Publicitáriobrasileiro
naRomênia
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R E V I S T A D A E S PM –
M A I O
/
J U N H O
D E
2 0 0 6
Apresentadas as idéias ao cliente
(
Agência de Assuntos Estratégicos
da Romênia
) e passadas algumas
semanas, outro fax chega a minha
mesa.Concorrênciaganha.Maiores
detalhes com fulana de tal no
número x.
Fui até a mesa do diretor geral da
agência com um belo sorriso no
rosto. Afinal iríamos desenvolver
a primeira campanha contra a
evasão fiscal do país, após a der-
rocada do comunismo (naquela
época não era preciso nenhuma
comunicação deste tipo porque
não havia imposto de renda).
Incrédulo, ele leu o fax olhando
para mim sem saber o que dizer.
Comonãoestavaentendendoo seu
desapontamento, perguntei o que
estava acontecendo. Ele me disse
com muita calma que uma cam-
panha como esta poderia colocar
a agência em uma posição muito
incômoda,poisera fatoconsumado
que uma série de agências no país
– tanto locais como internacionais
– eram sonegadoras de imposto,
além de uma série de outros
empresários ligados direta ou
indiretamente à publicidade. Na
suaopinião, eramelhor nãodesen-
volvermos esta campanha. O risco
seria grande demais, pois estes
fornecedores e outras agências po-
deriam ficar enraivecidos com a
Mercury por estar tocando em um
assunto tão delicado. Desaponta-
do, voltei ao departamento de
criação, avisando que não faría-
mos a campanha. Centro-avante e
ponta-direita (a dupla que havia
ganho a concorrência) voltaram
para as suas mesas sem um sorriso
no rosto.
FAZEROU
NÃOFAZER?EIS
AQUESTÃO.
Mas a novela estava sópor começar.
Não se pode simplesmente falar não
à
Agência de Assuntos Estratégicos
da Romênia!
Muitas perguntas sur-
giriam: “Por que não?A sua agência
tem alguma coisa a esconder?Vocês
estão em dia com o fisco? Utilizam-
se de artimanhas maquiavélicas
como paraísos fiscais? Pagam bola?”
Além destas havia um sério risco de
não podermos nunca mais realizar
nenhumacampanhaparaogoverno,
influenciando ainda o desfecho de
outrasqueestávamosdesenvolvendo
para o governo e a comunidade
européia. Mas antes de seguir em
frente, entenda primeiro a idéia do
comercial.
O filme começa em alto-mar, on-
de se vê um iate de luxo em alta
velocidade. Ele está sendo dirigido
por um cidadão vestido como o
típico malandrão: pulseiras, cor-
rente e relógio de ouro, uma ca-
misa aberta, de gosto duvidoso,
mostrando os caríssimos badu-
laques além de bermuda. Ao seu
lado – ele está na parte superior
do deque – duas meninas maravi-
lhosas, a idade das duas não
somaria a dele, abraçando e bei-
jando o figura. Elas também estão
portando jóias caríssimas e se
divertindo com o bacana que não
hesita em escorregar suamão pelo
corpodeumadelas. Elepensacon-
sigomesmo: ‘Ah eu soumesmo es-
perto... com a grana que soneguei
estou numa boa. No mar, de bar-
cão, com as gatas e curtindo a
vida...’. Neste momento uma das
gatas começa a passar creme
protetor em suas costas. A câmera
se aproxima e passa do dengo da
mão da gata para a mão de um
policial que bruscamente está
acordandooelemento.Naverdade
ele estava literalmente sonhando
com ummundo que ele viveu há
pouco tempo. O sonho se tornou
pesadelo – ele foi presopor evasão
fiscal e pode ficar em cana por até
18 anos. Na prisão – depois de o
policial acordá-lodo sonhoqueum
dia foi realidade – ele caminha
pelos corredores, algemado e se
dirigindo para realizar incômodas
tarefas como lavar privadas ou
esfregar o chão. O comercial ter-
mina com a seguinte frase: Plateste
cubani, nucuani. Emportuguês ‘Pa-
gue (os seus impostos) com dinheiro
e não com anos (da sua vida)’.
Acredito que esta idéia poderia ser
usada em diversos países, já que u-
tiliza uma linguagem universal. In-
clusive se alguém aí no Brasil estiver
interessado em veicular a campanha,
é só escrever um
e-mail
...
ITÁLIA, ROMÊNIAE
REPÚBLICATCHECA
Aprovar acampanha foi um trabalhoà
parte. Nesta primeira apresentação,
expliqueiaoclientequenãorodaríamos
ocomercialnaRomênia.Omotivoera
simples:nãoencontramosnenhumdono
debarconopaís interessado em ceder
(pagoemdinheiro)assuasembarcações
para fazer parte de tal campanha. Nos
primeiros contatos, todos estavam se
mostrando abertos, simpáticos e
solícitos, mas – depois de algumas
ligações, ou mesmo encontros, e a
conseqüente informação de que seria
uma campanha contra a evasão fiscal
¯