no

segmento. Na tentativa de manter a posição e obter

vantagem competitiva, os primeiros acrescentam

serviços e fazem propaganda, os preços sobem e a

"roda" gira deixando espaço embaixo, permitindo a

entrada de novos varejistas de baixo preço, iniciando

um novo ciclo empurrando a "roda"

(Fig. 1).

Essa teoria talvez explique a aparente

acomodação do Carrefour, no setor de auto-serviço

no Brasil. Muitos se lembram que durante a década

de 80, essa organização era identificada como

aquela de preços mais baixos. Esse benefício, óbvio,

não necessariamente foi abandonado. Mas, a

comunicação da rede, hoje, foca outros aspectos

como a excelência da marca própria, o sortimento

variado e internacional, localização e assim por

diante. Também com o Wal-Mart poderá ocorrer o

mesmo fenômeno, conforme continue a aperfeiçoar

suas operações com mais serviços e mercadorias

de melhor qua l i dade, abrindo espaço na

extremidade inferior do espectro do varejo para

novos concorrentes que possam atrair clientes com

preços mais baixos!