A ética e o
Marketing da esperança
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R E V I S T A D A E S PM –
M A I O
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J U N H O
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peranças, parece haver muitos tipos
diferentes de esperanças. Para os he-
breus, por exemplo, a esperança é a
esperança de que Deus cumpra o
prometido: o destino de glória, que
Jeová garante quando manda que
Abraão se afastedos seus e constitua
Israel comonação. Éumaesperaque
já dura milênios. Alimentá-la é au-
mentar a aflição domundo; mas ne-
gá-la é desistir de tudo que foi cons-
truído pela civilização, é desprezar
os esforços dos nossos antepassados.
Esta é uma esperança dúbia. Não
resolve nosso problema; só o alarga.
Aesperançacristãédiferente: éuma
alienaçãodo futuro aos desígnios di-
vinos. É escatológica, (
ta éskhata
=
as terminações), é a fé na salvação,
na
Parusía
,na segundavindadeCris-
to, no final dos tempos, quandoSata-
nás será, afinal, derrotado. Foi inven-
tada por São Paulo, que, além de
cidadão romano, era um judeu de
cultura grega. Por isto é uma es-
perança compósita. Colocada em
segundo lugar dentre as virtudes
teologais (
fides, spes, caritas
), ela
vem antes da caridade e depois da
fé, porque depende delas. De forma
que se transmitimos ou consumimos
a esperança cristã acompanhada da
féno futurooudoamor incondicional
ao próximo, fazemos o bem, mas se
a transacionamos isoladamente,
procedemos mal: alimentamos uma
espera vazia de sentido.
AESPERANÇA
PROFÉTICA
Nem a dúbia esperança hebraica,
nem a difusa esperança cristã resol-
vem nosso problema: uma é angus-
tiante;aoutra,subalterna.Muitos filó-
sofos,desdePlatão, tentaram resolvê-
lo.Talvez só Schopenhauer, umpen-
sador que viveu na Europa esgotada
pelas guerras napoleônicas, tenha se
aproximadoda solução. Eledizmui-
tas coisas justas, mas em geral põe a
gente para baixo. Contam que era
Aesperança, lembrouVoltaire, é
oúnicoprivilégionegadoaDeus.
Platãodizqueaalmaé
formadapela sensação, pela
memóriaepelaesperança; o
presente, opassadoeo futuro.
)
)
Apalavragrega
elpís
, quese traduz
comoesperança, comoo
spen
do
latim,significa,simultaneamente,
previsão, conjecturaepreocupação.
Paraosgregos, viver significavaagir,
pensar eesperar.Masesperar é
diferentede teresperança.
)
Na obra “OMundo comoVontade de
Representação”, Schopenhauerdiz
que avidacostumaser umabusca
sem fimpela realizaçãodeesperanças.
)