Eles
inovaram
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R E V I S T A D A E S PM –
M A I O
/
J U N H O
D E
2 0 0 6
MARCIARIGON
Professora – introdutora de
cursosdeempreendedorismono
nívelmédio
/
colegiosesi
1.Oquevocêestá
fazendo de inovador?
Como professores, somos responsáveis por
fazer os alunos descobrir o prazer de aprender
e descobrir coisas, para que seu mundo se
alargue. Sempre trabalhei em sala de aula
visando ao sucesso dos meus alunos. Acho
que inovei em educação porque olho o meu
aluno como alguém commuitos caminhos a
escolher. Em1991, tiveaoportunidadede criar
uma escola cujo foco de trabalho era o
empreendedorismo. Falar em emprende-
dorismo,naquelaépoca,emMontenegro–uma
cidadedoRioGrandedoSul, commenosde60
mil habitantes – parecia complicado. As
pessoas nem conheciam o termo – não estava
na moda – achavam que emprendedorismo
era a criação de empresas. Implantamos a
filosofiade“formarseresempreendedores,que
possam implementar mudanças de sucesso”.
Introduzimos disciplinas fundamentais para o
desenvolvimentodoser integral,como filosofia,
sociologia e psicologia, em todas as séries de
ensino médio. Os alunos trabalhavam em
equipes e as disciplinas eram vistas de forma
transdisciplinar.Todosestavamenvolvidoscom
uma questão, que devia ser resolvida durante
o bimestre; o foco era a busca de soluções
para um problema determinado. A sala era
organizada de forma que todos pudessem
desenvolver as suas habilidades: cada um
exercia o seu papel na equipe, como se fosse
numaempresa,comseusgerentesediretores
buscando resultados. Formação de empre-
endedores é coisa muito séria e procu-
rávamos fazer com que o nosso aluno fosse
criativo, autônomo, audacioso, ousado e
inovador – qualidades que formam a base do
espírito empreendedor. Buscamos apoio em
entidades como o SEBRAE (Programa de
Talentos Empreendedores) e a Associação
Junior Achievement (projetos de mini-
empresa, economia pessoal e Mese). Essas
parcerias foram importantes, porque
despertavam também nos professores uma
postura empreendedora. Em 1996, criamos
as oficinas deaprendizagem–umnovoolhar
sobre a sala de aula – e patenteamos esta
nova abordagem (ou metodologia) junto ao
Ministério da Educação – na Biblioteca
Nacional, como direito de Propriedade
Intelectual.
2. Eaí?
No ano 2000, tivemos de fechar a escola –
sonho dos alunos e professores – por ques-
tões financeiras. Mas, em 2004, fui convi-
dada pelo Dr. Rodrigo da Rocha Loures,
presidente da Federação das Indústrias do
Estado do Paraná – que conhecia o nosso
trabalho – a apresentar um projeto de escola
ao SESI Paraná. Ele foi recebido como uma
proposta inovadora e arrojada, que atendia
ao projeto de desenvolvimento previsto pela
diretoria da federação. Assim partimos para
um novo projeto voltado para a formação de
jovens empreendedores no Paraná – jovens
que possam fazer a diferença nas relações
de trabalho, que saibam ser parceiros antes
de ser empregados, e que queiram ser
criadores, em vez demeros reprodutores das
idéias alheias, gerando a nova mentalidade
de um brasileiro mais cidadão e mais
participativo. Começamos o projeto em duas
escolas-piloto: uma na Cidade Industrial de
Curitiba – e outra em São José dos Pinhais.
Essas escolas recebem alunos de diversos
setores: indicados por empresas, filhos de
funcionários do Sistema FIEPr, alunos de
programas sociais de empresas, alunos de
projetos doSESI edoSENAI edemais alunos
da comunidade, que optaram por cursar o
ensinomédionumaescoladevanguarda.Essa
misturadeorigensé interessantee,aomesmo
tempo, fundamental paraosucessodaescola
porquecolocanamesmasalao filhododono,
trabalhando com o filho do operário da em-
presa, discutindo e procurando encontrar
soluçõesparaproblemasqueafligema todos
–porque somos todoscidadãos responsáveis
pela melhoria de nosso país e de nosso
mundo. O Colégio SESI – assim denominado
– temumaparceriacomoSENAI,quequalifica
os alunos no ensino profissionalizante. Com
o sucesso das duas primeiras unidades –
medido pela satisfação dos alunos, pelos
resultados apresentados e pelo desafio
permanente aos professores, ao lidar com
esta nova abordagem – surgirammais seis
unidades, e hoje são oito os Colégios SESI no
Paraná. Na próxima semana será implantada
a nona unidade, em Guarapuava.
3. Eos resultados?
O sucesso desta inovação pode ser medido
de muitas formas. A mais importante é em
relação aos alunos: onde quer que se
apresentem, fazem diferença. Os alunos de
Montenegro, por exemplo, estão em vários
lugaresdomundo– tenhocontatocommuitos
deles– fazendodiferentescoisasquesempre
foram iguais. Eles são os melhores em
desenvolvimento de estratégias, são os
melhores em negociação, são ótimos na
criação de empresas. Vários deles, hoje com
25, 26 anos, têm seu próprio negócio ou
ampliaram os negócios da família. Nas
universidades, conquistaram láureas e
mençõesemgraumaiordoquequalqueroutra
escola. Nas residências médicas, ocupam
os primeiros lugares. Em multinacionais,
temos alunos commenos de 30 anos que já
são gerentes de grandes projetos. Quanto
aos professores também houve diferenças:
eles posicionam-se como gerentes de
resultados, mudando o enfoque da sala de
aulae resgatandooprópriovalorprofissional.
E a comunidade e os pais agradecem:
resgatamos oprazer de aprender na escola e
despertamos o empreender.