Revista daESPM –Março/Abril de 2002
47
meninos (azul rei). Quem convive com
crianças sabe que durante uma fase de
suas vidas essa divisão é fundamental
para eles, porque é sinônimoda afirma-
ção de sua identidade sexual. E de for-
ma mais ampla, uma campanha que
construaosignificadoparaapalavra
pre-
servação
temcomoobjetodevalor adi-
ferença da sexualidade, que é o que ga-
rante a continuidade das espécies.
Isso evidencia que o cerne da cam-
panha é a ação de preservação ecológi-
ca, uma ação que precisa ser coletiva e
evoca a participação de todos ali.Ape-
sar de as duas páginas estarem lado a
lado, elas não formam uma página du-
pla visualmente. Os elementos presen-
tes têmcaracterísticaspróprias.Aúnica
união entre elas está no fatode se tratar
deprotagonistascriançaseestaremden-
trod’água.Mas seuposicionamentodi-
ante da situação é diverso (visão pano-
râmica das meninas, que olham direta-
mente para o leitor enquanto omenino
estáemclose,mascomoolhar escondi-
dopelosóculosescurosparaqueoolhar
seconcentrenaquestãoda respiraçãoda
criança ser semelhante a do boto, evi-
denciando o primeiro momento de
distanciamento, que resultanoefeitode
sentidoda reflexão: “E eu?Oque estou
fazendo para preservar omeio-ambien-
teparameus filhos?”Amanipulaçãopor
intimidação chega ao seu ápice. O “de-
ver-fazer” é competência exigida neste
momento. Quanto às linhas e formas
(formante eidético), o formato dos ócu-
loséefeitodesentidodoboto.Entretanto,
nãoháumaharmonia entre as duas pági-
nas apontode formaremumapáginadu-
pla, porque é nelas que se instala o “con-
flito” da estrutura do conto proppiana e
uma fortemanipulaçãopor intimidação.
Na quarta e quinta páginas, encon-
tramosumapáginadupla, naqual a cri-
ança aparecedepéno centrodapágina,
forad’água, observandoomar eohori-
zonte que constroem a noçãode distân-
cia do conflito.A refração da luz desa-
parece. Aqui passa-sedo lugar utópico,
a luta idealista pela preservação da na-
tureza para a sanção, ou seja, a realiza-
ção desta pro-
posta sendo já
vivenciada (re-
compensa do
herói, no dizer
de Propp). Ela
está de cabelos
secos edemaiô
v e r m e l h o
inteiriço, am-
bos secos.Aqui
a criança já fez
uso dos produ-
tos da Boticá-
rio. Ela é dona
da situação. Te-
mosvisualmen-
te na página da
direita a apre-
sentação dos
produtosusados
ecertezadeuma
naturezapreser-
vada, concreti-
zada pela visão
que temos do
horizonte azul e ummar límpido. Tudo
isso aparece sintetizado em uma única
imagem: amenina em equilíbrio com a
natureza.Osgolfinhosocupamapágina
inteira e estãonohorizonte que ameni-
na provavelmente observa. A criança
consumidora se identifica com ameni-
na porque tem omesmo ponto de vista,
de frente para omar. Por isso ela apare-
ce de costas.
Abaixonapáginadaesquerda,o tex-
to verbal avisa: “ChegouBoti. Nunca é
cedo demais para amar a natureza”.
Logo, os golfinhos anteriores esta-
vam figurativizando o Boti, o boto da
Boticário que é o elemento de ligação
da criança e a ação ecológica e que ins-
tala o “programa de uso” que visa ensi-
nar às crianças consumidoras da linha
infantil deprodutosparabanhodaBoti-
cário a seremparticipantes dadefesada
naturezaedomeioambiente.Elaprote-
geanaturezaporque seuscuidadoscom
a higiene são feitos com os produtos
biodegradáveisdaBoticário,oqueacon-
tece diariamente, ela está simultanea-