Revista daESPM – Julho/Agosto de 2002
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posiçãodedestaquequeocupamoshoje,
temosconvicçãoquenossaéticadebus-
car com nossos produtos, serviços e
comportamentoempresarialpromover
o bem de cada um e do coletivo social
em que nos inserimos, ocupa posição
absolutamentedestacada.Umexemplo
aocontrárioquecomprovaoestudoque
vocês fizeram são os escândalos envol-
vendoempresasnorte-americanaseau-
ditorias.O repúdio mundial a essas
manipulações, à chamada“contabi-
lidade criativa” está recolocando a
questão da ética de volta às escolas
denegócios. Se, durante algum tem-
po, ela foi esquecida emprol deuma
pseudo maximização da eficiência
vai ficando cada vezmais claro que
se não houver a opção pela ética da
transparência, do respeito às rela-
ções por trás da busca pela compe-
titividade, os resultados serão total-
mente ineficazes.
FG –Conversando, outro dia, com
um banqueiro, ele me disse que está
tentando introduzir essa filosofia de
trabalho em sua instituição. Para co-
meçar, ele chamouas lideranças e dis-
se:“Apartirdehojeeuqueroquevocês
continuem a fazer gol, mas sem dar
canelada.”Acho que émais oumenos
o que você está falando.
Guilherme –Costumodizerque a
capacidade competitiva de uma em-
presadepende, obviamente, daquali-
dade de seus quadros e do ambiente
de confiança que se estabelece na or-
ganização para que o conhecimento
flua, seamplie e se converta emvalor
para todos.
Acapacidadedeatrairesses talen-
tos e também de construir este clima
de confiança não se coaduna com o
“estilo canelada” ou “gol demão”. É
inevitável que, no
tempo, a canelada
atinja o compa-
nheiro do lado e a
destruição do am-
biente de coopera-
ção se torna uma
realidade. Para
atrair e reter esses
talentos, precisa-
mos oferecer pelo
menos duas per-
cepções: a oportu-
nidade de que eles
podem fazer dife-
rençadentrodaor-
ganização empre-
sarial e a de que a
empresa pode fa-
zer diferença na
sociedade. Isso é
fundamental para
que ela busque o
seu espaço de rea-
lização.As pessoas
precisam sentir
queaorganização,
para a qual traba-
lham e emprestam
a sua contribuição
intelectual e emocional, pode fazer
algumadiferença.Aresponsabilidade
social corporativa, que as empresas
crescentemente vêm incorporando,
trazessamotivação,esserenovadosen-
tidoparao trabalho.
FG –Além do lucro.
Guilherme–Muitoalémdo lucro,
do salário, do bônus. Tudo isso é im-
portante porque estamos falando da
construçãodeuma empresamelhor e
deummundomelhor.Aempresapre-
cisa do resultado econômico como o
trabalhador precisa do salário, isso é
óbvio.Mas não é tudo. Há outros pa-
péis a seremdesempenhados por em-
presas e por pessoas, muito além de
apenasgerarvalormonetário.Háva-
lores subjetivos a serem gerados. As
necessidades das pessoas não são só
financeiras, principalmente quando
falamos de gente que tem um capital
intelectual importante, que reflete,
questiona, avalia, exige relevância e
significado.
SérgioEsteves– Issoquevocêestá
dizendo,Guilherme,nãoserefereape-
nas aos colaboradores, o público in-
terno da empresa. Qualquer empre-
endimento precisa que os seus
stakeholders
se esforcempara adicio-
naromelhorvalorpossívelaele,dado
um conjunto de circunstâncias. Os
stakeholders
tambémprecisam sentir
que estãoa serviçode algoque vale a
pena. Émuito ruim quando se redu-
zem as relações a um mero
utilitarismo.Hoje, estamos falandoda
responsabilidadesocial comomatéria
relativamente nova na agenda das
empresas.Masdamos toda essa ênfa-
se porque estamos preparando um
novo ambiente de gestão das empre-
sas, um ambiente capaz de enfrentar
acomplexidade,ao invésde insistirna
reduçãode escopodagestão.Um for-
necedor, apenas para dar um exem-
plo, precisa saber no que está envol-
vido ao prover insumos ou serviços
,