Maio_2002 - page 103

111
Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
tãoodiado.Eledisse: “Alex, quando
umgovernomilitar tomaconta,numa
situação difícil do país, como acon-
teceuaqui, sempreseescolhe, den-
tre os militares, o mais capaz. En-
tão, seescolheuoCasteloBranco.”
Segundoele,eraomaiscapaz.Tudo
tinhaqueacabar ali eentregar para
os civis. A escolha do sucessor já
não émais entre osmais capazes.
São aqueles generais ou coronéis,
que estão empregados na
Petrobras, na CAPEMI – estou re-
petindo palavras dele –, que esco-
lhemumcaradaáreadelesparaver
se não perdem a posição. Aí dege-
nera tudo. Ouvindo isso do general
Ludwig, eu tinha que acreditar. E
parecequeocenárioeraessemes-
mo. Tem uma certa lógica. Então,
nãoéqueacomunicaçãopiorou.Eu
acho que as pessoas eram diferen-
tes.Piorouporqueaspessoaseram
outras. Tanto que o próprio Ludwig
– que foi responsável pela comuni-
cação– foi quemabriuparaasagên-
cias; quechamouprofissionaispara
fazer o trabalho.
JR – Lembra que o Washington
Olivetto disse uma vez que o go-
verno éumproduto invendável?
Alex–Sim. Issoécomum; ouço isso
toda semana. Mas vamos voltar a
quem viveu essas experiências no
passado. Comoéque, nosEstados
Unidos, ajudamadiminuiroprecon-
ceito racial, sópara falardeum item.
PõemoSidneyPoitier em “Advinha
quem vem para o jantar”; “Aomes-
tre com carinho” etc. Então, você
está usando a indústria da comuni-
caçãopara fazerumacoisa legítima,
enaltecer uma cidadania negra e
acaba por dar resultado. Quando
terminou a guerra, os norte-ameri-
canos perseguiam os japoneses na
rua. Já havia terminado a guerra e
as pessoas continuavam com raiva
dos japoneses. Acontecia aqui no
Brasil, imagina lá. Aí fizeram um fil-
me, com dinheiro do governo fede-
ral. Era com o Spencer Tracy, que
não tinhaumbraçoe vai aumape-
quena cidadeprocurar umapessoa
que, por acaso, era um japonês.
Isso, umanodepoisde terminadaa
guerra. E ele descobre que haviam
linchadoo japonês,pelosimples fato
de ser japonês. E esse senhor, que
não tinhaumbraço, tinha idoàcida-
deparaentregarumamedalhaàque-
le japonês que tinha um filho herói
da guerra norte-americana. E a ci-
dade, só por preconceito, matou o
japonês a paulada, o pai de um he-
rói norte-americano. Issoébaseado
num fatoverídico.O filmeajudou–e
muito – a diminuir os preconceitos.
Tenho uma inveja absurda dessas
coisas.
JR – E quem decide que
Hollywoodvai fazerum filmepara
mudar a imagemdos japoneses?
Será que é papel do governo pa-
gar, incentivar ou estimular?
Alex – Absolutamente. Você acha
que é papel do governo fazer uma
campanhacontraacidentedeauto-
móveis na estrada?
JR – À primeira vista, diria que
sim.
Alex–Poiseudiriaqueépapel das
companhias de seguro, porque elas
ganham dinheiro quando nós não
batemos o carro. No entanto, o go-
verno faz porque o prejuízo da bati-
dadocarrooatingediretamente tam-
bém. Ele tem que ter plantão de
médico, enfermeiras, hospitais.Tem
tanta despesa quando a gente bate
o carro que émelhor não bater.
JR –Vamos pegar esse exemplo:
digamosquevocê tenha,como ta-
refa, fazer alguma coisa para di-
minuirosacidentes.Comoconse-
guirqueaGloboponhanoaruma
novela em que haja amensagem
paradiminuir os acidentes?
Alex –Aí estámetade domeu êxito
emetade daminha frustração. Min-
to. Estão, aí, 10% do meu êxito e
90% domeu fracasso. Quem viveu,
quando garoto, a experiência do
Frank Capra sempre acreditou que
o meio de comunicação de
Hollywood, que é útil para a socie-
dade, lápoderiaser útil aqui. “By the
way”, pelaprimeira vez, a sérieestá
sendo feita. AGlória Perez – com a
novela “Oclone”–está fazendouma
santa,maravilhosa tarefadecidada-
nia contra a droga. É de tirar o cha-
péu. Isso, sim, é o começo de uma
grandeerade comunicaçãonoBra-
sil.Sabequantoestácustandoaqui-
loparaogoverno?Zero.Sabequan-
toaquilo valeem relaçãoàs campa-
nhas pagas que se fez? 10 a 15 ve-
zesmais.
JR – Como é que se conseguiu
que isso acontecessenanovela?
Alex–Conversandocomaspessoas
daGlobo. Quantas vezes conversa-
mos com aMarluce. Não que aGló-
riaPerez tenhaobedecidoouatendi-
do – é espontâneo. Foi uma reação
dela.
JR–Masvocêprecisadacolabo-
ração da artista, da roteirista, da
“Maravilhoso
dinheiro.Gera
dinheiro.Gera
empregos.Sóque
12%dolucrovai
12%d
voar, também,em
dólares,para
fora.””
1...,93,94,95,96,97,98,99,100,101,102 104,105,106,107,108,109,110,111,112,113,...129
Powered by FlippingBook