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Revista daESPM –Maio/Junho de 2002
história, por outras áreas do conhe-
cimento que não são necessaria-
menteasuacaixinhade ferramenta
domarketing,dasegmentação.Tem
que estar olhando sociologia, tudo
isso. Nãopor umaquestão românti-
ca, mas por uma questão prática.
Em termos de personalidade, diria
que ele precisa ter duas caracterís-
ticasmarcantes.Temqueserobses-
sivo e tem que ser extremamente
competitivo,porque fazercampanha
épôr oseu fígadoparasecar nosol
e, aomesmo tempo, você tem que
ter sangue frioparaver oseu fígado
secando no sol e falar: Não. Deixa
láporque issovai servirparaganhar
a campanha.
Stalimir
– Independentemente da
ideologiadequem vocêestádefen-
dendo, porqueosproblemassão in-
ternos também.
Marcelo
– Houve um candidato,
paraquem trabalhei, quediziaose-
guinte: “O grande problema interno
da campanha é que você tem que
passar o tempo inteiroalisandoma-
cho.” Porque administrar os ciúmes
dasestrelasumacomasoutrasnão
é fácil. Essa é uma formação mais
geral.Em termos–sópara recomen-
dar –de literatura, achoquehádois
livros fundamentais.Umsobreoas-
pectoemocional eoutronoaspecto
mais geral. No aspecto emocional,
o livro
Mitosemitologiaspolíticas
de
um francês chamadoRaul Girardet,
que mostra como todo espetáculo
políticose resumeaquatroenredos
básicos.E,em termosmais finos, re-
comendo o livro
As máscaras do
comando
de um historiador inglês
queanalisaquatroestilosde lideran-
ça militar: o de Alexandre OGran-
de, doWellington, Grant e o Hitler.
E diz o seguinte: “Se um homem
convenceoutrohomemamorrerhe-
roicamenteemseunome, essecara
te convence a votar, a ir para rua
fazer boca de urna e tudo omais”.
Emmanuel
– Todas as recomenda-
çõesquevocês fizeram, sejadopon-
to de vista romântico, pragmático ou
acadêmico, eu subscreveria e diria
que servem para qualquer publicitá-
rio,qualquerprofissionaldemarketing.
Ele tem que ser informado, tem que
ler jornal, temqueserestratégico, tem
que conhecer história. De novo, en-
tendendo como eu entendo o
marketingpolíticocomoumasimples
derivação de um instrumento do
marketing, um bom profissional de
marketing será um bom profissional
demarketing político; um bom publi-
citário será um bom redator de cam-
panhaspolíticas.Eaminha formação
provou isso. Fui paraomarketingpo-
lítico por acaso. Trabalhava, sob o
comando do Sérgio Reis, para o
Bamerindus, cujodonodisse: “Quero
ser senador”. Ele tinha dinheiro para
isso e incumbiu o Sérgio de fazer a
campanha.EoSérgiosecercoudos
profissionaisdemarketingqueele
achavaqueseriamcompetentes.
Estamos falandode1989ena-
quela época ainda não tínha-
mos uma história de profissio-
naisnomarketingpolíticocomo
temoshoje.Ele juntouoqueen-
tendia ser o bom e omelhor de
pesquisa,deplanejamento,oque
era bom para produzir vídeos e
formouumaequipequenãohavia tra-
balhadocommarketingpolíticoantes.
E fizemosumacampanhaque foiven-
cedora, foimodelo.Amaioriadospro-
fissionais que trabalhou nessa cam-
panha enveredou para o marketing
político e continua até hoje. Outros
fazemmarketing político e também
trabalham em publicidade. Ou seja,
primeiro seja bom na sua profissão;
sejaapaixonadoporela,conheçabas-
tante coisa. E, se você for trabalhar
emmarketing político, será um bom
profissional.Soucontrae rejeitoade-
nominação de “marqueteiro”. Já pro-
cessei gente que me chamou de
marqueteiro; ganhei 900 saláriosmí-
nimos. Isso foi um termo criado, jus-
tamentenessaépoca,pelo jornalismo,
para denegrir os profissionais de
marketing, queatéhojeéusado.
FG
– Essa rodada final foi
antológica. Pedindo licença ao
Emmanuel, diria apenas que um
bommarqueteiro daria também um
excelente candidato…
“Querdizer, issoé
umadivulgação–
nãotemnemvalor
político.Mas,
enfim, temuma
caradevalor
políticoqueé
instrumentalizada
paraumuso
eleitoral.”